Krak dos Cavaleiros

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

AS TEMPLÁRIAS – SUA EXISTÊNCIA

Está confirmado ter havido em França, ao longo de certo período, diversos Mosteiros de Freiras Templárias. Devemos salientar que isto ocorria na Idade Média, pelo que se pode concluir, não se tratar de guerreiras, mas sim e unicamente de monjas. Sabemos ter existido um mosteiro em “ La Combe-aux-Nonnains”, na Borgonha, dependendo da Comendadoria de Épailly, assim como há notícia referente à existência de Irmãs Templárias em Lyon, Ther, Metz e Arville.Contrariando a preconceituosa sociedade medieval, os Cavaleiros Templários não deixaram de pôr em prática algo que sempre os animou, o espírito de abertura e de tolerância, ao ponto de aceitarem ao seu serviço todos aqueles que, comungando o espírito templário, não podiam ou não desejavam fazer votos monásticos pelo que chegaram até a ter ao ser serviço muitos muçulmanos, tanto na Europa como na Terra Santa, sem quaisquer preconceitos.A História comprova a aceitação de senhoras na Ordem, que assim tiveram acesso a uma vida consagrada pela via iniciática, ao mesmo tempo que colaboravam na logística como elementos de retaguarda.Devemos adiantar que, em Tomar, há conhecimento de terem havido Templárias – já na recuada era de 1271 –, como escreve Frei Bernardo da Costa: – “uma Senhora fidalga, devota das Irmãs Templárias, lhes tenha feito doação das suas casas que tinha dentro da cerca do Castelo de Tomar, para que as tivessem para sempre “.Ainda a mesma fonte nos dá conhecimento de que “ com a data de 1290, há registo de uma importante doação de D. Mécia Peres, fidalga ilustríssima, que foi mulher do Cavaleiro Templário D. Estevão Pires Espinal, Comendador de Santarém. De notar que D. Mécia Peres era freira Templária, em Santa Maria do Castelo, dentro dos muros de Tomar“.Após o drama de Jacques de Molay, houve na Europa a vivência Templária na clandestinidade, ou sob outras denominações, desde o 24º Grão Mestre Frei Jean-Mac Larménius até ao 41º Grão Mestre Dom Frei Filipe de Orleães. Com este  Grão Mestre opera-se o “renascimento Templário” e surgem os actuais Estatutos pelos quais a Ordem se vem regendo, conjuntamente com a Regra de São Bernardo, a Carta de Transmissão  emitida pelo 24º Grão Mestre em 13 de Fevereiro de 1328 e, subscrita pelos Grãos Mestres seus sucessores, e ainda os Decretos Magistrais devidamente compilados e actualizados pelos Estatutos. A Ordem vê o seu maior desenvolvimento nos séculos XIX e XX e já no presente em que vivemos, ao mesmo tempo que elementos do sexo feminino continuam a ser admitidos, desempenhando elevados cargos.Conclui-se que as senhoras, como irmãs Templárias, têm já uma tradição que se pode remontar aos primeiros tempos após a fundação da Ordem.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ordem dos Pregadores



