Krak dos Cavaleiros

sábado, 4 de junho de 2011

Rennes-le-Château



Rennes-le-Château já se tornou – até agora pelo menos – uma espécie de clichê do mundo ocultista, quase que do mesmo quilate que o Graal e tão evasivo quanto. No entanto, esse lugar existe de verdade, e foi aqui que encontramos os esclarecimen­tos que buscávamos. Essa aldeia pode ser comparada com a britânica Glanstonbury, pois os dois lugares parecem conter mistérios profundos, embora proporcionem os mitos e as suposições mais jocosas, e bastante dissem­inadas.
Rennes-le-Château fica na região do Languedoc conhecida como Aude, próxima à cidade de Limoux, que dá nome a seu famoso blanquette, ou vinho espumante, na área que nos séculos VIII e IX era conhecida como Razès. Partindo da pequena cidade de Couiza, grandes placas sinalizam uma peque­na estrada onde um cartaz indica 'Domaine de Abbé Sauniere'. Seguindo essas indicações, os motoristas se vêem em uma curiosa estrada que sobe como uma escada em caracol até chegar ao topo, onde fica o vilarejo de Rennes-le-Château.
Para nós, como para muitos hoje em dia, essa rota é excitante. Graças principalmente ao The Holy Blood and the Holy Grail, mas também à lenda transmitida oralmente, essa viagem simples às montanhas francesas rapidamente torna-se quase que uma espécie de iniciação. No entanto, o local onde os visitantes costumeiramente fazem sua parada é bastante prosaico. O cam­inho de acesso leva inevitavelmente a um estacionamento, através de uma estreita 'grand rue' que não tem nem mesmo uma agência de correio ou uma pequena loja de departamentos, mas que, no entanto, conta com uma livraria especializada em esoterismo, um bar/restaurante, o arruinado castelo que dá nome à aldeia, e pequenas ruelas que vão dar na igreja notavelmente peque­na e no presbitério.
Esse lugar tem uma história sinistra e, mesmo, uma reputação obscura, ainda que um tanto vaga. Em resumo, a história é a de que François Berénger Sauniere (1852-1917), um padre comum, nascido e criado na aldeia de Montazels, a apenas três quilômetros de Rennes-le-Château, fez uma descoberta durante uma das intermináveis reformas que realizou em sua paróquia do século X, há apenas cem anos atrás. Como resultado de sua descoberta, ou em virtude de seu valor intrínseco, ou porque isso o levou a algo que poderia significar vantagem financeira, tornou-se imensamente rico.
As especulações têm variado ao longo dos anos em relação à verdadei­ra natureza da descoberta: de modo bastante prosaico tem se sugerido, no mais das vezes, que ele teria encontrado um enorme tesouro, enquanto ou­tros acreditam que o que ele descobriu foi algo bem mais assombroso, algo como a Arca da Aliança, ou o tesouro do Templo de Jerusalém, o Santo Graal, ou até mesmo a tumba de Cristo, uma idéia que foi recentemente expressa na obra The Tomb of God, de Richard Andrews e Paul Schellenberger (1996).
Tínhamos que ir a Rennes-le-Château porque, de acordo com os Dos­siês secretos e com o The Holy Blood and the Holy Grail, esse lugar era particularmente significativo para o Monastério de Sion, embora permaneça obscura a razão para isso. O Monastério afirma que Sauniere descobrira alguns pergaminhos que continham a informação da árvore genealógica que prova a continuidade da dinastia merovíngia, e estabelece o direito de certos indivíduos de reivindicar o trono da França, como Pierre Plantard, de Saint-Clair. Entretanto, como ninguém que não pertencesse ao Monastério real­mente examinou esses pergaminhos, e toda a história da continuidade da linhagem da dinastia merovíngia é duvidosa, para dizer o mínimo, há poucas razões para realmente nos aprofundarmos nessa questão.
Existe ainda um outro problema, uma gritante inconsistência, na história do Monastério. Se esse realmente tivesse existido, por séculos, unicamente para proteger os descendentes merovíngios e estabelecer o direito de determinados indivíduos de reivindicar o trono da França, é bastante curioso que os membros do Monastério tenham recebido de bom grado as informações concernentes a quem deveriam ser esses descendentes. Pois, com certeza, eles mais do que ninguém deveriam saber quem eram os que haviam jurado defender, do contrário dificilmente teriam essa espécie de zelo fanático, que perdurava por séculos e que, por sua vez, manteve viva a organização por tanto tempo! Confiar no que, aparentemente, é apenas uma raison d'être em retrospectiva é suspeito, para dizer o mínimo.
Não obstante, ficamos intrigados com a importância atribuída à aldeia pelo Monastério. Existem duas possíveis razões para isso: uma é que o vilare­jo realmente tem um grande significado, mas não pelas razões colocadas nos Dossiês; a outra é que a história de Sauniere não tem nenhuma conexão real com o Monastério e que esse apropriou-se do mistério por outras razões. Devemos, então, descobrir qual das duas hipóteses está mais próxima da ver­dade.
Ao chegar ao estacionamento da aldeia, o visitante se depara com uma visão estonteante do Vale do Aude, com os picos dos Pireneus cobertos de neve. É fácil perceber por que, no passado, esse vilarejo aparentemente insignificante era considerado de alta importância estratégica, pois com certeza a visão da possível chegada de um inimigo era algo inigualável. Essa é a razão de Rennes-le-Château ter sido no passado uma fortaleza visigoda: alguns che­gam a ponto de identificá-la como a cidade perdida de Rhedae, que era pare­cida com Carcassonne e Narbonne, embora seja difícil acreditar que já houve um tempo em que esse agrupamento isolado de casas foi uma barulhenta metrópole. No entanto, o lugar ainda tem seu magnetismo: embora apenas cerca de cem pessoas realmente morem em Rennes-le-Château, o vilarejo recebe cerca de 25.000 visitantes por ano.
