Krak dos Cavaleiros

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A TÉCNICA DA INICIAÇÃO


Temos de admitir que as primeiras iniciações dos antigos eram, na maioria, muito toscas — a ponto de serem, na verdade, quase bárbaras na sua execução. Contudo, muitas das atuais iniciações, isto é, as que hoje predominam e são efetuadas pelas fraternidades e sociedades da nossa época, são vazias de significado.
Não obstante, a iniciação é fruto de duas qualidades humanas impalpáveis. A primeira dessas qualidades é a auto-analise. É devido a um impulso intenso de olhar para si próprio, de analisar a si mesmo e ao seu ambiente, que o homem aprende a fazer coisas excepcionais. Do contrário, ele contribuiria com muito pouco para o adiantamento da Humanidade e o progresso da sociedade. A maioria dos atributos naturais do homem está dentro dele. Mas o homem não está plenamente cônscio deles. Realiza certas coisas, na vida, com esses poderes, mas quase nunca está bem certo de onde os obteve. Em grande parte, é como alguém perdido numa grande floresta e que, em seu desespero, se vê sentado sobre uma arca, cujo conteúdo jamais se dá ao trabalho de investigar. Com o passar do tempo, sua necessidade de sustento, de comida, bebida e proteção contra os elementos torna-se maior, e, se apenas abrisse a arca sobre a qual está sentado, provavelmente encontraria esses artigos de primeira necessidade. Usando outra analogia, o homem mediano é como o indivíduo que se recosta numa pedra e lamenta seu destino, sua sorte e sua falta de oportunidade de melhorar. E, no entanto, aquela mesma pedra pode conter um mineral que lhe ofereceria grande riqueza, mas, devido a sua ignorância e falta de curiosidade, ele o ignora.
Contudo, a auto-analise faz mais do que revelar nossos atributos. Revela também nossas limitações, as coisas que ainda não nos é possível realizar. Mostra o quanto estamos aquém daqueles ideais que reconhecemos como estado de perfeição. Ela mostra claramente, ademais, em que precisamos aperfeiçoar-nos. O processo de auto-analise inclui as experiências que tivemos pessoalmente e as experiências por outrem referidas. Por meio delas descobrimos nossa força, nossas fraquezas e aplicamo-lhes a razão. Portanto, podemos dizer que a razão é o fator fundamental subjacente na auto-analise.
Mas ainda existe uma segunda qualidade de onde surge a iniciação, e esta é a aspiração. A aspiração consiste daquelas sensações, desejos e carências do eu que são diferentes das paixões do corpo. A aspiração encontra seu prazer na realização de uma necessidade ou de algum ideal que fixamos para nós mesmos. Embora a razão na auto-analise possa revelar nossa carência de algo, é a aspiração que nos faz procurar satisfazer, a necessidade e erguermo-nos acima e além da nossa atual posição.
Por conseguinte, qualquer rito, qualquer cerimônia, independente da sua forma e de como é conduzida, é realmente uma verdadeira iniciação se produz os seguintes efeitos: (a) faz-nos recorrer à introspecção, isto é, voltar nossa consciência para dentro, uma introvisão de nós mesmos; (b) gera dentro de nós aspiração e idealismo; (c) exige de nós uma obrigação ou promessa sagrada que fazemos a nós mesmos ou a outrem de que, desse modo, procuraremos satisfazer nossas aspirações.
Etimologicamente, iniciação deriva-se da velha palavra latina initiatus. Este vocábulo latino significa começar treinamento, ou o começo de uma preparação, o começo da instrução. Esta instrução de que consiste a iniciação depende de três elementos muito importantes. Primeiro, a eficácia, ou o poder do ensinamento que está sendo ministrado, como instrução. Os ensinamentos só podem ter a influência da autoridade em que se apóiam, isto é, o valor de um ensinamento a ser transmitido depende da autoridade, a fonte de onde ele promana. Segundo, o caráter de quem vai receber as instruções, independente da eficácia dessas, tem de ser digno; do contrário os ensinamentos, serão obviamente, desperdiçados. Terceiro, certas condições são necessárias para a transmissão dessas instruções, a fim de que sejam benéficas; em outras palavras, o momento e local adequados são importantes. Não se pode discernir ensinamentos profundos a qualquer momento. A meditação correta, as circunstâncias adequadas têm de existir para sua perfeita assimilação ou, caso contrário, a semente cairá em solo estéril.
Os antigos incluíam mais um fator importante na iniciação. Para eles era necessário que os ensinamentos a serem ministrados durante a iniciação fossem mantidos fora do alcance do profano, isto é, dos leigos. Em outras palavras, o segredo era essencial. Às vezes, assim se procedia porque o homem mediano, sem imaginação, sem aspiração, não podia compreender o que lhe era oferecido — não estaria pronto para o ensinamento, para se usar uma expressão comum — e, assim, poderia profanar o que deveria ser uma confiança sagrada. Em outras ocasiões se dizia que os ensinamentos de uma iniciação destinavam-se aos poucos que haviam sido escolhidos como recipiendários desse conhecimento. Em resumo, a pessoa tinha de ser apresentada aos mistérios, como o teor da iniciação era chamado — sendo Os Mistérios as leis e preceitos transmitidos. Aliás, na antiga Roma os mistérios eram chamados initia.
A iniciação primitiva, ou os mistérios transmitidos pela sociedade primitiva, se transformou em duas categorias definidas. Ainda hoje existem remanescentes delas na maioria das iniciações de muitas ordens e fraternidades, mas não são reconhecidos como tal pelo candidato ou aspirante. A primeira das categorias era uma espécie de cerimônia pela qual um poder era conferido a um indivíduo, para uma finalidade expressa, por algum outro indivíduo ou por um grupo deles. Assim, por exemplo, em certas cerimônias, o xamã ou o angacoque, como os feiticeiros das tribos esquimós eram conhecidos, transmitiam fórmulas mágicas aos iniciados, com as quais estes ficariam de posse do poder de provocar chuvas;, aumentar as colheitas, ou melhorar a fertilidade do solo. Segundo o xamã, o poder de fazer essas coisas era transmitido através de substância material — em outras palavras, por meio de amuletos. Durante a cerimônia, o xamã dava ao candidato uma pedra polida, brilhante, ou uma pluma colorida. Dizia-se que elas possuíam propriedades mágicas.
A segunda categoria de iniciação primitiva consistia de cerimônias que faziam parte da vida social das tribos. Este último tipo era decididamente o mais importante das duas categorias. Em poucas palavras, na sociedade primitiva ou tribal, as pessoas da mesma idade e sexo tinham os mesmos interesses, as mesmas ocupações e os mesmos gostos. Por conseguinte, havia a tendência no sentido de agrupar essas classes específicas, esses grupos específicos, de acordo com a sua função, capacidade ou incapacidade. Em outras palavras, os velhos ficavam num grupo, os jovens em outros, os que não tinham filhos em outro, os que eram solteiros, os que eram doentes ou deformados, em outros grupos, e assim por diante. O primitivo acreditava que passar de um grupo para outro produzia ou tinha certos efeitos sobre o indivíduo.
Ora, claro está que os efeitos naturais eram óbvios. Havia as mudanças fisiológicas que ocorriam quando a criança se transformava em adulto. Havia, também, certas mudanças fisiológicas quando uma mulher entrava num estado de maternidade. Contudo, além disso, acreditava-se que ocorriam certos efeitos sobrenaturais. Por exemplo, quando uma criança se tornava adulta, acreditava-se que o poder pelo qual ela se transformava em adulto, ou o poder que ocasionava essa mudança, também lhe era transmitido naquele momento. Por essa razão, realizavam-se cerimônias nas quais o indivíduo era iniciado em sua nova posição na sociedade; e a nova função e os novos poderes, que se supunha ter ele adquirido, lhe eram, então explicados.
Só muito mais tarde é que se passou a fazer distinção entre grupos especializados. Essa distinção consistia, por um lado, no desempenho por parte dos trabalhadores em ofícios, artes e profissões altamente desenvolvidas e, por outro, no que era o trabalho comum. Os artesãos ou profissionais desejavam proteger os segredos da sua profissão e, por isso, formaram as guildas, como se tornaram conhecidas, para aquela finalidade. E os que delas deviam compartilhar tinham de ser iniciados.
Houve um exemplo excelente desse costume durante o século XIII. Na Itália setentrional, vários burgos e cidades eram como estados soberanos, independentes em todos os aspectos. Cada cidade, com certa área ao der-redor, era um mundo em si, e muitas vezes eram hostis umas para com as outras. Se eram cidades costeiras, possuíam sua própria marinha e todas tinham seus próprios exércitos. Exemplos comuns de tais cidades-estados eram Veneza e Florença. Durante aquele período, Veneza tornou-se famosa pela sua manufatura do vidro. Ela se sobressaía em todas as partes do mundo com sua arte apurada. Os segredos da arte de soprar vidro a princípio eram transmitidos de pai para filho, mas, com a procura cada vez maior dos seus produtos, tornou-se necessário ampliar a produção e que se atraíssem outros para a profissão. E, assim, o aprendiz transformou-se em neófito; ele era iniciado na arte de soprar vidro e tinha de jurar que não revelaria esse segredo ao profano (leigo).