A Ordem dos Pregadores (latim: Ordo Prædicatorum, O. P.), também conhecida por Ordem dos Dominicanos ou Ordem Dominicana, é uma ordem religiosa católica que tem como objectivo a pregação da mensagem de Jesus Cristo e a conversão ao cristianismo.
Foi fundada em Toulouse, França, no ano de 1216 por São Domingos de Gusmão, sacerdote castelhano (actual Espanha), o qual era originário de Caleruega.
Os dominicanos não são monges, mas sim religiosos: realizam voto de pobreza, castidade e obediência. Vivem em comunidade, que se designam por conventos e não como abadias ou mosteiros. Os seus conventos são tradicionalmente junto das cidades.
Origem
Domingos de Gusmão nasceu em Caleruega, Castela, tendo cedo descoberto a sua vocação religiosa. Estudou em Palencia e tornou-se cónego no Cabido de Osma. O seu bispo Diego foi enviado à Dinamarca a negociar o casamento de uma princesa com o filho do rei e Domingos acompanhou-o. No regresso, ao passarem pelo sul de França depararam-se com um cenário de verdadeira guerra civil, provocada pela grande influência das heresias dos albigenses também chamados cátaros em toda a zona designada como Languedoc. Demorando-se pela região, os dois descobriram que a pregação e esforços dos legados do Papa Inocêncio III enviados para tentar demover as heresias e levar as populações novamente para o seio da Igreja não resultavam. Tal devia-se ao facto de aqueles enviados se apresentarem com todas as suas honras, mordomias e autoridade face a heréticos que pregavam e viviam uma vida de simplicidade, informalismo e cujas teorias advogavam um cristianismo baseado na humildade e vida comunitária.
Domingos e Diego envolveram-se na pregação, utilizando as mesmas técnicas dos heréticos: despidos de qualquer sinal de autoridade, falando uma linguagem que todos compreendiam, disputando debates públicos, em praças, igrejas, e mesmo tabernas. O seu sucesso foi imediato. Convenceram os legados papais e alguns monges cistercienses a segui-los nos seus métodos e durante algum tempo prosseguiram a sua ação pregadora. Diego, como bispo, teve no entanto de regressar à sua Diocese falecendo pouco depois.
Domingos viu-se em pouco tempo praticamente sozinho na sua missão, percorrendo toda a região durante alguns anos, a qual se viu assolada pela guerra, em virtude de uma cruzada ter sido lançada pelo Papa, com o apoio do rei de França que pretendia conquistar a região e derrubar os senhores feudais locais, apoiantes das heresias por estas defenderem o fim da instituição eclesial e como tal deixarem de interferir nos seus poderes.
Em 1206, Domingos consegue que um grupo de mulheres convertidas da heresia se constituam como comunidade, encontrando uma casa onde se estabelecem e apoiam a missão da «santa pregação, na vila de Prouille. Foi a primeira fundação do que viria a ser a Ordem dos Pregadores.
Domingos prossegue com a sua missão e em 1216 tem um pequeno grupo de 16 seguidores, para os quais solicita, em Roma, a aprovação de uma Regra para a constituição de uma nova ordem monástica. Mas o Papa, limitado pela decisão do recente Concílio de Latrão que proibiu a aprovação de novas ordens, pretendendo de qualquer forma apoiar o projecto de Domingos, sugere que adotem a regra de Santo Agostinho, o que fazem.
Assim, em 1216 é aprovada oficialmente a constituição da Ordem dos Pregadores, uma ordem de religiosos inteiramente dedicados à missão da pregação, função até então exclusivamente reservada aos bispos.
Nesse mesmo ano, e face a um grupo ainda em formação, Domingos decide dispersar essa pequena comunidade. Uns são enviados para a Universidade de Paris, por forma a adquirirem competências de ensino, uma vez que o estudo será, para todo o sempre um elemento fundamental da ordem dominicana. Outros são enviados para Espanha, Itália, Inglaterra, Polónia a fim de fundarem novas comunidades e exercerem a pregação nos moldes originais de Domingos.
Em Roma, conheceu São Francisco de Assis, a quem se ligou em íntima amizade. Em 1218 foi a Bolonha fundar um convento, perto da Igreja de Nossa Senhora de Mascarella. Um ano depois, teve Domingos a satisfação de fundar outro na mesma cidade, sendo que este, tempos depois, veio a ser um dos mais importantes da Ordem na Itália. O exemplo de São Francisco de Assis e o admirável desenvolvimento da Ordem por ele fundada, influiu grandemente no espírito de São Domingos. Como o Patriarca de Assis, introduziu S. Domingos na sua ordem o voto de pobreza em todo o rigor.