A torre de água, que se ergue dentro do estacionamento, contém os símbolos do zodíaco, um motivo que é repetido acima das portas de alguns chalés. Para nosso desapontamento, porém, isso é apenas um costume da região. Contudo, todos os olhos voltam-se para o extravagante prédio cons­truído na beirada do despenhadeiro, parecendo brotar da face escarpada da aldeia, quase como uma gota de água que se equilibra na boca da torneira antes de cair. Esse prédio é a biblioteca e sala de estudos particular de Sauniere, conhecida como Tour Magdala (Torre de Magdala). Faz parte de seu domaine e foi aberta recentemente ao público. Parece-se com aquelas torres de ataque dos castelos medievais, numa versão menor. A torre em um de seus lados nos leva a uma comprida plataforma, que vai até uma abandonada estufa de plan­tas. Nas salas que ficam abaixo da plataforma existe um museu, que é dedica­do à vida de Sauniere e ao mistério que o rodeou. Um jardim separa a torre da casa grande, Villa Bethania, que foi construída com a riqueza inexplicável amealhada por Sauniere, e onde algumas das salas estão abertas ao público. Logo em frente, ao redor de um caminho de cascalhos, há uma pequena gruta construída pelo próprio padre com pedras especialmente escolhidas e trazi­das de um vale nas redondezas, provavelmente com muito esforço. Então, chega-se ao cemitério e à dilapidada igreja, que é dedicada a Maria Madalena.
Dada a fama da igreja ficamos um tanto surpresos ao verificar como é tão pequena; qualquer desapontamento, porém, é mais do que suplantado pela famosa e bizarra decoração feita pelo abade Sauniere. Essa, no mínimo, foi feita com a deliberada intenção de causar estupefação.
Sobre o pórtico, com seus quase cômicos pássaros de gesso branco de segunda categoria e telhas amarelas quebradas, estão gravadas as seguintes palavras: Terribilis est locus iste ('Este é um lugar terrível'), uma citação do Livro do Gênesis (28:17) que é complementada, em latim, no arco sobre o pórtico: 'Esta é a casa de Deus e o Portão Celestial'. Destaca-se uma estátua de Maria Madalena colocada sobre a porta, enquanto o painel é decorado com triângulos equiláteros e rosas esculpidos em cruzes. Muito mais interessante, porém, é a visão de um demônio de gesso, todo contorcido, que aparente­mente guarda a entrada, que está imediatamente após o pórtico. Curvado e careteiro, curva-se de um modo significativo, enquanto segura em seus om­bros a pia batismal. Esta, por sua vez, porta quatro anjos, cada um fazendo um dos gestos que envolve o sinal da cruz, enquanto as palavras Par ce signe tu le vaincras ('Por este sinal vós o conquistareis') estão inscritas na parte de baixo. Na parede há um quadro mostrando o batizado de Jesus, que foi retrat­ado em uma posição que é precisamente a imagem do demônio no espelho. Tanto o demônio quanto Jesus olham fixamente para uma parte do chão, que se parece com um tabuleiro de xadrez. No quadro, repete-se o motivo da pia batismal em forma de concha que é segurada pelo demônio. Há um claro paralelo entre as duas imagens, entre o demônio e o batizado de Jesus. (Em abril de 1996, em um dos muitos atos de vandalismo a que a capela já esteve sujeita, o demônio e sua cabeça foram serrados e roubados por um desconhecido).
Se nos postarmos sobre o chão xadrez preto-e-branco e olharmos a pequena paróquia de Santa Madalena, em um primeiro momento parece ser uma típica igreja católica da época e da região. Exageradamente decorada com santos de gesso extravagantes, como Santo Antônio, o Ermitão, e São Rocha, ela contém o costumeiro mobiliário de uma igreja. No entanto, ela merece um exame mais profundo, pois há por toda parte um certo toque idiossincrático. Por exemplo, a Via Sacra, que geralmente é em sentido anti­-horário, aqui inclui um garoto metido em um kilt e uma pequenina criança negra. E o toldo sobre o púlpito tem o formato do Templo de Salomão.
O baixo-relevo defronte ao altar era, pelo menos assim se afirma, o orgulho e a paixão de Sauniere: ele próprio deu os retoques finais nessa obra. O baixo-relevo retrata uma Madalena em traje dourado, curvada em atitude de oração, um livro aberto em frente a ela e uma caveira a seus pés. Seus dedos estão, curiosamente, cruzados de um modo conhecido como latté. Uma cruz aparentemente feita de uma árvore delgada, com uma folha incompleta, eleva-se em frente a ela, e além da gruta de pedra onde ela se prostra pode-se ver uma distinta forma de construções recortadas contra a linha do horizon­te. Curiosamente, embora a caveira e o livro aberto sejam partes aceitáveis da iconografia de Madalena, a tradicional jarra de óleo de nardo está ausente.
Ela também aparece no vitral sobre o altar, onde parece estar se le­vantando de uma mesa para untar os pés de Jesus com o precioso ungüento. Em toda a igreja existem quatro imagens de Madalena, o que, mesmo levan­do-se em conta o fato de ela ser a santa padroeira da igreja, parece ser algo um tanto excessivo para uma construção tão pequena. O envolvimento de Sauniere com Madalena é reforçado pelo nome de sua biblioteca, a Torre de Magdala, e de sua casa, a Villa Betânia. Betânia foi o lar bíblico da família que incluía Lázaro, Marta e Maria.