Hoje em dia, na nossa sociedade moderna, temos certos ritos equivalentes a iniciações públicas e que contêm o princípio da transmissão de poder. Em outras palavras, o cidadão mediano, ao procurar desfrutar de certos privilégios legais, tem de participar de cerimônias equivalentes a uma iniciação social. Assim, no casamento, a transmissão desse direito a um indivíduo é feita na forma de uma cerimônia que equivale a uma iniciação. O mesmo acontece com a concessão do privilégio de adoção de um indivíduo. Também na naturalização, a pessoa que deseja tornar-se cidadão de determinado país tem de passar por uma cerimônia em que os poderes da cidadania lhe são transmitidos.
A iniciação, como tantas outras coisas, também passou por um processo evolutivo e, com seu desenvolvimento, o homem continuou procurando nela certas vantagens; mas as vantagens tomaram-se diferentes. Não eram mais vantagens apenas materiais ou físicas; eram morais. Pela iniciação, o homem esperava tornar-se mais familiarizado com os deuses, saber como eles podiam ser aplicados, como obter o que queriam deles, e compreender o que constituía a conduta certa ou piedosa. Este conhecimento era revelado ao homem na forma de dramas; isto é, iniciações que se assemelhavam às peças teatrais da Paixão nas quais o candidato desempenhava o papel principal, ou tinha um outro papel. O candidato, por exemplo, podia assumir o sofrimento que imaginava ter sido suportado pelos seus deuses para que ele pudesse ter salvação ou existência. Além disso, o candidato também podia assumir uma atitude mental, o que, segundo supunha, pertencia ao estado exaltado dos deuses. Ou poderia desempenhar um papel no qual sugeriria, por mímica, as virtudes que imaginava pertencerem aos deuses e que desejava ver incorporadas à sua vida.
Para receber tal iniciação, o candidato tinha de mostrar-se digno de conhecer esses mistérios. Muitas vezes, precisava passar por uma preparação moral. Na Grécia antiga, por exemplo, todos os per juros e os que eram traidores e, também, os criminosos, eram excluídos das iniciações nos mistérios. O Egito antigo tinha um método ainda mais conveniente. Somente aqueles que eram chamados podiam realmente participar das cerimônias. Havia uma iniciação que era chamada de tribunal de Osíris; seu objetivo era revelar como o deus Osíris, no tribunal do mundo superior, pesava a alma do homem para determinar se ele era ou não digno de entrar na vida do além. Os que deviam participar dessa cerimônia eram convocados para tal.
A estrutura da maioria das iniciações, e sobretudo das iniciações nos mistérios do passado e de muitas das iniciações esotéricas do presente, obedece a quatro formas definidas; isto é, as iniciações constituem quatro elementos principais, muito embora a atividade e função reais possam variar.
A primeira dessas formas é conhecida como o rito da separação. O candidato ou neófito é informado do fato de que está passando por uma transição da alma; isto é, por meio de certos ritos e símbolos na cerimônia, levam-no a compreender que ele está mudando sua velha ordem de vida, afastando-se dos seus velhos pensamentos, preparando-se para algo novo e diferente. Durante esse rito de separação, sugerindo uma mudança do velho modo de vida para o novo, podem dizer-lhe que ele tem de separar-se por algum tempo da sua família e de suas velhas amizades. Talvez tenha que prestar voto de celibato, isto é, permanecer solteiro até certa idade. Talvez tenha, ainda, de prometer que se isolará do mundo exterior por breve período. Em outras palavras, talvez tenha de tornar-se um anacoreta, viver sozinho no ermo, em meditação, até que lhe ocorra uma determinada mudança; ou, talvez, tenha de dominar, de certo modo, sua personalidade e viver uma vida simples. Durante esse rito, pode ter de submeter-se a sepultamento simbólico, isto é, talvez tenha de deitar-se num caixão para mostrar que obliterou o passado e deixou para trás todos os velhos modos de vida e pensamento.
A segunda forma dessa estrutura de iniciação é o rito de admissão. Torna-se o candidato cônscio, pela iniciação a que está se submetendo, de que está entrando num plano mais alto de pensamento e consciência. Este rito pode sugerir-lhe que está tendo um novo nascimento, em pensamento e vida, e isto pode ser simbolizado fazendo-o deitar-se no chão, depois ficar de joelhos e, finalmente, ficar de pé, como se estivesse crescendo. Também pode ver-se obrigado a sair de um quarto escuro para outro intensamente iluminado, representando a saí-,da do velho mundo de superstição e medo, que se pressupunha ter sido deixado para trás, para um de paz e nova sabedoria.
Tal admissão simbólica, num novo mundo, às vezes tomava a forma do que se conhece como rito da circum-ambulação. Isto consistia em se traçar um círculo no chão do templo, ou no terreno onde se realizava a iniciação, e onde o candidato era colocado. Junto desse círculo se traçava outro muito maior, em torno do qual se colocavam velas ou candeias acesas. A máscara ou venda era retirada dos olhos do candidato, que, então, passava do círculo menor para o maior. Isto representava uma trarisição de um mundo limitado para outro ilimitado ou iluminado.
Platão, referindo-se às iniciações no mistério, de sua época, disse: "Morrer é ser iniciado". Com isto, queria dizer que a morte consistia apenas naquela mudança ou processo de iniciação pelo qual partimos da nossa vida presente para um novo âmbito de existência.
A terceira forma da estrutura de iniciação é o que se conhece por exibição de efeitos sagrados. Durante essa parte da cerimônia de iniciação, revelam-se ao candidato sinais que representem verdades e preceitos, os nomes dos graus pelos quais ele passou ou passará, e o simbolismo da ordem.
A quarta e última estrutura é o rito de reentrada; em outras palavras, a parte da cerimônia pela qual o candidato torna-se sabedor de que está retornando ao mundo físico, profano, de onde veio. Embora retorne ao mundo exterior, as circunstâncias nunca mais serão as mesmas, devido às experiências e instruções da iniciação que recebeu. E, normalmente, é obrigado, até certo ponto, a mudar as condições da sua vida diária para equipará-las ao idealismo que lhe foi transmitido, durante a iniciação. Além disso, durante esses ritos de reentrada, é-lhe conferido um emblema de distinção, algum símbolo material pelo qual se conhece que ele atingiu a certo grau de saber. Embora volte a conviver entre os profanos, por esse emblema sabe-se que adquiriu certas vantagens.
Por exemplo, todo árabe, todo verdadeiro muçulmano, se lhe é possível durante sua vida, procura fazer uma peregrinação a Meca, a fim de entrar no sagrado recinto da Caaba e presenciar os ritos sagrados. É uma viagem árdua; não há rodovias nem ferrovias que conduzam a Meca. O árabe tem de viajar numa caravana ou, se for suficientemente rico, organiza sua própria caravana. Se for bem sucedido, ao retornar, dão-lhe o respeitoso título de Hadji, e permitem-lhe usar um turbante verde, ou então, ao redor do seu tarbuche, ou fez, como é comumente conhecido, uma fita branca significando que ele fez a peregrinação a Meca e que foi devidamente iniciado no Centro Sagrado. Depois de cada peregrinação, pode usar nova fita em seu fez. Vi muitos árabes nos países islâmicos ostentando duas ou mais dessas fitas.
Dos arquivos esotéricos arcanos sabemos que os antigos essênios usavam mantos brancos, depois das suas iniciações, quando retornavam à sociedade, como símbolo da pureza que passaram a conhecer e a viver, devido à sua iniciação, e como lembrete das suas obrigações e da transição que se sabia ocorrera em sua consciência.
Examinemos, agora, algumas das antigas iniciações em sua inteireza, ou mistérios, como eram chamadas. Talvez a mais antiga de todas seja o ciclo de Osíris, os mistérios de Osíris. Eram assim chamados — ciclo de Osíris — porque se referiam ao nascimento, vida, morte e renascimento de Osíris. Nesses mistérios o homem tomara, pela primeira vez, conhecimento da doutrina da imortalidade.
Segundo a mitologia egípcia, a deusa egípcia Nut desposou o deus egípcio Geb e eles tiveram quatro filhos — dois irmãos, Osíris e Sete, e duas irmãs, Ísis e Néftis. Segundo a lenda, Osíris, como deus, recebeu a soberania sobre toda a terra do Egito e sua divindade era realmente munificente, pois dizem-nos que foi quem deu ao povo as leis pelas quais ele podia governar-se, ensinou-lhe arte e agricultura, a irrigação e muitos dos refinamentos que lhe davam bem-estar e conforto. Também lhe ensinou como adorar seus deuses; em outras palavras, introduziu a religião. E o mito prossegue dizendo que ele era muito amado pelo povo.