Em 1221, em Bolonha, realiza-se o primeiro Capítulo Geral da Ordem, na qual são aprovadas as primeira regras de funcionamento, estabelecendo-se como a primeira ordem de cariz democrático, uma vez que para o desempenho de todos os cargos, do mais alto (Mestre geral) ao mais pequeno, sempre se exige a respectiva eleição. Acresce ainda uma forma dupla de governo: Capítulo, isto é assembleias em que estão presentes os responsáveis hierárquicos - Províncias, podendo aprovar as medidas que entenderem. Sendo que o capítulo geral seguinte é formado por representantes eleitos dos conventos, isto é, das «bases», com iguais poderes. E todas as medidas aprovadas apenas entram em vigor com a aprovação consecutiva de 3 capítulos gerais. Dessa forma, pretendia-se evitar «precipitações» e dar tempo a alterações de pormenor que tornassem as medidas, quando em funcionamento, já depuradas de imperfeições e devidamente testadas.
Logo na década seguinte, 1230, a Ordem teve um crescimento exponencial, contando com dezenas de conventos espalhados por toda a Europa e com milhares de membros. A razão de tal sucesso derivava de vários factores. Por um lado, as velhas formas medievais estavam em desuso e decadência, fruto sobretudo de uma crescente estabilidade política que permitia o desenvolvimento das cidades, do comércio e da cultura. Por outro era uma urgência sentida por todos, que a Igreja retomasse a sua veia de pregação, desta feita baseada no estudo, na bíblia e enfrentasse as heresias e doutrinas erradas, tanto em voga naquele tempo.
As ordens mendicantes - franciscanos e dominicanos, formam uma resposta surgida do interior da Igreja face a movimentos similares, mas que se tinham colocado à margem e sobretudo fora da Igreja. Foram portanto uma resposta a uma necessidade social politica, cultural e religiosa daqueles tempos.
As suas características eram essencialmente urbanas: vida em comunidade, vida itinerante, vida de pobreza como exemplo e pregação. Ao invés das antigas ordens religiosas, especialmente os beneditinos, dedicados ao trabalho manual e agrícola, estas novas ordens vão marcar e surgem e simultâneo com o despontar de uma nova classe, a burguesia, constituída por comerciantes, pequenos artificies, operários e serventes nas cidades. O seu carácter aberto (não elitista), mais democrático na sua organização interna, a grande mobilidade (que se conjuga no tempo e lugar com a abertura das grandes rotas comerciais na Europa) vão tornar estas ordens religiosas atractivas para toda uma nova classe social, urbana, em crescimento de literacia, ascendente social e politicamente, com novas formas de expressão na retórica, na literatura, na arte e arquitectura e na teologia.
A ordem nasceu sob o signo da Verdade (Veritas, em latim), isto é o estudo, a reflexão e a pregação da verdade revelada por Jesus Cristo e pela Igreja. Daí que não surpreenda que inúmeros membros da ordem se tenham tornado famosos teólogos, escritores e pregadores. A sua actividade de ensino e da busca e disputa intelectual, tiveram como fruto grande pensadores, e deram inúmeros contributos para a história da Europa e do mundo.
Mas esse mesmo carácter, quando foi assumido de forma dogmática, e sob o signo da autoridade, foi instrumentalizado pelo poder público dos Estados nascentes para o recorrente recrutamento de frades dominicanos para assistência e direcção do Tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, ainda que também alguns deles tivessem sido dele vítimas. Assim, o Papa Gregório IX, em 20 de abril de 1233, editou duas bulas que marcaram o início da Inquisição, instituição da Igreja Católica Romana que por vários séculos contribuiu para perseguir, torturar e matar vários de seus inimigos, sob a acusação de professar heresias. Uma das bulas, a "Licet ad capiendos", dirigida aos dominicanos, inquisidores, para eles dispunha: "Onde quer que os ocorra pregar estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privar-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis".