Há uma sala secreta por trás do armário da sacristia, mas até mesmo isso raramente é percebido pelos visitantes. Sua única janela, que não é claramente visível do lado de fora, parece descrever em seu vitral a tradicional cena da crucificação. Contudo, como virtualmente qualquer coisa nesse 'lu­gar terrível' , nada é exatamente o que parece ser. Somos atraídos para a pais­agem ao longe, que pode ser vista por debaixo dos braços do homem que está na cruz; a paisagem é claramente o foco verdadeiro da pintura. Nessa, mais uma vez, está o Templo de Salomão.
Até mesmo a entrada para o cemitério é incomum: o arco da entrada é decorado com uma caveira de metal e ossos cruzados, um emblema dos cava­leiros templários, e há ainda um bizarro sorriso arreganhado mostrando 22 dentes. Entre os túmulos, ornamentados com elaborados arranjos florais e fo­tografias dos que já partiram, comum em vários dos típicos cemitérios fran­ceses, está o da família dos Bonhommes. Em qualquer outro lugar, talvez, isso dificilmente poderia ser fonte de qualquer comentário; nesse lugar, porém, tal nome nos remete aos cátaros - les Bonhommes - e sugere algo particular­mente pungente. O túmulo de Sauniere, com um baixo-relevo retratando seu perfil, recentemente danificado levemente por vândalos, está colocado no muro que separa o cemitério de seu domaine. Marie Dénamaud, sua leal governanta, se não muito mais que isso, está enterrada a seu lado.
Não é nosso propósito entrar em detalhes sobre o que na verdade é uma história completamente banal. Suspeitando, porém, que o mistério de Rennes iria resultar em algumas pistas sobre a continuidade da tradição secre­ta, não nos sentíamos nem desapontados nem enganados. Como já vimos, encontramos evidências de uma complexa série de conexões que remetiam para a tradição gnóstica da região, um lugar que sempre fora notório por seus 'hereges', sejam os cátaros, os templários ou as assim chamadas 'bruxas'. Desde a desgraça da Cruzada de Albi, o povo local nunca mais acreditou to­talmente no Vaticano, e assim este passou a ser o berço ideal para idéias não­ ortodoxas, além daquelas relacionadas com os interesses políticos das mino­rias. No Languedoc, com suas longas e amargas memórias, a heresia e a política sempre andaram de mãos dadas, como talvez ainda o façam.
Em Sauniere encontramos um pároco rebelde e apóstata. Dificilmente poderíamos dizer que era um típico clérigo de uma cidadezinha. Conhecia o grego bem como o latim, e era subscritor regular de um periódico alemão. Tenha encontrado ou não um tesouro ou um segredo, é improvável que 'o negócio de Rennes' tenha sido uma completa farsa. Existem, porém, muitas razões para se pensar que a história do modo como é contada seja uma completa empulhação.
A seqüência exata dos fatos é de difícil reconstrução, já que se baseia muito mais na memória dos habitantes do lugar do que em documentação comprovada. Sauniere assumiu seu posto como pároco no início de junho de 1885. Em poucos meses ele se viu envolvido em problemas por ter proferido de seu púlpito um inflamado sermão anti-republicano (durante as eleições do ano), e foi temporariamente afastado de suas obrigações. Reinstalado no verão de 1886, recebeu como presente 3.000 francos da Condessa de Chambord - viúva de um pretendente ao trono francês, Henri de Bourbon, que reivindicava o título de Henrique V -, em reconhecimento por seus serviços em favor da causa monarquista. Aparentemente, usou o dinheiro para refor­mar a antiga igreja, e em muitos relatos é dito que foi nessa época que o pilar visigodo, que suportava o altar, foi removido, e dentro dele, segundo se diz, ele encontrou certos pergaminhos codificados. Isso, no entanto, parece im­provável, pois seu comportamento excêntrico e seus projetos ambiciosos não tiveram início senão no ano de 1891. Foi mais ou menos nessa época que o sineiro, Antoine Captier, encontrou algo importante. Alguns dizem que foi um cilindro de madeira, enquanto outros afirmam que foi um frasco de vidro: seja lá o que for, acredita-se que nele estavam contidos pergaminhos enro­lados ou documentos que ele deu a Sauniere. E parece que foi essa descober­ta que deu início às ações peculiares do pároco.
A versão tradicional diz que Sauniere apresentou os pergaminhos a seu bispo, Félix-Arsene Billard, em Carcassonne, e que isso precipitou sua viagem a Paris. Costuma-se dizer que Sauniere fora aconselhado a levar os documentos para que fossem decodificados por um especialista, um tal de Émile Hoffet, que na época era um jovem seminarista, mas que na verdade tinha um profundo conhecimento sobre o ocultismo e o mundo das socie­dades secretas (mais tarde ele ensinou na igreja de Notre-Dame de Lumieres, em Goult, local de uma Madona Negra que tem especial importância para o Monastério de Sion). O tio de Hoffet era diretor do Seminário do Santo Sepul­cro em Paris.
A igreja de St. Sulpice (Santo Sepulcro) distingue-se pelo fato do merid­iano de Paris, que passa bem próximo de Rennes-le-Château, estar demarca­do por uma linha de cobre que cruza o chão. Construída sobre as fundações de um templo dedicado a Ísis, em 1645, foi fundada por Jean-Jaques Olier, que a projetara de acordo com a Razão Áurea da geometria sagrada. Seu nome era uma homenagem ao bispo de Bourges na época do rei merovíngio Dagoberto II, e seu dia comemorativo é 17 de janeiro, uma data que nos traz à memória os mistérios do Monastério e de Rennes-le-Château. Grande parte do romance satânico de J. K. Huysmans, Là-Bas, ocorre em Saint Sulpice, e o seminário vinculado à igreja era notoriamente pouco ortodoxo (para dizer o mínimo), no final do século XIX. Também serviu como sede de uma misterio­sa sociedade secreta chamada Compagnie du Saint-Sacrement, que - já foi insinuado - servia de testa-de-ferro para o Monastério de Sion.