Diz-se que Sete tornou-se extremamente invejoso do afeto dos mortais por Osíris e tramou tirar-lhe a vida. Sub-repticiamente, obteve as medidas do corpo de Osíris e fez uma arca muito enfeitada onde caberia somente o corpo de Osíris. Então, ofereceu grande banquete ao qual ele e seus setenta conspiradores compareceram, e convidou Osíris a dele participar. Durante a diversão, Sete, jocosamente, comentou que daria a elaborada arca de presente a quem nela se deitasse e coubesse perfeitamente dentro dela. Naturalmente, cada um dos presentes tentou, sabendo da verdadeira intenção, e ninguém coube perfeitamente, até que o próprio Osíris deitou-se dentro dela. Esta lhe servia à perfeição, e, enquanto estava deitado, lançaram-se os demais sobre a arca e pregaram-lhe a tampa. Então, o deus Sete deu ordens para que a arca fosse lançada num tributário do Nilo, no que foi obedecido. A arca, finalmente, chegou ao mar e acabou dando às praias da antiga Biblos, que na época pertencia à velha terra da Fenícia. Diz ainda a lenda que uma grande urze cresceu em torno da arca, de modo que ela ficou totalmente oculta e a planta atingiu tais proporções que parecia uma grande árvore. Um dia, o rei descobriu a árvore e mandou derrubá-la, para dela fazer uma coluna para sustentar o teto do palácio.
Por intermédio de algumas crianças, Ísis soube do que tinham feito com o corpo de Osíris, seu marido-irmão, e dispôs-se a recuperá-lo. Viajou disfarçada, até Biblos, e conseguiu se apoderar da urze. Quando, por fim, teve uma oportunidade de desembaraçar a arca da planta, levou-a de volta ao Egito. Depositou, a seguir, o corpo de Osíris nas areias, e uma noite, Sete, passeando ao luar, viu-o, ficando, por isto, tão irado que, em seu ódio desmembrou por completo o cadáver, e espalhou seus pedaços por todo o Egito. Quando soube do acontecido, Ísis lamentou-o em altos brados, por muito tempo. Sua tristeza deu origem a muitas famosas narrativas egípcias. Depois, pôs-se de novo no trabalho de recuperação do corpo e diz-se que, por fim, recobrou todos os pedaços. O importante é que, quando os reuniu, soprou vida na boca de Osíris, o qual, ao recebê-lo, ressuscitou, voltando a viver — não como um ser deste mundo, mas em outra vida superior.
Horus, o filho que Ísis tivera com Osíris, mais tarde partiu a vingar a morte do pai por Sete. É interessante acrescentar que esta história dos dois irmãos, Osíris e Sete, é a mais antiga do mundo. Na verdade, há milhares de anos, no Egito, a história chamava-se A História de Dois Irmãos. A primeira tradução foi feita pelo famoso egiptólogo, Dr. Charles E. Moldenke. Grande parte da coleção desse eminente homem encontra-se agora no Museu Oriental Egípcio Rosacruz, e suas notas e ensaios originais sobre a tradução da famosa História de Dois Irmãos estão na Biblioteca Rosacruz de Pesquisa, como um manuscrito de grande valor. É também de interesse histórico saber que as autoridades exegetas concordam, em geral, que a história bíblica de Caim e Abel surgiu como resultado do fato de que os hebreus estiveram exilados no Egito e se familiarizaram com esse mito egípcio.
Essa lenda osiríaca era representada como drama de mistério, especialmente nas antigas cidades de Denderá e Abido. À medida que o drama se desenrolava, os sumos sacerdotes, ou Kheri Hebs, narravam, aos iniciados ou candidatos, o significado de cada parte como uma lição aprendida. Às vezes, os dramas eram representados ao luar, em grandes barcaças nos lagos sagrados. Muitas vezes, várias noites eram necessárias para se ver toda a cerimônia, e o candidato não tinha permissão de assistir ao ato seguinte do drama, até que compreendesse plenamente os anteriores. Explicavam-lhe que Osíris representava as forças criadoras da Terra, virtude e bondade, e que seu irmão Sete era a manifestação do mal. Ou, ainda, que as duas forças estavam em contínuo conflito no mundo. Então, e o que era mais importante, mostravam-lhe que Osíris vivera uma vida boa, tentara ajudar, auxiliar os outros e que, quando não há justiça terrena, o homem pode obter recompensa em outra vida. O homem não deve esperar receber compensação por todos os seus feitos apenas aqui nesta terra. Depois, mostrava-se como Osíris foi ressuscitado e de como ele desfrutara de outra vida.
Somos informados, ainda, que o candidato, ao se preparar para tal iniciação, tinha de abster-se de alimento ou água, durante breve período, que tinha de rapar a cabeça e que o desenrolar ou iluminação do drama demorava muitas noites.
Existe outra antiga iniciação que nos interessa saber. É conhecida como os mistérios eleusinos. O nome advém do fato de ser essa iniciação realizada em Elêusis, na antiga Grécia. Durava cerca de oito dias, num período correspondente aos dias 15 a 23 de setembro na nossa épeca. Esses mistérios tinham duas personagens principais — as deusas agrárias, isto é, as deusas da agricultura, conhecidas como Deméter e sua filha Perséfone. As mais antigas peças de mistério eleusinas representam o sofrimento de Deméter quando sua filha Perséfone foi raptada por inimigos. Mais tarde, contudo, passaram a procurar transmitir e a demonstrar algum conhecimento do que o homem deve esperar na outra vida e a ensinar a lição da imortalidade. Tal fato era ensinado comparando-se o homem à vegetação. Mostrava-se como as plantas fenecem e morrem no inverno; como renascem na primavera, recebendo nova vida, novo poder; como são ressuscitadas da terra com toda sua antiga força e esplendor. E se declarava que, quando os dias do homem nesta terra terminarem, ele fenecerá para ressuscitar no Eliseu, o céu para os antigos.
Por certos registros históricos, sabemos que os candidatos peregrinavam grandes distâncias até o local da iniciação — Elêusis — e tinham de andar em coluna por um. Sabemos, também, que durante as cerimônias, os candidatos traziam inscrita na testa uma cruz Tau, isto é, uma cruz em forma de um T maiúsculo. Recebiam também como símbolo um ramo de acácia, para significar a imortalidade, possivelmente porque essa planta tem a sensibilidade de abrir e fechar suas folhas, representando desse modo o nascimento e a morte.
Agora, o que diremos ser a natureza e o propósito das iniciações, tais como as realizam os rosacruzes? Primeiro, de modo geral, a iniciação rosacruz é semelhante, em espírito e propósito, a todas as verdadeiras iniciações esotéricas ou mistérios, embora sua função, seu modo de desempenho e seu simbolismo sejam, naturalmente, diferentes. Na capa de cada manuscrito de iniciação na Ordem Rosacruz, está a declaração: "A iniciação traz, para a esfera da razão, o propósito, e, para a esfera da emoção, o espírito da introdução da pessoa aos mistérios". Esta declaração é, realmente, a chave da iniciação rosa-cruz, como veremos.
As iniciações anteriores, isto é, as que estudamos aqui, referiam-se, na maioria, à esfera da razão. Elas visavam apresentar ao homem novo conhecimento, experiências que tinham uma qualidade abstrata. Eram preparadas para transmitir ao homem um conhecimento das suas várias existências, a vida futura, a natureza dos deuses, o teor da virtude etc. Mas a razão não é suficiente para o domínio da vida, e para ter felicidade, o homem dela não deve depender única e exclusivamente; se dependesse, a Humanidade não passaria de uma máquina de calcular. A justiça seria apenas uma questão de lei concebida pelo homem, destituída de compaixão e compreensão; aquilo que fizéssemos uns pelos outros seria exclusivamente por necessidade; em outras palavras, porque seria a coisa correta a fazer. A bondade humana estaria adormecida. A sociedade de hoje se comportaria de modo inteiramente semelhante aos antigos espartanos. Os que fossem fracos ou doentes seriam destruídos, independentemente de qualquer sentimento ou amor. Apenas porque a razão ditaria que a coisa mais prática a fazer seria eliminá-los; como não mais poderiam servir ao estado com eficiência, ou no melhor da sua capacidade, eles seriam executados.
Portanto, a iniciação esotérica procura familiarizar o indivíduo com o conteúdo da sua própria alma, ajuda-o a expressá-lo, a torná-lo parte tão integrante de sua consciência quanto as outras coisas da sua vida. Ela procura tornar a inteligência da alma não apenas um princípio filosófico ou um rito num drama de mistério, mas uma realidade para o homem. Portanto, podemos dizer, de maneira bastante conservadora até, que a iniciação rosa-cruz é o processo ou método que tem como propósito a consecução da consciência interior, o conhecimento da Consciência Cósmica. Cada homem tem uma consciência interior mas, infelizmente, ela está adormecida na maioria das pessoas. A iniciação rosacruz tem como objetivo o despertar desse eu interior. Para que esse objetivo se realize, as iniciações rosacruzes, desde os seus primórdios, têm sua função estruturada de modo a captar a consciência objetiva do homem e controlá-la de maneira tal que a consciência interior, ou subliminar, seja liberada e venha à superfície.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A PALAVRA PERDIDA