Antroposofia



Também chamada de "ciência espiritual" , a Antroposofia ("conhecimento do ser humano") é uma filosofia e uma prática que foi erigida por Rudolf Steiner. Ele a apresenta como um caminho para se trilhar em busca da verdade que preenche o abismo historicamente criado desde a escolástica entre fé e ciência. Na visão de Steiner a realidade surge no encontro dos mundos da idéia e da percepção.
Steiner coloca que, ao se pensar sobre o pensar começamos a fazer acesso a uma consciência diferente da cotidiana. A primeira experiência que podemos ter de um conceito que não encontra correspondente nas percepções do mundo é a vivência do próprio Eu. É a primeira instância de uma experiência no puro pensar. A partir daí muito mais pode ser vivenciado no puro pensar, vários conceitos que não encontram correspondentes em percepções físicas, mas para isso Steiner diz ser necessário ampliar nossa a capacidade de nossa consciência e apresenta exercícios para tal.
A base epistemológica da antroposofia está contida na obra A Filosofia da Liberdade, assim como em sua tese de doutorado, Verdade e ciência. Estes e vários outros livros de Steiner anteciparam a gradual superação do idealismo cartesiano e do subjetivismo kantiano da filosofia do século XX. Assim como Edmund Husserl e Ortega y Gasset, Steiner foi profundamente influenciado pelos trabalhos de Franz Brentano, e havia lido Wilhelm Dilthey em detalhe. Por meio de seus primeiros livros, de cunho epistemológico e filosófico, Steiner tornou-se um dos primeiros filósofos europeus a superar a ruptura entre sujeito e objeto que Descartes, a física clássica, e várias forças históricas complexas gravaram na mente humana ao longo de vários séculos.
Steiner definiu a antroposofia como "um caminho de conhecimento para guiar o espiritual do ser humano ao espiritual do universo." O objetivo do antropósofo é tornar-se "mais humano", ao aumentar sua consciência e deliberar sobre seus pensamentos e ações; ou seja, tornar-se um ser "espiritualmente livre".
Steiner ministrou vários ciclos de palestras para médicos, a partir dos quais surgiu um movimento de medicina antroposófica que se espalhou pelo mundo e agora inclui milhares de médicos, psicólogos e terapeutas, e que possui seus próprios hospitais e universidades médicas. Outras vertentes práticas da antroposofia incluem: a arquitetura orgânica (a sede da Sociedade Antroposófica Geral, o Goetheanum, em Dornach, Suíça, é uma amostra dessa arquitetura), a agricultura biodinâmica, a educação infantil e juvenil (pedagogia Waldorf), a farmácia antroposófica, que é uma extensão da homeopática (Wala, Weleda, Sirimim), a nova arte da euritmia ("o movimento como verbo e som visíveis"), e a pedagogia curativa e terapêutica social, em que se destacam os centros denominados Vilas Camphill. O site da Sociedade Antroposófica no Brasil contém inúmeros detalhes sobre todas essas e outras aplicações práticas da Antroposofia.
A obra completa de Steiner, toda publicada, contém cerca de 350 volumes com seus livros e ciclos com as mais de 6.000 palestras que foram estenografadas.
A antroposofia possui seus detratores. Os críticos designaram-na como um culto com similaridades em relação aos movimentos da Nova Era. Não existe culto dentro da Antroposofia mas, mesmo se existisse, seria um que fortemente enfatiza a liberdade individual. Ainda, alguns críticos sustentam que os antropósofos tendem a elevar as opiniões pessoais de Steiner, muitas das quais são estranhas às visões das religiões ortodoxas, da ciência e das humanidades, ao nível de verdades absolutas. Se existe alguma verdade nesta crítica, a maior parte da culpa pertence não a Steiner, mas a seus seguidores. Steiner freqüentemente estimulou seus seguidores a testarem tudo o que ele dizia, e em muitas ocasiões, até mesmo escreveu e implorou a eles que não tomassem nada do que dissesse com base na fé ou autoridade.
Outra crítica afirma que alguns antropósofos parecem distanciar suas atividades públicas da possível inferência de que a antroposofia é baseada sobre elementos esotéricos religiosos, tendendo a apresentá-los ao público como uma filosofia acadêmica não-sectária. Uma dificuldade em avaliar essa crítica é que ela contém um preconceito oculto porque ignora uma questão que a antroposofia procurou levantar e responder: é possível, para aquele que pensa, ser ao mesmo tempo tanto cientificamente quanto espiritualmente cognitivo? A antroposofia afirma que isso é possível. A crítica supramencionada, por outro lado, assume que isso não é possível e, portanto, encontra uma contradição entre a afirmação de um não-sectarismo e um embasamento na experiência supra-sensível.

Nicolas Flamel

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Nicolas Flamel foi um alquimista francês que viveu entre os séculos XIII e XIV. No entanto, sua biografia é repleta de lacunas que dão vazão às inúmeras especulações. Sabe-se que nasceu na cidade francesa de Pontoise em 1330. No início de sua juventude, após a perda dos pais, foi à Paris trabalhar e casou-se com a viúva Perrenelle; mulher ligeiramente mais velha, dona de uma inteligência e astúcia ímpares.
A partir deste momento, até sua morte, os fatos da vida de Flamel se combinam com lendas e geram uma aura mística em torno de sua figura, mas que, no entanto, não se pode atribuir credibilidade sem antes uma pesquisa mais profunda e criteriosa.