Durante a estada de Sauniere em Paris, que ocorreu ou no verão de 1891 ou na primavera de 1892, Hoffet o apresentou à crescente sociedade ocultista que estava centrada na figura de Emma Calvé, e que incluía alguns personagens como Joséphin Péladan, Stanislas de Gualta, Jules Bois e Papus (Gérard Encausse). Existe um persistente boato de que Sauniere e Emma fo­ram amantes.
Diz-se que Sauniere visitou a igreja de Saint Sulpice e examinou certas pinturas que lá havia, e, de acordo com a história que tradicionalmente se conta, comprou reproduções de pinturas específicas do Louvre (o que será examinado mais adiante). Ao retornar para Rennes-le-Château, começou a decorar sua igreja e as construções de seu domaine.
A visita a Paris é uma parte essencial do mistério de Sauniere, e tem sido objeto de intenso exame por parte de pesquisadores, desde então. Não existe nenhuma prova direta de que ela realmente tenha acontecido. Uma fotografia de Sauniere em que está inscrito o nome de um estúdio em Paris, que sempre fora tida como a prova da existência da viagem, recentemente certificou-se ser, na verdade, de seu irmão mais novo, Alfred (padre também). Afirma-se também que a assinatura de Sauniere aparece no livro de missa de Saint Sulpice, mas isso nunca foi confirmado. O escritor Gérard de Sède, que possui alguns dos documentos de Hoffet, afirma que eles contêm uma nota do encontro com Sauniere em Paris (sem data, infelizmente), mas até onde sabemos não existe nenhuma comprovação independente disso, tampouco. Como grande parte dessa história, baseia-se na memória dos aldeões e de outros. Por exemplo, Claire Captier, nascida Corbu, filha de um homem que em 1946 comprou o domaine de Sauniere de Marie Dénarnaud - que viveu com os Corbus até sua morte em 1953 - afirma enfaticamente que a viagem a Paris realmente aconteceu.
Seja lá o que for que Sauniere tenha encontrado, aparentemente o tor­nou rapidamente muito rico. Quando pela primeira vez ele assumiu sua posição, seus estipêndios eram de 75 francos por mês. No entanto, entre 1896 e a data de sua morte, em 1917, ele gastou uma quantia bastante grande, talvez não 23 milhões de francos, como afirmam alguns, mas certamente algo como 160 mil francos por mês.Tinha contas em bancos em Paris, Perpignan, Toulouse e Budapeste, e investiu pesadamente em ações, fundos e apólices, de modo algum aplicações financeiras apropriadas ou comuns para um pa­dre do interior. Foi dito que ele ganhou seu dinheiro comercializando suas missas (cobrando para rezar missas que livrariam o pagante de alguns anos no purgatório), mas embora com certeza tenha feito isso, como dizem histo­riadores franceses, como René Descadeillas, conhecido como o homem que liderou o desmascaramento do mistério de Sauniere, isso não poderia ter 'produzido os fundos necessários para que fosse possível erguer tantas con­struções e ao mesmo tempo viver de forma tão folgada. Portanto, devia haver algo mais'.' De qualquer forma, seria o caso de se perguntar o porquê de tantas pessoas quererem assistir a missa de Sauniere, um padre rural in­significante de uma paróquia remota.
Ele e Marie Dénarnaud foram criticados por terem um estilo de vida dispendioso: ela sempre estava vestida conforme os ditames da última moda de Paris (dizem que essa é a razão de seu apelido, 'La Madonne', a Madona) e se divertiam de um modo totalmente desproporcionado, confrontando-se os rendimentos que oficialmente recebiam, ou em relação à sua posição social. Além disso, os ricos e famosos faziam a penosa viagem até Rennes-le-Château apenas para ficarem com eles (em virtude de alguma estranha razão, contu­do, Sauniere só ocupava a Villa Bethania para se divertir, preferindo morar no presbitério que ficava ao lado da igreja). Seus visitantes incluíam o príncipe Habsburgo, que preferia ser chamado pelo evocativo nome de Johann Salva­tor von Habsburg, um ministro do governo e Emma Calvé.
Contudo, não era apenas a oferta de uma estadia luxuosa que atraía a hostilidade de muitos: Sauniere e Marie começaram a cavar no cemitério du­rante a noite. Embora de modo geral possamos apenas especular sobre o que eles estavam procurando, é sabido que apagaram as inscrições da lápide e da laje que cobria a sepultura de Marie de Negre d'Ables - uma mulher da região pertencente à nobreza e que morreu em 17 de janeiro de 1781 -, provavelmente para destruir a informação que nela estava contida. Eles nem sequer ficaram sabendo que todo esse esforço foi em vão, pois já havia uma cópia da inscrição graças a visitantes que eram membros de sociedade de antiquários da região. Como veremos, a ansiedade de Sauniere em destruir a inscrição tem um grande significado para nossa investigação.
Mais ou menos na época da suposta viagem a Paris, Sauniere removeu a 'Pedra dos Cavaleiros', perto do altar, uma placa esculpida datando da época dos visigodos, que retratava um cavaleiro em seu cavalo com uma criança. Parece que ele encontrou algo de suma importância embaixo dela, talvez um outro rolo de documentos ou artefatos, ou a entrada de uma cripta. Ninguém sabe ao certo se Sauniere recolocou o piso, mas em seu diário está registrado, no dia 21 de setembro de 1891, a seguinte e enigmática frase:'Carta de Granes. Descoberta de uma tumba. Choveu.'