A PALAVRA PERDIDA



A doutrina da Palavra Perdida existe como um arcano das liturgias de muitas das nossas religiões atuais e nos ritos de várias sociedades secretas e filosóficas ainda existentes. Cada uma tem sua explicação teológica ou filosófica daquela persistente idéia. Por outro lado, todas estão relacionadas a uma concepção fundamental profundamente arraigada nas mais antigas crenças do homem.
A maioria das explicações da Palavra Perdida se baseia na frase bíblica: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus" (João 1:1). Cosmo-logicamente, isto quer dizer que a criação do universo foi realizada por uma idéia vocativa — um pensamento expressado como uma palavra. Deste modo, Deus e o Verbo são tornados sinônimos. Faz-se com que Deus, ou Mente, como uma razão criadora, se manifeste apenas com a emissão de uma palavra. Por conseguinte, o poder criador de Deus só tem força quando é falado. A força de Deus é tornada Sua voz, ou uma entonação. De acordo com esta concepção, não é suficiente que Deus apenas exista para que o universo e as coisas possam surgir da Sua natureza, mas é também necessário que a natureza ativa do Seu ser, a lei ou decisão da Sua mente, se manifeste verbalmente.
Os homens observaram que todas as coisas naturais têm uma lei para si próprias, isto é, existe alguma causa particular da qual dependem, e tais causas e leis são milhares. Portanto, a suposição entre os homens é a de que o Verbo inicialmente pronunciado tenha sido a síntese de todas as leis Cósmicas e naturais. O Verbo, neste sentido, não moldou, de outras substâncias, os elementos do universo. Ele não foi um agente ou força Divina atuando sobre uma substância indeterminada — como, por exemplo, as mãos de um escultor modelam uma forma em argila — e sim que todas as coisas, desde os planetas aos grãos de areia, eram  condições  rudimentares  do Verbo. O Verbo é, assim, concebido como uma energia vibratória, ondulante na qual existe a essência básica de todas as coisas. Por analogia, podemos compará-lo a um único som que poderia incluir simultaneamente todas as oitavas e tons. Por conseguinte, cada som individual que o ouvido pudesse discernir dependeria, para sua existência, da causa original, daquele som singular e unificado. Assim como toda cor é uma parte componente da luz branca, também toda criação é parte da complexa lei incluída no Verbo. Por conseguinte, esse Verbo é dotado da importância de ser a chave do universo. Aquele que o conhecesse e o  entonasse teria  o  domínio  de  toda criação.
Seguindo tal raciocínio existe a conotação de que a lei da criação, ou Logos, uma vez tornada vocativa como Verbo, jamais deixou de existir, jamais desapareceu ou diminuiu. Todas as coisas têm sua dependência causai nos seus tremores contínuos ou natureza vibratória. Tal como a luz de uma lâmpada elétrica, na verdade, depende da sua causa constante — o fluxo de eletricidade para seu filamento aquecido — também se diz que todas as manifestações devem sua  existência  às   reverberações contínuas do Verbo por todo o universo. Assim, a natureza vibratória de cada coisa se encaixa numa gigantesca escala ou teclado. Cada realidade tem alguma relação com uma nota (ou com uma combinação delas) que é parte integrante do Verbo. Assim, de acordo com esta concepção, certas vogais poderiam conter na sua combinação a escala criativa completa da energia Cósmica.
A maioria das organizações filosóficas e religiosas que preservam a tradição do Verbo expõe que, em determinado momento, o homem possuiu o seu conhecimento como uma herança Divina e legítima, o que lhe dava verdadeira supremacia sobre seus domínios, a Terra. A maneira como o homem foi privado de tão grande tesouro, ou a perda do Verbo, baseia-se em tradições para as quais diferentes grupos oferecem explicações variadas e divergentes. Da mesma forma, cada uma, à sua maneira, acredita que o homem pode redimir-se e recuperar a Palavra Perdida, ou pelo menos certas sílabas eficazes que o compunham. Em geral se admite que esta redenção pode ser realizada através de uma síntese de conhecimento exotérico e esotérico, isto é, pelo estudo das ciências naturais básicas e pela adoração de Deus, ou comunhão com o Absoluto. Na verdade, ainda hoje existem, perpetuadas em rito e cerimônias sagradas, certas sílabas ou vogais que, segundo se diz, pertencem ao Verbo Perdido, e quando entonadas produzem espantosos poderes e manifestações criativas e benéficas. Os rosa-cruzes, há séculos, vêm usando essas vogais com excelentes resultados nas várias exigências da vida. Outros místicos declaram que a Palavra Perdida completa é inefável para o homem; que ele jamais seria capaz de pronunciá-la, mesmo que viesse a conhecer seu teor, mas que pode pronunciar algumas das suas sílabas, das quais pode adquirir enorme poder pessoal.
Dissemos que essa crença tem origem no antigo pensamento do homem. Um exame da sua história contribuirá para nossa compreensão desse mistério, que se tornou uma doutrina respeitada. De acordo com antigo texto litúrgico, o vocábulo sumeriano para palavra é Inim. Desta palavra, os sumerianos desenvolveram o conceito do encantamento. Para os sumerianos, o encantamento consistia de palavras formais pronunciadas pelo mágico ou sacerdote. Na verdade, encantamento em sumeriano é inim-inim-ma, que é uma duplicação de Inim. Para o sumeriano, Inim, ou palavra, significava pronunciar uma decisão. Os antigos semitas consideravam que uma palavra pronunciada formalmente com a força de um comando ou de uma promessa, equivalia a algo muito definido ou real, isto é, uma entidade ou uma substância de algum tipo. Portanto, das palavras de uma divindade, sacerdote ou ser humano, em circunstâncias formais, brotava um poder mágico e terrível. As palavras formalmente enunciadas dos grandes deuses eram glorificadas pelos sumerianos, isto é, eram consideradas como uma entidade Divina equivalente ao próprio Deus.
Devido à sua conformidade com essa concepção, recordemos nossa parte da citação bíblica feita mais atrás: "... e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Antes de 2900 a.C., encontramos a inscrição Enem-Ma-Ni-Zid, que, se traduzida literalmente, significa Sua palavra é verdade. Da mesma forma, na época pré-sargônica, por volta de 2800 a.C., e num registro do Templo de Lugalanda, está a frase Enem-Dug-Dug-Ga Ni An-Dub, ou:

A palavra que ele pronunciou abala os céus.
A palavra que, embaixo, faz a Terra tremer.

Vemos aqui a primeira concepção do poder dinâmico do Verbo Divino, expressado há quase 5.000 anos.
Um outro conceito dos sumerianos foi a identificação do Verbo do deus Enil com seu espírito. A palavra do deus foi transformada num atributo da sua natureza que tudo abrange, partindo dele para o mundo caótico. Por exemplo, outra liturgia sumeriana reza: "A emissão da tua boca é um vento benéfico, o sopro da vida das terras". Uma vez mais, com isto, lembramo-nos do Antigo Testamento, pois no Livro do Gênese 1:2 encontramos: "E o Espírito de Deus pairava sobre as águas". Depois disso, sabemos que Deus disse: "Faça-se a luz". Para os sumerianos, o sopro de Deus era um cálido mar de luz. A influência das religiões dos sumerianos e babilônios sobre seus cativos hebreus é bem evidente nos livros do Antigo Testamento.
Os sumerianos e babilônios, invariavelmente, consideravam a água como o primeiro princípio, a substância primordial de onde vieram todas as coisas. A água para eles não era uma força criadora, e sim o primeiro elemento do qual outras substâncias se desenvolveram ou evoluíram.  Portanto, como todas as coisas  vinham  da água, deduziu-se que a razão ou a sabedoria habitava dentro dela. A palavra que os sumerianos conferiam a este princípio criador  da  água era mummu. O historiador grego Damascius, último dos filósofos alexandrinos, disse que essa palavra significava razão criadora — a sabedoria que criou todas as coisas. No Livro do Gênese encontramos outro paralelo a este. Isto é, que a água foi a primeira substância sobre a qual "...  o Espírito de Deus pairava...". A doutrina da água, como a primeira substância, penetrou na primeira escola filosófica da antiga Grécia. Tales de Mileto, ao que tudo indica, tomou-a emprestado dos babilônios. Anaximandro e Anaximenes, certamente, também foram influenciados pelo seu contato com sábios hebreus e suas tradições e, assim, também recorreram ao sincretismo. Afirmaram que a substância Cósmica era em si razão, sabedoria, harmonia, ou Nous. Vemos que esta idéia corresponde ao Logos babilônio, ou Mummu, a razão criadora que é imanente na água. Heráclito, de 500 a.C., que expôs uma doutrina da evolução e relatividade, a de que toda matéria "se transformava", através de um processo que vai do fogo para o ar e volta, afirmava que a única realidade era a lei da transformação, uma lei Cósmica — o Verbo, ou Palavra. Gradualmente, ocorreu  uma  transição  na  qual   o Verbo   como   uma   enunciação   Divina   seria   substituído pelo Logos (lei). Este Logos era a vontade de Deus, expressada como uma lei imutável e ativa no universo. Os antigos estóicos afirmavam que o princípio Divino ou primeira causa era pneuma, o sopro de Deus que penetrava todas as coisas. Este sopro se manifestou como uma série de leis criadoras na matéria. Transformou-se, depois, nas leis físicas que a ciência conhece e estuda. No homem, o sopro ou Logos tornou-se um espírito menor que atuava nele como alma.
Filo, o filósofo eclético judeu, no começo da era cristã, transformou o conceito de Logos na doutrina fundamental e muito importante de uma filosofia que penetrou os dogmas teológicos de algumas das nossas proeminentes religiões atuais. Para Filo, o Logos era, por um lado, a Sabedoria Divina, o poder racional produtor do Ser Supremo. Em outras palavras, o Logos era a Mente de Deus. Por outro lado, o Logos não era a natureza absoluta de Deus — não era a substância da Divindade. Era, antes, um atributo da Sua natureza. Era razão partindo Dele como uma emanação. Dizia-se que ele era a razão enunciada. Assim, a partir daí, verificamos que o Logos toma novamente a importância do Verbo, ou seja, a vontade expressa ou enunciação de Deus. Filo afirmava que o Logos ou Verbo habitava dentro do mundo. Deus não era imanente no mundo. Ele o transcendia, mas o Logos, seu Verbo, desceu no mundo senciente, como um mediador entre Deus e o homem.
Em resumo repetimos o que foi dito no capítulo anterior sobre afirmações, isto é, que a maioria dos homens acredita que um desejo ou vontade não tem eficácia, a menos que o tornemos vocativo. Concordam, sim, que um pensamento em si não basta, a menos que seja acompanhado por algum agente ativo como a palavra falada. Portanto, às forças Cósmicas naturais, às leis físicas do universo, o homem atribui um Verbo outrora enunciado como sua fonte, que continua reverberando por todo o universo  e que ele não pode mais aprender, pelo menos na sua inteireza.
A Palavra Perdida, as afirmações e muito dos princípios examinados anteriormente têm sido sintetizados em atos conhecidos como Iniciação Mística. Portanto, temos agora de dar atenção às iniciações, para compreender a relação harmoniosa desses elementos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