A Iniciação

Seu contato com a alquimia se inicia em torno de 1370 quando, então aos quarenta anos de idade e proprietário de uma livraria, Flamel sonha com um anjo lhe entregando um livro misterioso. Pouco tempo depois, um homem desconhecido entra em sua livraria e oferece-lhe um antigo manuscrito. Flamel identificou aquele livro como o que lhe fora entregue pelo anjo durante o sonho e comprou-o imediatamente.
Segundo sua própria citação: "Quando faleceram meus pais tive que ganhar o pão escrevendo; naquele tempo adquiri um livro dourado, muito velho e volumoso. O livro compunha-se de três fascículos de sete folhas cada um e a sétima folha de cada um aparecia em branco. Na primeira folha via-se um báculo em torno do qual apareciam enroscadas duas serpentes; na segunda, uma cruz da qual pendia outra serpente e na sétima podia ver-se um deserto, no centro do qual brotavam formosas fontes; porém delas não saiam água senão serpentes que se arrastavam em todas as direções".
A iniciação é narrada pelo próprio Flamel com as seguintes palavras: "Todavia trabalhei uns três anos, até que finalmente encontrei o elixir (havia trabalhado 21 anos) que imediatamente se reconhece por seu forte odor. Primeiro o projetei sobre uma libra e meia de mercúrio e obtive desse modo igual quantidade de prata; isso ocorreu em minha casa, estando presente unicamente minha esposa Perenelle; mais tarde, atendo-me escrupulosamente a cada palavra de meu livro, projetei a pedra vermelha sobre uma quantidade quase igual de mercúrio na mesma casa e de novo estava presente minha esposa Perenelle. Realizei a obra por três vezes com a ajuda de Perenelle, pois como havia-me ajudado no trabalho, o entendia exatamente como eu"
Ainda sobre o enigmático escrito, Flamel cita que constava o método de transmutação de metais. Ilustrando esta técnica, havia a representação de dois recipientes e da Pedra Filosofal. Uma menção mais consistente, porém, tão misteriosa diz que "Um rosal florido no meio do jardim; no solo junto às rosas uma fonte da qual emanava água branquíssima, que logo a uma distância respeitável precipitava-se num abismo. Muitas pessoas cavavam ao longo de seu curso, com as mãos na terra, tratando de encontrar a fonte, porém não conseguiam êxito porque eram cegas; somente um foi capaz – ele encontrou a água".
Esta descrição pode representar alegoricamente a rosa como indicador da cristalização dos corpos solares e a fonte como a "fonte da água viva". Assim, a humanidade, mesmo tendo a fonte ao alcance, não possui discernimento para compreendê-la e acaba por desperdiçá-la. Desse modo, somente o "Iniciado" ou o "Desperto" teria lucidez para percebê-la e interpretá-la como um elemento essencial na composição alquímica.
Assim iniciam-se seus estudos baseado no conteúdo da obra. No entanto, sem possuir conhecimento necessário para interpretá-lo e decifrá-lo, não atinge um nível de conhecimento suficiente para prosseguir.


A peregrinação alquímica

Buscando orientação, Flamel produz cópias de alguns trechos e símbolos do misterioso livro e parte para a Espanha, em peregrinação ao sepulcro de São Thiago. Lá, com a ajuda de um sábio judeu conhecido por Mestre Canches, consegue decifrar algumas passagens e concluir que se tratava de textos e representações gráficas sobre Cabala e Alquimia, incluindo ainda uma fórmula para elaboração da Pedra Filosofal. Sendo, aparentemente, da autoria de Abraão – O Judeu.
Canches ainda tentou acompanhar Flamel de volta à França para dar continuidade aos trabalhos de tradução e interpretação do manuscrito. No entanto, devido à idade avançada e à saúde debilitada, faleceu antes de concluir a viagem.
O alquimista teria compreendido o sentido dos processos alquímicos, mas não havia elucidado totalmente as matérias componentes. O completo entendimento só foi possível com o auxílio de Perrenelle; fato que pode aludir à necessidade da presença feminina para o total desenvolvimento da técnica e obtenção da "Grande Obra".
Nos anos seguintes, desenvolve as técnicas de transmutação de metais em prata e ouro. Assim, torna-se possível dedicar-se às atividades filantrópicas como a construção de hospitais, abrigos e cemitérios nos quais, ocultos na ornamentação arquitetônica, encontram-se diversos símbolos alquímicos. Porém, não há registros de que, em momento algum, Flamel e Perrenelle tenham usado as técnicas aprendidas ou os resultados obtidos para benefício próprio.
Um fato interessante é que o alquimista, talvez motivado por uma certa vaidade, sempre que uma capela, hospital, cemitério ou abrigo fosse concluído, encomendava a um escultor que representasse sua figura em duas situações distintas: uma jovial e uma outra já com aparência envelhecida e debilitada. Essa duas esculturas eram postas em locais de destaque como parte da decoração.
Conta-se que Flamel e sua esposa Perrenelle, mesmo com o passar dos anos, desfrutavam de uma saúde surpreendentemente vigorosa. A este fato atribuí-se à supostas fórmulas (como o elixir da juventude) que teria desenvolvido. Flamel passou os últimos dias de sua vida fazendo anotações sobre alquimia. Faleceu em 22 de março de 1418 e sua lápide, que havia sido encomendada poucos dias antes, trazia esculpido um sol, uma chave e um livro, em mais uma referência à simbologia alquímica. Sua casa foi invadida e saqueada por populares e mercenários que buscavam metais nobres, jóias e as supostas poções da juventude e vida eterna.