As escavações noturnas de Sauniere provocaram escândalo, mas foi o comércio de missas que provocou a fúria das autoridades a ponto dele ter sido proibido de exercer suas funções como padre. Chegou a ser enviado para uma outra paróquia, mas recusou-se terminantemente a obedecer, e res­olutamente continuou a morar em Rennes-le-Château, com Marie. Quando a Igreja enviou um outro padre para a aldeia, Sauniere simplesmente celebrou uma missa não-oficial na Villa Bethania para os aldeões, que haviam permane­cido leais a ele.
De todos os mistérios que cercam Sauniere, talvez um dos mais dura­douros seja o que se seguiu a sua morte. Ele adoeceu em 17 de janeiro de 1917: cinco dias depois estava morto, e seu corpo foi colocado na plataforma do terraço de sua propriedade, sentado em uma cadeira, a céu aberto, para que os aldeões, e outros que chegaram a fazer viagens bem longas para ali estar, fizessem uma fila para arrancar pompoms vermelhos de seu manto. Sua última confissão foi ouvida pelo padre do lugarejo vizinho de Espéraza, e seja lá o que for que tenha dito, produziu um efeito profundo, pois como afirma René Descadeillas: . ...daquele dia em diante, o velho padre não foi mais o mesmo; ele realmente sofreu um choque'.
Após sua morte, a leal Marie Dénarnaud morou na Villa Bethania. Saun­iere, que, como padre, não tinha o direito de possuir quaisquer bens, havia comprado as terras no nome dela. Ela tornou-se mais e mais reclusa, terminando por receber a pecha de irascível, resistindo às muitas tentativas de compra de sua cada vez mais abandonada propriedade. Contudo, finalmente em 1946, no dia de comemoração à Maria Madalena, ela a vendeu para Noêl Corbu, um homem de negócios, com a condição de poder passar o resto de seus dias lá.
A filha de Corbu, Claire Captier, lembrava-se de ter morado lá quando era criança. De acordo com ela, Marie visitava a cova de Sauniere todos os dias, e no meio de todas as noites. Marie falou à jovem Claire sobre um fenô­meno extraordinário que ocorria com alguns visitantes. Ela teria dito, 'nessa noite fui seguida por vários fogos-fátuos do cemitério'. Perguntada se havia ficado com medo, ela respondeu, 'estou acostumada com isso... ando deva­gar, e eles me seguem... quando paro, eles também param, e quando fecho os portões do cemitério, todos eles desaparecem.'
Claire Capter também se lembra de Marie dizer, 'Com o que o Senhor Cura deixou, poder-se-ia alimentar toda Rennes por uma centena de anos e ainda sobraria.' E quando perguntada por que, se tanto dinheiro havia sido deixado para ela, vivia como se fosse uma pobretona, ela retrucou, 'Não pos­so tocá-lo'. E em 1949, quando soube que os negócios de Corbu passavam por dificuldades, ela disse,' Não se preocupe tanto, meu bom Noêl... um dia lhe direi um segredo que o fará um homem rico... muito rico! 'Infelizmente, nos meses que se passaram até sua morte em janeiro de 1953, ela tornou-se senil, e o segredo foi enterrado com ela.
Mas do que se trata, afinal, a história de Sauniere? Parece que ele estava sendo pago por alguma agência secreta para permanecer na aldeia (mesmo quando já era rico e não mais o padre de paróquia que havia escolhido ser), embora os pagamentos pudessem ser incertos. Sua riqueza não consistia de um único amontoado de dinheiro, como alguns chegaram a sugerir, pois seu fluxo de caixa era variável. Com freqüência vivia períodos de vacas magras, para então se recuperar e viver, durante meses, cercado de grande luxo. Na época de sua morte estava comprometido com grandes projetos, que teriam custado pelo menos 8 milhões de francos: construir uma via decente para a vila, pela qual pudesse trafegar um carro que pretendia comprar, levar água encanada a todas as casas, construir uma piscina batismal e uma torre de 70 metros, de onde pretendia conclamar seus paroquianos a orar.
Fortes candidatos a serem os pagantes são os monarquistas, e nesse caso existe um outro, e diferente, mistério. Que tipo de serviço Sauniere po­deria prestar a estes que resultasse no pagamento de tão grandes somas? Sua obsessão por Maria Madalena poderia de algum modo indicar a razão subjacente para receber gratificações tão estupendas? Há, com certeza, outras coi­sas mais nesse enriquecimento do que um envolvimento em uma conspir­ação política. Suas poucas memórias remanescentes revelam, conforme nos diz Gèrard de Sède:

uma curiosa devoção ao Bona Dea, ao eterno princípio feminino que, nas palavras de Bérenger [Sauniere], parecem transcender crenças e fé."

Mais uma vez encontramos segredos relacionados com o Princípio Feminino, personificados na figura de Madalena...e com uma clara conexão com o Monastério de Sion, cuja veneração por Ísis e pela Madona Negra é pública e notória. E, como ainda veremos, os arredores de Rennes-le-Château pos­suem muitas outras pistas relacionadas com a continuidade do culto a essas deusas.
E em relação aos pergaminhos supostamente encontrados por Sauniere (de acordo com fontes do Monastério de Sion)? Os pergaminhos consisti­riam de duas genealogias relativas à sobrevivência da dinastia merovíngia e outras duas relacionadas a excertos dos Evangelhos, nos quais algumas letras, que estão marcadas, conteriam mensagens codificadas. Os pergaminhos na verdade nunca foram vistos, mas supostas cópias dos textos em código foram fartamente publicadas, sendo sua primeira aparição em 1967, no L'Or de Rennes, de Gérard de Sède e sua mulher Sophie. Na verdade, embora não seja merecedor de muito crédito, Pierre Plantard de Saint-Clair afirmou ser co-­autor desse livro. ..