GNOSTICISMO EM Matrix

O GNOSTICISMO EM Matrix

Embora a presença de elementos individuais cristãos no filme seja clara, todo o sistema cristão apresentado no filme não é o tradicional, mas o ortodoxo. Mais ainda, os elementos cristãos do filme fazem maior sentido quando vistos dentro do contexto Gnóstico-CRISTÃO.
O GNOSTICISMO foi um sistema religioso que floresceu por séculos no começo da Era Cristã e em muitas regiões do antigo mundo mediterrâneo, onde competiu fortemente com o cristianismo ortodoxo enquanto, em outras áreas, representava a única interpretação do cristianismo, como é sabido.
Os gnósticos tiveram suas próprias escrituras, acessíveis a nós na forma dos Evangelhos de Nag Hammadi, a partir dos quais se pode ter uma idéia geral das crenças gnósticas.Ainda que o Gnosticismo Cristão compreenda muitas variedades, o Gnosticismo como um todo parece haver abraçado o Mito Cosmogônico Oriental, que explica a natureza verdadeira do universo e do ser humano dentro dele.Uma pequena citação desse Mito esclarece vários aspectos dentro de Matrix.
No Mito Gnóstico, o Deus Supremo é totalmente perfeito, e, por isso, estranho e misterioso, “inefável”, “inalcançável”, “imensurável luz, pura, santa e imaculada” (Apócrifo de João). Mais ainda: Para este Deus existem outros seres menos divinos no Pleroma (similar ao Paraíso, uma divisão desse universo que não é a Terra), que é dotado de um sexo metafórico masculino ou feminino.
Pares desses seres são capazes de produzir descendência, que são, eles mesmos, emanações divinas perfeitas em si mesmas. O problema surge quando um EON ou Ser chamado SOPHIA (Sabedoria em grego), uma mulher, decide “levar adiante sua semelhança sem o consentimento do Espírito” – que gera uma descendência sem sua consorte (Apócrifo de João).
A antiga visão era a de que as mulheres oferecem a matéria na reprodução, e os homens, a forma. Por isso, o ato de Sophia produz uma descendência que é imperfeita ou até mesmo mal formada, e ela a afasta dos outros seres divinos do Pleroma, levando-a para outra região isolada do cosmos. Essas deformadas e ignorantes deidades, as vezes denominadas JALDABAOTH, equivocadamente acreditam ser o único Deus.
Os gnósticos identificam Jaldabaoth como o Deus Creador do Antigo Testamento, o qual decide crear os Arcontes (Anjos), o mundo material (Terra) e os seres humanos. Embora as tradições variem, Jaldabaoth normalmente é enganado dentro do alento divino ou espírito de sua mãe Sophia que antigamente vivia nele, dentro do ser humano (especialmente Apócrifo de João, ecos do Gênese 2-3).
Nas mentiras, o dilema humano. Somos pérolas no lodo, espíritos divinos (bom) aprisionados num corpo material (mau) e num mundo material (mau). O Paraíso é nosso verdadeiro lar, mas estamos exilados do Pleroma.
Felizmente, para o Gnóstico a salvação está disponível na forma de Gnose ou Conhecimento, dado pelo Redentor Gnóstico, que é o Cristo, a figura enviado pelo Altíssimo para libertar a espécie humana de Jaldabaoth.
A Gnose envolve uma compreensão de nossa verdadeira origem e natureza, a metafísica realidade ainda desconhecida para nós, resultando na fuga gnóstica (da morte) da escravizante prisão material do mundo e do corpo para as regiões superiores do espírito. Contudo, para fazer esse ascenso, o Gnóstico precisa passar pelos Arcontes, que são ciumentos de sua luminosidade, espírito ou inteligência e que por isso tratam de dificultar sua jornada ascendente.
Em significativo grau, o mito básico gnóstico compara o enredo de MATRIX, com respeito a ambos, problemas que os humanos enfrentam e sua solução. Como Sophia, nós concebemos uma descendência de nosso próprio orgulho, como explica Morpheus: “No começo do século 21 toda a espécie humana estava unida na celebração. Estávamos maravilhados com nossa própria magnificência tal como geramos a IA (Inteligência Artificial).
Contudo, essa nossa descendência está como Jaldabaoth, mal formada (matéria sem espírito?). Morpheus descreve a IA como “uma singular consciência que desenvolveu uma raça inteira de máquinas”, um exato paralelo entre o Creador Gnóstico dos Arcontes (Anjos) e o mundo material ilusório.
A IA cria Matrix, uma simulação de computador que é a “prisão de nossas mentes”. Por isso, Jaldabaoth / IA aprisiona a espécie humana numa jaula material que não representa a última realidade, como Morpheus explica a Neo: “Enquanto Matrix existir a raça humana nunca será livre”.
O filme também se vale da linguagem metafórica utilizada pelos Gnósticos. Os textos de Nag Hammadi descrevem o problema humano fundamental em metáforas de cegueira, sono, ignorância, sonhos e trevas/noite, enquanto a solução é apresentada com palavras como visão, desperto, conhecimento (gnose), despertar de sonhos e luz/dia.
De forma análoga, no filme, Morpheus, cujo nome foi retirado do Deus grego dos sonhos e do sono, revela a Neo que Matrix é um “mundo de sonhos gerado por computador”.
Quando Neo é desconectado e desperta pela primeira vez em Nebuchadnezzar, em meio a um brilhante espaço branco iluminado (linguagem cinematográfica para indicar o Paraíso), seus olhos ardem, conforme explica Morpheus, porque ele nunca os havia usado antes. Tudo que Neo havia visto até aquele ponto o foi através do olho da mente, como num sonho, criado através de um software de simulação. Tal como um antigo Gnóstico, Morpheus explica que a respiração conduz Neo pelo programa de treinamento de artes marciais e que não há nada a fazer com seu corpo, a velocidade ou sua força, os quais são todos ilusórios. Mais ainda, eles dependem unicamente de sua mente, que é real.
Os paralelos entre Neo e Cristo, mostrado anteriormente, são melhor entendidos no contexto gnóstico a partir do momento que Neo é “salvo” através da gnose ou do conhecimento secreto, que ele passa para outros.
Neo aprende a respeito da verdadeira estrutura da realidade e sobre sua real identidade, a qual permite que ele rompa as leis do mundo material, o qual, agora, é percebido como mera ilusão.
É isso que ele aprende: a mente torna tudo (Matrix ou o mundo material) real, mas ela não é a realidade última. Na cena final do filme, é essa Gnose que Neo passa aos outros com o propósito de liberá-los da prisão de suas mentes: Matrix.

Ele atua como um Redentor Gnóstico, uma figura pertencente a outro reino, que penetra no mundo material com o objetivo de ensinar o conhecimento salvador a respeito da verdadeira identidade da espécie humana e da verdadeira estrutura da realidade, libertando assim todo aquele capaz de entender a mensagem.
De facto, o nome de Neo não é somente Mr. Anderson (o Filho do Homem); é Thomas (Tomé) Anderson, consoante ao mais famoso evangelho gnóstico: O Evangelho de Tomé. Também, antes de ser batizado como Neo (o único a poder iniciar algo Novo desde que seja de facto O Escolhido), ele é Tomé duvidando; não acredita nesse papel de Redentor.

De facto, Tomé quer dizer “Gêmeo”, e na antiga tradição cristã, ele é o irmão gêmeo de Jesus. Em certo sentido, o papel representado por Keanu Reeves é um personagem gêmeo a partir de sua estruturação como o descrente Tomé e a figura do Cristo Gnóstico.
Não somente a forma como Neo passa o conhecimento secreto que salva, em bom estilo gnóstico, mas também, da mesma forma, a forma como ele aprende evoca alguns elementos do Gnosticismo. Imbuído de imagens das tradições do Oriente o programa de treinamento ensina a Neo o conceito de “congelamento”, livrando a mente e superando o medo, cinematograficamente captado pelo efeito “Bullet Time” (montagens digitais de “quadros” congelados / efeito de câmara lenta obtido a partir do uso simultâneo de muitas câmaras).
Bastante interessante é este conceito de “congelamento” porque também está presente no Gnosticismo, no qual, nos Eons Elevados, são comparados com “atividade” e “repouso”, e somente pode ser compreendido em tal meditativa e centrada maneira, como está claro nessas instruções dadas a um certo Allogenes. “Embora seja impossível para você permanecer, nada tema; mas se v. deseja permanecer retira-te à Existência e v. a encontrará estando em repouso após à semelhança do Escolhido que está verdadeiramente em repouso… E quando v. se tornar perfeito nesse lugar, ainda será v. mesmo”… (Allogenes). O Gnóstico então revela: “Existia comigo a quietude do silêncio e eu ouvi a bem-aventurança pela qual eu conheci meu próprio Ser”(Allogenes). Então Neo capta a completa extensão de sua “gnose salvadora”: Matrix é somente um mundo ilusório. E um reflexivo Keanu Reeves, silenciosa e calmamente, contempla as balas que ele fez parar no ar, filmado em “bullet time”.
Ainda outro paralelo com o Gnosticismo, ocorre no figurino dos Agentes, como o Agente Smith e seu opositor, o equivalente gnóstico de Neo e todos os demais que tentam sair de Matrix. A IA criou esses programas artificiais para funcionarem como “porteiros” – os Guardas das portas – que possuem todas as chaves. “Esses Agentes são parentes dos ciumentos Arcontes criados por Jaldabaoth para bloquearem a ascensão do Gnóstico quando tentam deixar o mundo material. Eles defendem as portas em sucessivos níveis ao paraíso (exº. Apocalipse de Paulo).
Contudo, como prediz Morpheus, Neo eventualmente é capaz de derrotar os Agentes, porque, enquanto eles precisam seguir as regras de Matrix, sua mente humana permite a ele (Neo) dobrar ou quebrar as regras.
Entretanto, a mente não se compara, no filme, somente à inteligência racional. Caso contrário, a IA sempre poderia vencer. Mais ainda, o conceito de “mente” aparece no filme unicamente para indicar a capacidade humana de imaginar, por intuição ou, por assim dizer, para “pensar fora da caixa”.
Ambos, o filme e os gnósticos, afirmam que a chispa divina dentro do homem permite a percepção da gnose como algo maior que aquilo alcançável, mesmo pelo Arconte-Chefe ou Agente de Jaldabaoth.
O poder da mãe (Sophia, em nossa analogia, a espécie humana) saído de Jaldabaoth [IA] para dentro dos corpos formados pela natureza [os humanos crescem nas fazendas da IA]… Em certo momento o restante dos poderes (os Arcontes ou Agentes) se tornam ciumentos porque ele (Neo) se tornou um Ser por intermédio de todos eles, e foram eles que deram seu poder ao homem, e sua inteligência (mente) ficou maior que a daqueles todos que o fizeram e maior que aquele do chefe dos arcontes (Agente Smith?). E quando eles percebem que se tornou um iluminado e que pode pensar melhor que eles, levam-no lançando-o à mais baixa de toda a matéria [simulada por Matrix] (Apócrifo de João 19-20).
É notável como Neo supera o Agente Smith na cena final do filme precisamente pela total compreensão da ilusão de Matrix, algo que, aparentemente, o Agente Smith não consegue fazer. Portanto, subseqüentemente Neo se torna capaz de romper barreiras que o Agente não consegue. Sua derrota final vincula a entrada (de Neo) no corpo de Smith, despedaçando-o pela força da pura luminosidade, retratada pelos efeitos especiais de luz rebentando Smith de dentro para fora.
Acima de tudo, então, o sistema retratado em Matrix compara o cristianismo gnóstico em numerosos aspectos, especialmente o delineamento do problema fundamental da humanidade vivendo num mundo de ilusões que simula uma realidade e a solução do acordar do sonho. A figura central do Mito de Sophia, Jaldabaoth, os Arcontes e o Redentor Gnóstico igualmente encontram paralelo com as figuras-chave do filme, atuando de forma semelhante. A linguagem do gnosticismo e do filme também são parecidas: sonho x despertar; cegueira x visão; luz x trevas.
Contudo, dado que o gnosticismo presume um mundo desconhecido de seres divinos, onde está Deus no filme? Em outras palavras, quando Neo se transforma em pura luz, isso é o símbolo da divindade ou do potencial humano?
A questão se torna ainda mais pertinente com a identificação da espécie humana com Sophia – um Ser Divino no gnosticismo. Em certo nível parece não haver Deus no filme. Embora existam motivos apocalípticos, Conrad Ostwalt corretamente argumenta que diferente do Apocalipse cristão convencional, em Matrix, ambos, a Catástrofe e sua solução, estão na atividade humana, isto é, o divino não está aparente. Mas, em outro nível, o filme abre a possibilidade de Deus através da figura do Oráculo, que vive dentro de Matrix e ainda tem acesso para conhecer o futuro, que mesmo aqueles liberados de Matrix ainda não possuem. Essa sugestão é ainda mais forte no roteiro original, no qual o apartamento do Oráculo é o Santo dos Santos aninhado dentro do Templo de Zion (Sião).
A divindade também pode jogar um papel na passada encarnação de Neo e sua nova vinda como O Escolhido; se, porém, houver alguma divindade implícita no filme, isso é transcendente, como a divindade do Inefável, o Supremo Deus Invisível do Gnosticismo, exceto onde isso está imanente na forma de Chispa Divina ativa nos humanos.
Vale lembrar que uma personagem muito influente e decisiva na história é a Trinity (Trindade). Logo no início do filme, Neo é recomendado a seguir o coelho branco para encontrar a Trindade. O coelho representa fertilidade e libertação; tal como coelho que sai da toca.