Lendas e legado

Sua obra escrita também é bem rica. O Livro das figuras Hieroglíficas (1399), O Sumário Filosófico (1409) e Saltério Químico de 1414 são referências de seus estudos e práticas alquímicas ao longo dos anos. A Biblioteca Nacional, em Paris, contém manuscritos do próprio punho de Flamel; além de registros oficiais como sua certidão de casamento.
Uma espécie de testamento teria sido deixado por Flamel a um sobrinho. Este escrito contém inúmeras anotações feitas sobre os mistérios da alquimia, redigidas pelo próprio alquimista através de um alfabeto codificado com 96 letras, ao longo dos anos de estudo e prática. O Testamento de Nicolas Flamel foi compilado na França em meados do século XVIII e copiado por um escrivão de nome Father Pernetti, para ser "decodificado" posteriormente. Finalmente, publicado em Londres no início do século XIX.
Por outro lado, o manuscrito de Abraão teria sido dado por Flamel a um sobrinho de nome Perrier. Mas a história não faz referência nem traz registros ao sobrinho. Durante o reinado de Luis XIII, um jovem de nome Dubois, supostamente descendente de Flamel, tinha em seu poder um pó através do qual, na presença do próprio rei, convertia chumbo em ouro.
Dubois foi encaminhado a um interrogatório com o Cardeal Richelieu. Argumentando que possuía o pó, mas não saberia compreender os escritos de seu antepassado e tampouco reproduzir aquela substância, Dubois teve seus bens confiscados pela igreja e foi condenado à morte por suposta bruxaria. Entretanto, o manuscrito de Abraão teria sido encontrado em poder de Dubois e, após sua condenação, subtraído por Richelieu.
Conta-se que o Cardeal levou o livro para o Castelo de Rueil onde passou a estudá-lo por muitos anos sem atingir qualquer resultado. Após a morte de Richelieu, não houve mais nenhum registro ao paradeiro do velho manuscrito.
Nesta mesma época, o túmulo de Flamel teria sido violado por ladrões que se surpreenderam ao constatar que não havia um corpo ou tampouco vestígios de que um dia aquele túmulo havia sido ocupado. Este fato gerou o boato de que o alquimista nunca teria morrido. Em outra situação, durante o reinado de Luis XIX, um arqueólogo de nome Paul Lucas havia sido solicitado pelo próprio rei a pesquisar e colher documentos que poderiam contribuir com o desenvolvimento da ciência daquele tempo.
Durante sua pesquisa, de acordo a própria narrativa, Paul Lucas fora saqueado por ladrões que lhe destituíram todo o material acumulado. No entanto, em Voyage dans la Turquie publicado pelo próprio arqueólogo em 1719, conta que conheceu pessoalmente um "filósofo" que "aparentava não ter idade" e que fazia parte de um grupo de sete membros que vagavam pelo mundo em busca de sabedoria e que, a cada vinte anos, se reunia em um local diferente pré-determinado para trocar conhecimento. Naquela ocasião, o local era a cidade de Broussa, na Turquia.
Segundo Paul Lucas, o sábio citou que era possível ao homem viver mais de mil anos se possuísse o domínio sobre a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida. Ainda, citou que Nicolas Flamel e Abraão eram componentes daquele grupo.
De acordo com o arqueólogo, o sábio contou que Abraão havia ido à Paris encontrar um rabino que almejava atingir os estados elevados de conhecimento que o labor alquímico permitira. No entanto, antes de deixar a França, Abraão, de maneira desleal, foi morto pelo próprio rabino que, por sua vez, desejava a posse definitiva do livro. Pouco tempo depois o rabino foi condenado à morte e queimado. O livro de Abraão, misteriosamente, chegou às mãos de outro judeu que o vendeu à Flamel. Portanto, Flamel e Perrenelle ainda viviam e os respectivos funerais, realizados dois séculos antes, não eram mais que fraudes bem articuladas. Após a "morte", o casal partira para a Índia.


Flamel na História

Nicolas Flamel foi um alquimista medieval. Essa é a sentença que resume sua figura ao longo da história. Porém, como é possível compreender e concluir, Flamel foi também marido, foi um dedicado estudante dos enigmas da alquimia, um homem de coração nobre (e por vezes vaidoso) que aplicou seu conhecimento em benefício comum.
De qualquer forma, a imagem de "alquimista medieval" ainda é indissolúvel, tanto por sua obra quanto pelos séculos que a história solidificou sobre sua figura enigmática; e que, ainda hoje, é base de estudo, questionamento, divagações e admiração.