Esses textos já foram assunto de dezenas de trabalhos e de prolonga­das especulações. As letras marcadas no pergaminho, no relato do Novo Testamento sobre Jesus e seus discípulos no campo de trigo no Sabbath, quando lidas simplesmente em seguida, resultam em:

A DAGOBERT II ET A SION EST CE TRESOR ET IL EST LA MORT (PARA/POR DAGOBERTO II REI E PARA/POR SION É ESSE TESOURO E ELE É A MORTE ou E ELE ESTÁ LÁ MORTO)

O outro texto explicitamente descreve Jesus sendo ungido por Maria de Betânia .A versão decodificada é geralmente esta:

BERGERE PAS DE TENTATION QUE POUSSIN TENIERS GRADENTE LA CLEF PAX 681 PAR LA CROIX ET CE CHEVAL DE DIEU J'ACHEVE CE DAEMON DE GARDIEN A MIDI POMMES BLEUE

(PASTORA NÃO CREIAS QUE POUSSIN TENIERS TEM A CHAVE PARA A PAZ 681 PELA CRUZ E ESSE CAVALO DE DEUS EU COMPLETO [OU MATO] ESSE DEMÔNIO GUARDIÃO DAS MAÇÃS AZUIS DO MEIO-DIA [OU DO SUL])

Decifrar esse código foi muito mais complexo do que o primeiro. Ao ler as letras marcadas nesse caso obtém-se 'REX MUNDI' (expressão latina para 'Rei do Mundo', um termo gnóstico para o deus desta terra, que era utilizado pelos cátaros), mas outras 140 palavras estranhas foram acrescenta­das, tomando a decodificação um processo extremamente tortuoso para se obter a mensagem 'Pastora não creias'''. (O sistema utilizado foi inventado pelo alquimista francês Blaise de Vignère, que era secretário de Lorenzo de Medici). A mensagem final é um anagrama perfeito da inscrição da lápide de Marie de Nègres (assunto que será discutido no próximo capítulo).
Embora não haja qualquer dúvida de que a decodificação da mensagem está correta, houve por sua vez muitas tentativas inventivas e imaginativas para explicar ou dar sentido a tudo isso. Nenhuma delas, contudo, é complet­amente satisfatória.
O problema com esses pergaminhos é que aquele Philippe de Chéri­sey, parceiro de Pierre Plantard de Saint-Clair (e provavelmente seu sucessor como Grão-Mestre do Monastério de Sion, em 1984), mais tarde admitiu que as havia produzido em 1956 (quando confrontado com isso pelos autores de The Holy Blood and the Holy Grail em 1979, Plantard de Saint-Clair afir­mou que Chérisey apenas as copiara, mas não foi totalmente convincente."). De qualquer ângulo que sejam vistos os pergaminhos, temos que admitir que esse é um plano muito bem-sucedido para fazer com que muita gente gaste e perca boa parte de seu tempo, e são muito pouco confiáveis para fornecer direcionamentos para uma investigação acerca da história de Sauniere.
No entanto, se o padre não encontrou nenhum pergaminho, talvez ten­ha realmente encontrado algum tipo de tesouro, como acreditam muitas pessoas. Com certeza, ele encontrou um esconderijo de moedas antigas e jóias, na igreja, porém, como toda a região é rica em achados arqueológicos, tal descoberta dificilmente teria atraído tanto interesse para a história de Saun­iere. Muitas pessoas acreditam que ele encontrou a genuína caverna de Aladim com suntuosos tesouros, tão valiosos que ele e seus amigos não conseguiram consumi-los totalmente, e haveria ainda um bocado dele esperando que al­gum aventureiro intrépido o encontre. Foi sugerido que o elaborado simbo­lismo presente na igreja, em conjunto com várias outras mensagens codifica­das, como 'Maçãs Azuis' do pergaminho, pretendem dar ao aventureiro pistas de onde possa estar o restante do tesouro encontrado por Sauniere.
Embora seja uma idéia muito romântica, é um total e completo absur­do. Primeiro, é pouco provável que essa hipótese seja capaz de explicar seus constantes problemas de caixa; segundo, ele inventou os assim chamados mapas do tesouro (o simbolismo da sua igreja), o que não é uma coisa lá muito inteligente se acaso ele tencionasse guardar o dinheiro para si mesmo. Por último, se a igreja é essencialmente um grande mapa do tesouro aberto ao público em geral (não importa o quão antigo), e se ele queria que apenas determinadas pessoas o encontrassem, então por que ele simplesmente não contou a elas? E seu achado dificilmente explicaria a razão da riqueza e influência das pessoas que queriam visitá-lo em sua remota paróquia no alto da montanha.
Dadas todas essas evidências, parece que Sauniere estava sendo pago por alguém ou algo, algum tipo de serviço que envolvia sua permanência em Rennes-le-Château, onde ele insistia em morar mesmo quando lhe ordenavam que se mudasse. Suas atividades revelam que ele definitivamente busca­va alguma coisa: suas escavações noturnas no cemitério, suas longas caminhadas pelas redondezas, e mesmo as viagens para locais distantes, que duravam vários dias. No entanto, era de suma importância que se pensasse que ele ainda estava em Rennes-le-Château, a ponto de fazer com que du­rante suas ausências Marie Dénarnaud regularmente respondesse às cartas que lhe eram enviadas, dizendo que ele estava muito ocupado para poder responder pessoalmente daquela vez (alguns desses estoques de respostas foram encontrados nos documentos dele após sua morte).