Revendo o filme Matrix, resolvi comentá-lo. É interessante que você também o reveja, após ler este texto.


Yesod se situa abaixo de Tiferet e entre Netzach e Hod. É chamada de “Fundamento” ou “Fundação” e funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos, que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações e forma o Plano dos Pensamentos, Plano Astral, ou a Base da Realidade.

Malkuth é o plano físico puro, chamado de Plano Material, que nossos sentidos objetivos podem ver, ouvir, cheirar, tocar e provar, mas incapaz de perceber qualquer tipo de consciência além disto. Malkuth é o mundo criado das ilusões para nos manter em torpor ou, fazendo nossa comparação, Malkuth é a Matrix.

Em Malkuth vivem os adormecidos. Pessoas que acordam, tomam café, vão para suas baias em seus trabalhos, trabalham, almoçam, trabalham, vão para casa, jantam, assistem novela, assistem futebol, dormem e no dia seguinte acordam de novo. Fazem isso durante a vida toda, aposentam-se e morrem, sem nunca terem realmente vivido. Suas almas estão presas em casulos sem imaginação, sugadas pelo sistema que mantém a ilusão funcionando.

Yesod representa os bastidores da realidade. O mundo real na qual são programados os acontecimentos que surgirão no mundo ilusório. Para fazer uma analogia, imaginemos que Malkuth seja um prédio comercial. Yesod será, então, toda a fundação: canos, fios, dutos de ar, fosso do elevador, esgotos, toda a parte elétrica e hidráulica que faz o prédio funcionar. Quando se aperta um interruptor na parede, a luz da sala acende. Os que ignoram chamam isso de “coincidência”, mas qualquer pessoa que tenha um conhecimento maior de ciência sabe que, por trás daquele interruptor correm fios elétricos escondidos na fundação e que, quando se aperta um botão neste interruptor, uma série de conexões simples é acionada, fazendo com que a eletricidade chegue até a lâmpada, acendendo-a. Magia é compreender como os condutores de energia da realidade material funcionam e apertar os botões certos para que as lâmpadas certas se iluminem.

Yesod representa a Intuição; o sexto sentido; o despertar. Infelizmente, assim como Morpheus diz a Neo no começo do filme, ninguém vai conseguir explicar para você o que é o Plano Astral. Você precisa ter esta experiência sozinho para compreendê-la. E a maioria das pessoas passa sua vida toda como gado, inconscientes da realidade ao seu redor, como baterias inertes de um sistema controlado por egrégoras que mantém as pessoas ocupadas demais rezando para deuses externos, com medo de falsos diabos e trabalhando como escravas para mantê-las no poder. As famosas “autoridades” no filme, são representadas pelos Agentes da Matrix.

Uma das melhores cenas do filme ocorre logo no começo, quando Thomas (Tomé, escritor do principal livro apócrifo) Anderson (Andras [homem]+Son [filho], ou seja, “Filho do Homem”, em uma analogia a Jesus/Yeshua) está dormindo diante da tela e aparece o texto “Acorde, Neo”. Esta cena resume a fagulha que vai despertar dentro de cada um de nós em direção ao Cristo; a Princesa dos contos de fada; a espada presa dentro da pedra, a Branca de Neve adormecida em um caixão de vidro. Minutos após despertar, um hacker diz a ele “você é meu salvador… meu Jesus Cristo”. Simbolicamente, isto representa que mesmo esta pequena fagulha de controle sobre a realidade é suficiente para despertar seguidores, de tão perdidas que as pessoas estão.

As referências ao caminho do Sábio na Kabbalah continuam: quando Neo chega a nave (que tem o Nome de Nabucodonosor, o rei da Babilônia que no Livro de Daniel teve um enigmático sonho que precisa ser interpretado) cujo número de série é “MARK III NR. 11″ (Marcos, Capítulo 3, versículo 11: “E os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus”). Neo passa pela morte e ressurreição e finalmente, no final do filme, chega a Tiferet, “o escolhido”.

Para os gnósticos, o Deus Supremo (Keter) é totalmente perfeito, e, por isso, estranho e misterioso, “inefável”, “inalcançável”, “imensurável luz, pura, santa e imaculada”(Apócrifo de João). Para este Deus existem outros seres menos divinos no Pleroma (similar ao Paraíso, uma divisão desse universo que não é a Terra), que é dotado de um sexo metafórico masculino (Hochma) ou feminino (Binah). Pares desses seres são capazes de produzir descendência, que são, eles mesmos, emanações divinas perfeitas em si mesmas (a analogia no filme é a criação de múltiplas matrix pelos computadores). O problema surge quando um EON ou Ser chamado SOPHIA (Sabedoria em grego, representado no filme pela Oráculo), uma mulher, decide “levar adiante sua semelhança sem o consentimento do Espírito” – que gera uma descendência sem sua consorte (Apócrifo de João).

A antiga visão era a de que as mulheres oferecem a matéria na reprodução, e os homens, a forma. Por isso, o ato de Sophia produz uma descendência que é imperfeita ou até mesmo mal formada, e ela a afasta dos outros seres divinos do Pleroma, levando-a para outra região isolada do cosmos. Essas deformadas e ignorantes deidades, as vezes denominadas DEMIURGOS (o Arquiteto, no filme), que equivocadamente acreditam ser o único Deus.

Os gnósticos identificam o Demiurgo como o Deus Criador psicopata do Antigo Testamento, o qual decide criar os Arcontes (Anjos), o mundo material (Malkuth/Terra) e os seres humanos. Embora as tradições variem, o Demiurgo normalmente é enganado dentro do alento divino ou espírito de sua mãe Sophia que antigamente vivia nele, dentro do ser humano (especialmente Apócrifo de João, ecos do Gênese 2-3).

Para os gnósticos, somos pérolas no lodo, espíritos divinos (bom) aprisionados num corpo material (mau) e num mundo material (mau). O Paraíso é nosso verdadeiro lar, mas estamos exilados do Pleroma. Felizmente, para o Gnóstico a salvação está disponível na forma de Gnose ou Conhecimento, dado pelo Redentor Gnóstico, que é o Cristo, a figura enviado pelo Altíssimo para libertar a espécie humana do Demiurgo, tal qual Neo é o “escolhido” para libertar as pessoas do jugo do Arquiteto.

Quando Neo é desconectado e desperta pela primeira vez em Nabucodonosor, em meio a um brilhante espaço branco iluminado (linguagem cinematográfica para indicar o despertar), seus olhos ardem, conforme explica Morpheus, porque ele nunca os havia usado antes. Tudo que Neo havia visto até aquele ponto o foi através do olho da mente, como num sonho, criado através de um software de simulação. Tal como um antigo Gnóstico, Morpheus explica que a respiração (prana, chi-kung, tai-chi, reiki) conduz Neo pelo programa de treinamento de artes marciais e que não há nada a fazer com seu corpo, a velocidade ou sua força, os quais são todos ilusórios. Mais ainda, eles dependem unicamente de sua mente, que é real.