Ascetismo (filosofia)



O ascetismo ou asceticismo é uma filosofia de vida na qual são refreados os prazeres mundanos, onde se propõem a austeridade.
Aquelas que praticam um estilo de vida austero definem suas praticas como virtuosa e perseguem o objetivo de adquirir uma grande espiritualidade. Muitos ascéticos acreditam que a purificação do corpo ajuda a purificação da alma, e de fato a obter a compreensão de uma divindade ou encontrar a paz interior. Isto também pode ser obtido com a automortificação, rituais, ou uma severa renúncia ao prazer. Entretanto, ascéticos defendem que essa restrições auto-impostas trazem grande liberdade em várias áreas de suas vidas, tais como aumento das habilidades para pensar limpidamente e para resistir a potenciais impulsos destrutivos.


Etimologia
O adjetivo "ascetismo" deriva de um termo grego askesis (prática, treinamento ou exercício). Originalmente associado com qualquer forma de disciplina ou filosofia prática, o termo ascetismo significa alguém que pratica uma renúncia ao mundo com objetivo de adquirir um alto intelecto e espírito.
Muitos guerreiros e atletas, na sociedade Grega, utilizaram a disciplina askesis para conseguir uma melhor forma corporal e graça. A forma de vida, a doutrina, ou os princípios de alguém que se engaja no askesis são classificados como asceticismo.
"Ordinário" versus "extraordinário"
Max Weber fez uma distinção entre os asceticismo innerweltliche e ausserweltliche, que significam, respectivamente, "dentro do mundo" e "fora do mundo". E. Carvalho traduziu isto como "ordinário" e "extraordinário" (alguns tradutores usam "mundo interior", mas isto tem diferentes conotações no português e não é o que Weber tinha em mente).
O ascetismo "extraordinário" refere-se a pessoas que desistem do mundo para viver uma vida ascética (o que inclui os monges que vivem comunitariamente em monastérios, bem como os ermitões que vivem sozinhos). O asceticismo "Ordinário" refere-se a pessoas que vivem vidas ascéticas mas não se retiram do mundo.
Weber classificou esta distinção originalmente na Reforma Protestante, mais tarde tornou-se secularizado, assim o conceito pertence a ambos, religiosos e ascetas seculares.
David McClelland sugeriu que o asceticismo ordinário se restringe a agir contra alvos pré-identificados como prazeres que distraem pessoas de alguma inspiração divina, e podem aceitar prazeres que não sejam distracionistas. Como por exemplo, ele apontou que Quakers tem historicamente se objetado a usar roupas coloridas, apesar de que mesmo sem cores as roupas dos Quakers sejam feitas de matérias muito caras. A cores foram consideradas distracionistas, mas o material não. Amish usam critérios similares para tomarem decisões sobre que tecnologias modernas podem usar e quais devem evitar.
(McClelland, The Achieving Society, 1961)
Motivação religiosa
Asceticismo é muito associado com monges, yogis ou sacerdote, entretanto qualquer individual pode escolher levar um vida ascetica. Lao Zi, Gautama Buddha, Mahavir Swami, Santo Antonio, Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e David Augustine Baker podem ser considerados ascetas. Muitos deles deixaram as suas famílias, possessões, e lares para viver uma vida mendicante, e nos olhos de seus seguidores demonstram grande espiritualidade, ou iluminação.
Hinduismo
Na india antiga, havia uma tendência a abandonar o mundo convencional e entrar no ascetismo, que é uma vida de exclusão e renuncia, chamada tyaga ou samnyasa, estes movimentos começaram nos tempos das upanishads, refletindo um ideal, e acabando se em se tornar um problema social. Em resposta, os legisladores Hindus inventaram os ideiais em estágios da vida (ashrama). De acordo com este modelo a pessoa primeiro termina o estagio de brahmacarin - estudante, passando para grihastha cidadão ativo e somente depois se retiraria do mundo.
Um exemplo extremo de grihastha são os Sadhus, homens santos, que praticam uma forma extrema de automortificação, que ocasionalmente praticam. Suas praticas incluem atos de extrema devoção para um deidade ou principio, tais votos nunca podem ser quebrados, eles mantém um braço estendido no ar por um período de meses ou anos. Os tipos particulares de asceticismo variam de um para outro, e de homem santo para homem santo.
 Budismo