Um novo ângulo apareceu na história de Sauniere em 1995, quando o esoterista André Douzet construiu uma maquete com uma paisagem em relevo, que Sauniere supostamente encomendou pouco antes de sua morte'. A maquete mostra vales e colinas e o que parecem ser estradas ou rios atra­vessando-a. Existe um único prédio, um quadrado em uma das colinas. Osten­sivamente, ela retrata a região ao redor de Jerusalém, e locais bíblicos como o Jardim de Gethsemane e o Gólgota são indicados. Entretanto, a paisagem da maquete de forma alguma bate com aquela de Jerusalém: talvez porque na verdade ela retrate a região ao redor de Rennes-le-Château. Teria Sauniere tentado transformar sua propriedade em uma Nova Jerusalém?"

É possível passar toda uma vida estudando as possibilidades relacio­nadas ao mistério de Rennes-le-Château: realmente talvez seja essa sua função, ser glorificado e encobrir os assuntos reais. Não obstante, esse assunto sem dúvida é significativo, e desviou toda a atenção de um outro envolvimento igualmente sugestivo na região ao redor.
Outros padres das paróquias vizinhas estavam implicados no caso, incluindo o superior de Sauniere, Félix-Arsene Billard, Bispo de Carcassonne. Ele supostamente enviou Sauniere a Paris e colocou uma venda nos olhos para não enxergar o comportamento excêntrico e escandaloso deste (foi ap­enas após a morte de Billard, em 1902, e com a nomeação de seu sucessor, que Sauniere foi processado). E o próprio Billard estava envolvido em algum tipo de jogo financeiro duvidoso.'.
O mais conhecido do círculo de amigos em torno de Sauniere era o abade Henri Boudet (1837-1915), que tinha sido padre em Rennes-le-Châ­teau desde 1872. Homem sábio, erudito e reservado - em termos de temperamento o oposto de Sauniere -, também estava engajado em atividades es­tranhas. Em 1886 publicou um livro esquisito, Le vraie langue celtique et le cromleck de Rennes-les-Bains (A Verdadeira Linguagem dos Celtas e o Cromlech de Rennes-le-Balis), que deixou os pesquisadores perplexos desde sua publicação. O livro trata, primordialmente, de dois assuntos: uma teoria perversa que afirma que línguas antigas, como o celta, o hebreu e outras, derivam do anglo-saxão, e inclui vários exemplos hilariantes de como nomes de lugares da região de Rennes-les-Bains tinham raízes inglesas, e a descrição de vários documentos megalíticos da região. Boudet era um historiador e antiquário local bastante respeitado, e as teorias propostas são de tal forma improváveis que muitos chegaram à conclusão de que elas deveriam esconder uma mensagem profunda e secreta, a contra parte literária da decoração da igreja de Sauniere. Alguns chegaram a sugerir que as duas se complementa­vam, e que ao serem colocadas uma ao lado da outra dariam as direções para se chegar ao 'tesouro'. Se é assim, ninguém apresentou um sistema que deci­frasse tal mensagem de modo satisfatório, e o livro de Boudet continua tão confuso quanto era na época em que foi publicado. Suas outras atividades, entretanto, também se desenvolvem em paralelo com as de Sauniere, e, como este, também é conhecido por ter alterado as inscrições nas lápides do cemitério e mudado de lugar vários pontos de referência.
Alguns vêem em Boudet a mente por trás da obra de Sauniere, e che­gam a sugerir, assim como Pierre Plantard de Saint-Clair, sem qualquer consistência, porém, que Boudet era quem pagava Sauniere. No entanto, Boudet também é parte importante em um outro mistério bastante complexo: Plan­tard Saint-Clair escreveu ele próprio o prefácio da edição de Le vrai langue celtique... de 1978, e adquiriu terras nas redondezas de Rennes-les-Bains. Pode-­se ver na lápide de Boudet, na velha igreja, a marcação do local reservado pelo próprio Plantard Saint-Clair.
Um outro contemporâneo de Sauniere pertencente ao clero era o abade Antoine Gélis, pároco da aldeia de Coustassa, que fica do outro lado do vale do Rio Sais, vindo de Rennes-le-Château. Em 1° de novembro de 1897, o mais velho dos Gélis (então com 70 anos) foi encontrado morto, vítima de um brutal assassinato, tendo morrido em virtude de repetidas e violentas panca­das na cabeça, aparentemente desferidas por um assaltante que ele havia deixado entrar no presbitério e com quem estava conversando. Sauniere era amigo de Gélis, e registra um encontro com ele e muitos outros na página de 29 de setembro de 1891 de seu diário, apenas oito dias depois do registro da 'descoberta de uma tumba' .No período anterior a sua morte, Gélis vivia aparen­temente com medo, mantendo sua porta trancada e vendo apenas seu so­brinho, que lhe levava mantimentos. E havia recebido há pouco tempo uma grande soma de dinheiro, cerca de 14 mil francos, que ninguém conseguiu esclarecer de onde provinha. Escondeu essa soma em sua própria casa e igreja, e documentos foram encontrados que revelavam os locais dos es­conderijos. No entanto, virtualmente todo o dinheiro ainda permanecia nesses locais após sua morte. O assassino, que nunca foi encontrado, revir­ou a casa, mas não pegou sequer os cerca de 800 francos que estavam bem à mão. Mais estranho ainda, o assassino posicionou o corpo de Gélis ritualisti­camente, com os braços cruzados sobre o peito e deixou uma mensagem em um pedaço de papel com as palavras 'viva Angelina'. Não foi possível encontrar qualquer motivo para a ocorrência do crime.