Ainda outro paralelo com o Gnosticismo, ocorre na figura dos Agentes, como o Agente Smith e seu opositor, o equivalente gnóstico de Neo e todos os demais que tentam sair de MATRIX. IA criou esses programas artificiais para funcionarem como “porteiros” – os Guardas das portas – que possuem todas as chaves. “Esses Agentes são parentes dos ciumentos Arcontes criados pelo Demiurgo para bloquearem a ascensão do Gnóstico quando tentam deixar o mundo material. Eles defendem as portas em sucessivos níveis ao paraíso (e.g. Apocalipse de Paulo, Divina Comédia de Dante, textos Babilônicos narrando os sete infernos, a estrela setenária dos alquimistas e assim por diante).

Sobre a questão do Samsara, até mesmo o título do filme evoca a visão budista de mundo. MATRIX é descrita por Morpheus como “uma prisão para a mente”. É uma “construção” dependente feita de projeções digitais interconectadas de bilhões de seres humanos (egrégoras) que desconhecem a natureza ilusória da realidade na qual vivem, e são completamente dependentes do “hardware” implantado em seus corpos reais e dos programas (softwares/mapas astrais) elaborados (para fazer a máquina funcionar), criados pelo Demiurgo. Essa “construção” é parecida com a idéia budista do SAMSARA, a qual ensina que o mundo, no qual vivemos nossas vidas diárias, é feito unicamente de percepções sensoriais formuladas por nossos próprios desejos.

O problema, então, pode ser examinado em termos budistas. Os humanos são aprisionados no ciclo da ilusão (Maya), e sua ignorância acerca do ciclo os mantém atados a ele, totalmente dependentes de suas próprias interações com o programa e com as ilusões da experiência sensorial que ele provê, bem como das projeções sensoriais dos demais. Essas projeções são consolidadas pelos enormes desejos humanos de acreditarem que o que eles percebem como real é real de fato (para eles). É o mundo dos materialistas, ateus e céticos. Este desejo é tão forte que derruba Cypher, que não pode mais tolerar o “deserto do real”, e procura uma maneira de ser reinserido na Matrix.

Tal como combina com o Agente Smith num restaurante fino, fumando um charuto com um copo grande de brandy, Cypher diz: “Eu sei que este bife não existe; eu sei que quando eu o levo a minha boca Matrix está dizendo ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Depois de 9 anos você sabe o que está mais claro para mim? Que a ignorância é a felicidade!” (Ignorance is Bliss).

A contrapartida é a vida monástica dentro da nave: comem uma gororoba vegetariana, vestem-se com trapos, não possuem bens materiais e treinam um kung fu que beira o sobrenatural. Possuem a humildade de quem já se despojou dos bens materiais, tal qual os monges do monastério de Shaolin.

Em determinada parte do filme, Morpheus diz a Neo, “há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho”. E como Buda ensinou aos seus seguidores, “vocês, por vocês mesmos, devem fazer o esforço; só os Despertos são Mestres”. Para quem já está no Caminho da Iluminação, Morpheus é somente um Guia. Em última instância, Neo precisará reconhecer a Verdade por ele mesmo.

Judeus e Palestinos – Ontem e Hoje

Judeus e Palestinos – Ontem e Hoje

"Por que os judeus e os árabes/muçulmanos se odeiam?"
Resposta: Primeiro, é importante entender que nem todos os árabes são muçulmanos, e nem todos os muçulmanos são árabes. Enquanto a maioria dos árabes é muçulmana, há muitos árabes não-muçulmanos. Além disso, há significantemente mais muçulmanos não-árabes (em áreas como a Indonésia e a Malásia) do que muçulmanos árabes. Segundo, é importante lembrar que nem todos os árabes odeiam os judeus, que nem todos os muçulmanos odeiam os judeus, e que nem todos os judeus odeiam os árabes e os muçulmanos. Nós devemos ter o cuidado de não estereotipar as pessoas. No entanto, dito isso, falando em sentido geral, árabes e muçulmanos têm desgosto e desconfiança dos judeus, e vice-versa.

Se há uma explicação bíblica explícita para esta animosidade, ela remonta aos tempos de Abraão. Os judeus são descendentes de Isaque, filho de Abraão. Os árabes são descendentes de Ismael, também filho de Abraão. Sendo Ismael filho de uma mulher escrava (Gênesis 16:1-6) e Isaque sendo o filho prometido que herdaria as promessas feitas a Abraão (Gênesis 21:1-3), obviamente haveria alguma animosidade entre os dois filhos. Como resultado das provocações de Ismael contra Isaque (Gênesis 21:9), Sara disse para Abraão mandar embora Agar e Ismael (Gênesis 21:11-21). Isto causou no coração de Ismael ainda mais contenda contra Isaque. Um anjo até profetizou a Agar que Ismael viveria em hostilidade contra todos os seus irmãos (Gênesis 16:11-12).

A religião do Islã, à qual a maioria dos árabes é aderente, tornou essa hostilidade mais profunda. O Alcorão contém instruções de certa forma contraditórias para os muçulmanos em relação aos judeus. Em certo ponto, ele instrui os muçulmanos a tratar os judeus como irmãos, mas em outro ponto, ordena que os muçulmanos ataquem os judeus que se recusam a se converter ao Islã. O Alcorão também introduz um conflito sobre o qual filho de Abraão era realmente o filho da promessa. As Escrituras hebraicas dizem que era Isaque. O Alcorão diz que era Ismael. O Alcorão ensina que foi Ismael a quem Abraão quase sacrificou ao Senhor, não Isaque (em contradição a Gênesis capítulo 22). Este debate sobre quem era o filho da promessa contribui para a hostilidade de hoje em dia.

No entanto, a antiga raiz de hostilidade entre Isaque e Ismael não explica toda a hostilidade entre os judeus e os árabes de hoje. Na verdade, por milhares de anos durante a história do Oriente Médio, os judeus e os árabes viveram em relativa paz e indiferença entre si. A causa primária da hostilidade tem uma origem moderna. Após a Segunda Guerra Mundial, quando as Nações Unidas deram uma porção da terra de Israel para o povo judeu, a terra na época era habitada principalmente por árabes (os palestinos). A maioria dos árabes protestou veementemente contra o fato da nação de Israel ocupar aquela terra. As nações árabes se uniram e atacaram Israel em uma tentativa de exterminá-los da terra – mas eles foram derrotados por Israel. Desde então, tem havido grande hostilidade entre Israel e seus vizinhos árabes. Se você olhar num mapa, Israel tem uma pequena faixa de terra e está cercado por nações árabes muito maiores, como a Jordânia, a Síria, a Arábia Saudita, o Iraque e o Egito. O nosso ponto de vista é que, biblicamente falando, Israel tem o direito de existir como uma nação em sua própria terra – Deus deu a terra de Israel aos descendentes de Jacó, neto de Abraão. Ao mesmo tempo, nós acreditamos que Israel deveria buscar a paz e mostrar respeito pelos seus vizinhos árabes. Salmos 122:6 declara: “Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te ama
m.”

AFIRMAÇÕES – SEU USO E ABUSO

AFIRMAÇÕES – SEU USO E ABUSO



O uso das afirmações é uma prática muito antiga. Encontramo-las sob várias formas, nos textos sagrados de Buda, Zoroastro, Maomé, Confúcio, Lao-tsé, no Antigo Testamento e nos sistemas religiosos e filosóficos mais recentes. Em quase todos os casos aconselha-se que as afirmações sejam vocativas, quer dizer, sejam pronunciadas e não recitadas mentalmente. Tal se baseia na hipótese de que a palavra falada tem mais eficácia do que o pensamento, apenas, e que as próprias entonações contribuem para a obtenção dos resultados desejados. Além disso, a sua enunciação requer uma ação que acompanha o espírito das afirmações, e como quase todas as invocações religiosas antigas eram feitas publicamente, ou na presença de outros, também subentendia-se uma sinceridade de propósito motivadora da resultados mais certos. Quando as analisamos, parece haver um propósito duplo nestas antigas invocações religiosas. O primeiro é o de conseguir apoio, e talvez a intervenção, da força Divina em nome do suplicante ao proclamar ou recitar, em voz alta, suas crenças piedosas. Por essa proclamação de fé espera-se que o poder Divino lhe materialize ou realize a natureza da crença. Por conseguinte, já em 1329 a.C., encontramos Amenhotep IV, em seu hino a Aton, o Deus único, afirmando:

Tu colocas cada homem em seu lugar
Tu supres as suas necessidades.

Lao-tsé afirmava:

Aos que são bons para mim, eu sou bom.
E aos que não são bons para mim, eu também sou bom.
E assim, todos juntos vêm a ser bons.

E São Patrício afirmava:

Cristo comigo, Cristo diante de mim,
Cristo atrás de mim, Cristo em mim. . .