O personagem histórico Gautama Buddha adotou uma vida extremamente ascética após deixar o palácio do seu pai, onde ele vivia em extrema luxuria. Mas após experimenta-lo Buddha rejeitou o asceticismo extremo como caminho para a libertação do sofrimento (nibbana), e escolheu em vez disso um caminho que se encontra as necessidades do corpo sem cruzar os limites da luxuria e indulgência. Após abandonar o asceticismo extremo ele atingiu a iluminação. Este tipo de posicionamento se tornou conhecido como Caminho do Meio, e se tornou a base dos princípios da filosofia Budista.
Os graus de moderação sugeridos neste caminho do meio variam dependendo da interpretação do Budismo. Algumas tradições enfatizam a vida ascética mais do que outros.
O estilo de vida básico de um praticante budista (bhikkhu, monge, ou bhikkhuni, freira) como descrito no Vinaya Pitaka foi interpretado como nem excessivamente austero nem hedonista. O Monge e a freira são orientados a mantiverem requisitos básicos da vida (particularmente comida, medicina, roupas, e moradia) seguros e saudáveis, sem nunca terem problemas com a doença ou a fraqueza. Enquanto a vida descrita por Vinaya possa parecer difícil, ela deveria ser descrita como Espartana mais do que ascética. Privações para a própria santificação não são louvadas. Realmente, isto pode parecer um sinal de vinculo do que um real renuncia. O objetivo da vida monástica era evitar as preocupações com as circunstâncias materiais da vida e introduzir o monge ou freira a habilidade de se engajar na pratica religiosa. Para este fim, ter poucas posses e mais aconselhável do que não ter nenhuma.
Inicialmente, o Buddha rejeitou um número de práticas especificas de ascetismo que alguns monges queriam seguir. Esta prática — tais como dormir no chão de cremação ou em um cemitério, usar apenas trapos, etc. — foram visto inicialmente como muito extremas, sendo responsáveis a um indispor aos valores sociais que permeavam a comunidade, ou como aconteceu criando uma divisão entre os Sangha para encorajar os monges para competir na austeridade. A despeito da proibição, há registros no Pali Canon, destas praticas (conhecidas como praticas de Dhutanga, ou Thai como thudong) eventualmente tornam aceitáveis na comunidade monástica. Elas foram registradas por Buddhaghosa em seu Visuddhimagga, e mais tarde se tornaram um significativo nas praticas da Tradição Thai Florestal.
As tradições Mahayana do Budismo receberam um singular codigo de disciplina que era usado em diversos setores do Theravada. De fato, combinando significativamente com as variações culturais regionais, tendo como resultado diferentes atitudes em relação ao asceticismo em diferentes areas dos Mahayana pelo mundo. Particularmente notável é a regra em relação ao vegetarianismo empregado na Asia Ocidental, e particularmente na China e Japão. Enquanto os monges Theravada são compelidos a comer tudo que lhes possa lhes dar sustentação, incluindo carne, os monges Mahayana no Asia Oriental são frequentemente vegetarianos. Isso é atribuído a inúmeros fatores, incluindo os ensinamentos especificos de Mahayana em relação ao vegetarianismo, (a cultura oriental asiática tem as raízes de seu vegetarianismo no Confucianismo), e as divergentes formas que os monges conseguem a sobrevivência na Ásia ocidental. Enquanto tendência no sudeste da Asia e no Sri Lanka monges geralmente fazem trabalhos diários esmolando e comendo carne, monges na Asia Ocidental recebem suprimentos alimentares de doadores (ou dos fundos recebidos por eles) e são alimentados em uma cozinha localizada no local do templo ou monasterio.
Similarmente, há divergência entre as diferentes escrituras e tendências culturais como o forte ênfase ao asceticismo de algumas praticas Mahayana. O Sutra de Lotus, por sua vez, contêm uma história de um bodhisattva que se quiemou como uma oferenda à reunião de todos os Buddhas no mundo. Esta tornou-se uma história símbolo do auto-sacrifício no mundo Mahayana, provavelmente causando a inspiração da espectacular auto-cremação de monges Vietcongs Thich Quang Duc durante os idos de 1960, bem como vários outros incidentes.
Judaismo
O asceticismo é completamente rejeitado pelo Judaismo; isto é considerado contrário ao desejo de Deus para o mundo. Segundo a crença judaica, a intenção de Deus é que o mundo seja agradável, nos contextos permitidos.[1] O Talmud diz: "se uma pessoas têm a oportunidade de apreciar uma nova fruta e se recusa, ele prestará contas disto no próximo mundo".
Esta é uma ds principais diferenças entre Judaismo e Cristianismo. Alguns setores do Cristianismo, influenciados pelo gnosticismo pagão, defendem a tese que o mundo é basicamente mau (visão dualista) e deve ser evitado. Em contraste com o Judaismo defende que somente vivendo no mundo e apreciá-lo é que o ser ascenderá espiritualmente.