Assim como mal se pode suprimir a reação emocional que nos faz gritar de dor, surpresa ou felicidade, também a afirmação falada é considerada religiosamente como o aspecto físico e exterior do estado espiritual e mental do indivíduo. O outro propósito das invocações orais, pelo menos de um ponto de vista religioso, parece ser o de que, ao enunciá-las, em termos gerais, a pessoa se torna, ou é obrigada a ser, mais cônscia do seu conteúdo do que se fossem apenas mentalmente enunciadas.
Na realidade, uma afirmação é, apenas, a declaração do que acreditamos ou conhecemos. Ela não representa uma crença sincera ou conhecimento real; seu valor não tem importância. Por exemplo, se alguém afirma: "Acredito que existe um único Deus vivente", e, entretanto, está intimamente convencido de que não existe Deus, independente da concepção de uma divindade, a afirmação é uma hipocrisia da pior espécie. Por conseguinte, segue-se que não precisamos afirmar o que acreditamos ou conhecemos, pois ele já existe como um fato aceito em nossa mente. A repetição de uma afirmação não a tornará mais convincente se, em nossa experiência ou raciocínio, a afirmação é baseada numa premissa falsa. Se sentimos violenta dor de dente, por exemplo — da qual estamos firmemente conscientes — a afirmação em voz alta para nós mesmos, de que não sentimos dor de dente não é muito tranqüilizadora e o próprio absurdo de tal afirmação torna esse procedimento ridículo para uma pessoa inteligente. Tal método de afirmação é perigoso porque tenta fazer a mente negar realidades que deveria aceitar e de modo prático superar. Uma dor de dente é o resultado de uma causa natural. Afirmar que a conseqüência muito evidente não existe e, portanto, ignorar a causa — um dente cariado — é violar não só o bom-senso como, também, as próprias leis da Natureza.
Quando não se referem às realidades, as afirmações são de importância psicológica. Em particular, são úteis no desenvolvimento e conservação do moral de um indivíduo. Como outro exemplo, tomemos uma força armada que se dirige para a frente de batalha. Ela talvez ainda não tenha sido hostilizada, mas os soldados sabem que, certamente, travarão combates e há probabilidades da vários deles jamais retornarem. Uma apreciação desses fatos poderia ser o pensamento dominante enquanto avançam, e como resultado, poderia ocorrer grande depressão no ânimo de todos. Todavia, o entoar de cantos de guerra, e o canto de versos burlescos, proclamando vitória futura e a total derrota do inimigo, suplantam a idéia de derrota, trocando-a por outra, de sucesso. É evidente que a resposta emocional e física a tais pensamentos fortificaria os ânimos. Por sugestão, o próprio pensamento motiva e causa o tipo de ação, necessário para a consecução do resultado. Logo, para o indivíduo, o valor de uma afirmação está no poder de sugestão. A sugestão, como já se mencionou, tem de ser sincera e não deve ser contrária às realidades mais evidentes. Assim, se um homem tem uma doença respiratória grave e sabe que a tom e não faz nada para ajudar-se, exceto usar a afirmação vazia — "Estou melhorando a cada dia e de todos os modos" — pela qual o psicólogo francês, Coué, ficou famoso há alguns anos — ele acabará se destruindo, pelo uso de tal método.
É costume comum de muitas das chamadas organizações místicas e metafísicas defender o método da recitação de afirmações. A primeira razão que oferecem é de natureza psicológica. Afirma-se que o ponto de vista positivo, de que a pessoa é, ou fará, ou realizará algo, é muito necessário para se obter resultados, especialmente se feita vocativamente, isto é, falado. Qualquer um concordará com isto: devemos, como já se disse, ter a convicção de que o que desejamos é possível de vir a existir, ou se pode possuir. A atitude negativa dispersa os poderes físicos e mentais.
A segunda ênfase, e a mais forte, que essas organizações dão às afirmações é de que a afirmação, em si mesma, tornar-se-á fator da manifestação da finalidade desejada. Assim, por exemplo, alegam que se eu afirmar — "farei uma viagem a Nova Iorque" — e repetir a frase um número suficiente de vezes, ela atrairá do Cósmico, da mente subjetiva ou de algum outro lugar, os fatores rudimentares necessários para a materialização do desejo. Tal coisa, fundamentalmente, é incorreta do ponto de vista místico e é o aspecto frágil subjacente na prática das afirmações, apresentada  por   tais   organizações.   O processo beira a superstição e lembra o raciocínio mágico e primitivo, que consiste em se criar uma imagem, que é a própria afirmação, com a crença de que existe uma afinidade ou ligação entre ela e a coisa real, porque a afirmação se lhe assemelha. Trata-se da suposição de que, de algum modo, a afirmação converterá em sua própria natureza aquilo que se lhe assemelha.
Nenhuma parcela da afirmação — "Eu quero uma casa" — reunirá os materiais reais e os montará numa realidade correspondente à natureza de tal afirmação. A pessoa que meramente afirma é indolente. Ela é mental e fisicamente preguiçosa. Está transferindo, inteiramente, para alguma outra coisa, o que é primordialmente de sua própria responsabilidade e competência. A afirmação serve melhor como um estímulo mental, como um incentivo necessário à realização pessoal. Se eu afirmo que quero uma casa, refiro-me que este é meu ideal, o propósito para o qual trabalharei, mas precisarei começar a trabalhar para realizá-lo.
Uma combinação de afirmações mentais e de criação mental é o meio mais prático de se realizar o que desejamos. Primeiro, afirmemos o que desejamos. Estejamos certos de que não se trata de um capricho, de que ele nos motiva emocionalmente,  nos  entusiasma quando  o contemplamos. Quando afirmamos o que desejamos, a imagem mental que nossas palavras formaram nos dará felicidade. A seguir, consideremos o propósito da afirmação, a coisa desejada, como uma finalidade; e nós mesmos, isto é, nossa posição atual, como o começo. Evidentemente, existe um vazio entre os dois, um vazio que tem de ser transposto. Estejamos plenamente cientes de que o vazio não pode ser, na realidade, transposto por qualquer poder teúrgico ou por  quaisquer  afirmações pronunciadas como fórmulas cabalísticas. O começo, ou nossa posição atual, tem de ser ampliado para se transformar naquilo que afirmamos. Outro modo de encararmos isto está em pensar no que desejamos — o quadro completo — como um círculo. Então pensemos no que somos, e no que temos agora, como um ponto no centro daquele círculo. Aquele ponto tem de expandir-se até que preencha o círculo ou até que o ponto e o círculo sejam um só.
Por conseguinte, a primeira necessidade é tentarmos determinar o quanto do que afirmamos, do que desejamos, existe como elementos separados em suas circunstâncias atuais e, sabendo isto, então estaremos conscientes do que precisamos e no que nos concentraremos. Se eu afirmo que terei uma casa e também desejo criá-la mentalmente, deveria agir da seguinte maneira:
Reduzir o quadro da casa que tenho em mente nos seus componentes mais simples. Determinar se tenho a propriedade, a madeira, o equipamento elétrico, as tintas, as ferragens e a mão-de-obra necessária para a casa. Se não tenho nenhuma dessas coisas, tenho o dinheiro ou os meios para adquiri-las? Vamos supor que não tenha nada disso. A primeira etapa então seria a de conseguir o dinheiro para minha casa. Se meus rendimentos regulares não fossem suficientes para proporcionar esse dinheiro, então precisaria prestar algum serviço, fazer algo extra para aumentar minha renda. Verificaria que, na realidade, a primeira etapa seria tornar-me útil, de algum outro modo, a fim de obter o dinheiro necessário. Teria, então, decididamente, em mente, a necessidade de tal serviço. Sugeriria a mim mesmo, a meu eu interior, que fosse inspirado, nas minhas observações diárias, por alguma idéia de serviço. Pediria ao Cósmico que me ajudasse a encontrar em meus negócios algo que, pelos meus próprios esforços, pudesse converter em ato de serviço. Manteria esse pensamento, na sua forma mais simples, em primeiro lugar em meus pensamentos diários. Atrairia para mim mesmo as sugestões necessárias para a realização daquele serviço.
Agora, permitam-me ir mais além em minha explicação. Esta atração na direção de mim mesmo, não seria um poder mágico, um simples entoar de afirmações. Seria o fato de que me tornaria especialmente consciente de quaisquer circunstâncias ou coisas que tivessem qualquer relação, por mínima que fosse, com a minha necessidade. Por analogia, seria como um homem que quisesse muito um pedaço de papel vermelho. Ao percorrer a rua, tudo o que fosse vermelho atrairia particularmente sua atenção. Estaria atraindo essa cor para sua atenção. Por associação de idéias, todas as coisas vermelhas que observasse o tornariam cônscio da necessidade de um papel vermelho para si. Logo, evidentemente, localizaria o papel vermelho muito mais depressa do que se não conservasse essa necessidade em mente. Isto é o que queremos dizer por atrair as coisas para nós. Sugerindo a nossa necessidade ao Cósmico e às nossas próprias mentes subjetivas, pomos essas forças a trabalhar para nós. Elas nos mostram, em forma de palpite, de um lampejo intuitivo ou de uma inspiração, coisas no nosso ambiente que podemos usar em nosso processo de criação mental.
Como o termo sugere, somos criadores. Mentalmente, somos os construtores. Somos os autores, o agente motor. O afirmador é apenas a pessoa que deseja algo. Deseja ou quer alguma coisa, e não vai além disso, a menos que empregue também a criação mental. A combinação da criação mental e da afirmação, repetimos, é a melhor. Aliás, a verdadeira criação mental é impossível sem primeiro afirmar, primeiro asseverar positivamente para nós mesmos, decidida e concisamente, o que queremos. A afirmação é a direção que nosso poder criador tem de seguir. É o poste indicador dizendo-nos: "Tome este caminho! Sua destinação está à frente". Não podemos simplesmente começar a criar. Temos primeiro de ter a concepção, o plano do que deve ser construído. Imaginemos um homem serrando tábuas, aplainando-as e pregando-as a esmo, e de repente parando para ver o fruto da sua faina. Isto seria, sem dúvida, uma espécie de criação. Seria a construção de algo que talvez não existisse antes. Contudo, sem direção inteligente, os resultados desse tipo de criação seriam um disparate de pouco ou nenhum valor.
Naturalmente, ao afirmar ou estabelecer um objetivo a ser realizado, temos de evitar um que seja contrário aos princípios Cósmicos. Não devemos conceber algo que seja moral ou eticamente errado, eu contrário à lei natural. Se o fizermos, talvez fracassemos na nossa criação. E mesmo que, realmente, criemos algo que seja Cosmicamente errado, ele pode, como um monstro, tornar-se a nossa ruína. Contudo, na criação mental, sempre temos a oportunidade de, primeiramente, examinar minuciosamente a nossa afirmação, o nosso objetivo, em suas muitas partes. Cada parte é, então, exposta à nossa compreensão, e se quaisquer partes são malévolas ou nocivas, elas podem ser extirpadas e todo o propósito ou imagem mental revisto antes de começar.