Existe uma dupla de acontecimentos particularmente estranhos rela­cionados com o assassinato de Gélis. Sua lápide no cemitério da igreja em Coustassa, foi posicionada, a única entre todas as outras lápides, de modo a ficar direcionada para Rennes-le-Château, que está bem visível no alto da colina oposta. A sepultura também tem uma insígnia de rosa-cruz. E embora esse crime brutal de um senhor velho e frágil chocasse a população local, a dio­cese parece que quis que todo o assunto fosse esquecido tão rapidamente quanto possível. Quando Gérard de Sède tentou investigar essa questão, no início dos anos 60, não pôde encontrar nenhum registro sobre o assassinato nos arquivos da diocese em Carcassonne.Apenas em 1975 dois advogados reconstruíram a história através dos registros da polícia e do poder judiciário locais}'
Chegou-se mesmo a sugerir que Sauniere foi o responsável pelo assas­sinato de Gélis, mas isso é pura especulação. Parece, entretanto, que alguma coisa sinistra estava acontecendo e que envolvia os padres locais além dos limites de Rennes-le-Château.

Sem sombra de dúvida, o vilarejo de Rennes-le-Château é importante por si mesmo, mas talvez tenha se colocado muita ênfase sobre isso, pois toda a região vizinha também foi envolvida no mistério.A maioria dos pesquisadores reconhece o fato de que existem outros lugares igualmente estranhos e atrativos nas redondezas, mas a tendência é vê-los apenas como pano de fundo para a história de Sauniere. Contudo, se ele fez uma descoberta, exis­tem diversos lugares onde o poderia ter feito. Sem contar suas ausências do vilarejo, que algumas vezes chegavam a levar semanas ou meses, ele também era conhecido por dar longas caminhadas nas vizinhanças (e seu entusiasmo pela caça e pesca bem poderia ser um meio de encobrir alguma outra ativi­dade).
Os Dossiês secretos afirmam que Sauniere estava trabalhando para o Monastério de Sion, mas existe alguma prova de sua influência na região? Vimos que Pierre Plantard de Saint-Clair possuía terras próximas a Rennes-­les-Bains, e comprou uma cova para si no cemitério da cidade, mas será que as aparentes preocupações da organização realmente têm seu reflexo nessa região?
Dada a extraordinária mistura de culturas das sociedades secretas no Languedoc seria surpreendente se assim não fosse. De fato, um estudo sobre a região próxima a Rennes-le-Château resultou em muitas pistas, não apenas em relação ao Monastério como também sobre uma tradição secreta muito mais ampla, uma tradição que já suspeitávamos que existisse. Estávamos a ponto de descobrir aquilo que podemos chamar de a Grande Heresia da Eu­ropa, a extrema veneração, mesmo que oculta, a Maria Madalena e João Batis­ta.
Existe uma incrível proliferação de igrejas dedicadas ao Batista nessa região. No geral elas são fundadas em enclaves; por exemplo, existem três igrejas de 'João' na pequena região de Belveze-du-Razes (grande parte dessa região chama-se La Magdalene).
É bastante interessante também que a atual igreja de 'Madalena' em Rennes-le-Château antes fosse somente a capela de um castelo, enquanto uma outra igreja abençoava o vilarejo, e era dedicada a João Batista." Esta foi destruída no século XIV quando Rennes-le-Château foi capturada por tropas da nobreza espanhola, aparentemente tendo sido demolida pedra por pedra na crença de que algum tesouro ali se escondia."
Uma inexplicada reviravolta aconteceu no vilarejo vizinho de Arques, quando a igreja original de João Batista passou a ser dedicada a Santa Ana. Esse evento é algo particularmente singular porque ela ainda mantém uma relíquia do Batista.
Arques e Couiza, onde há uma outra igreja de 'João', pertencera à família de Joyeuse até 1646, quando Henriette-Catherine de Joyeuse vendeu todas as terras que possuía no Languedoc à monarquia francesa. Ela era a viúva de Charles, Duque de Guise, que fora torturado por Robert Fludd, trazido espe­cialmente da Inglaterra para realizar a tarefa.
Havia em Couiza ou em Arques uma Madona Negra, conhecida como Notre-Dame de la Paix, que foi levada para Paris pelos de Joyeuse em 1576, onde ainda pode ser vista na igreja das Irmãs do Sagrado Coração (na décima-segunda circunscrição).'. Estranhamente, Sauniere correspondia-se com o superior dessa Ordem, para quem era alguém claramente especial. Em uma carta enviada a ele, a Irmã Augustine Marie, Secretária da Ordem, em 5 de fevereiro de 1903," pediu-lhe que rezasse missas especificamente em honra de suas Madonas Negras, oferecendo vender-lhe uma estátua do Petit Jésus de Prague (que ainda pode ser visto na Villa Bethania), e, de um modo um tanto misterioso, agradeceu 'pela devoção que você demonstrou ao nosso amado Rei'. Isso poderia ser uma referência a algum pretendente ao trono francês ou a Jesus, embora, como veremos, houvesse um outro 'Rei' que era venerado por grupos heterodoxos. Há, no entanto, uma sugestão de um signi­ficado diferente,ou talvez codificado, nas palavras da Irmã Augustine Marie, e a curiosa implicação de que era algo especial relacionado com o pároco (e os paroquianos) de Rennes-le-Château.
A família de Joyeuse também comprou o João Batista da igreja de Arques, que foi construída sobre as ruínas de um antigo castelo que fora destruído pelos homens de Simon de Monfort. A atual torre do sino e a parede principal faziam parte do castelo original. Como já vimos, a igreja fora uma vez dedicada a João Batista, mas agora era dedicada a Santa Ana, embora nem mesmo o prefeito de Arques pudesse nos explicar a razão da mudança.
Seu predecessor nos anos 30 e 40 foi Déodat Roché, um grande estudi­oso da história esotérica da região e que estava por trás de uma das mais honestas tentativas de restabelecer uma Igreja Cátara na região. Um dos tios de Roché era o médico de Sauniere, e um outro era seu tabelião.
No meio do caminho entre Rennes-le-Château e Limoux fica o balneário de Alet-les-Bains. Antigamente' sede do bispado (antes desse mudar-se para Carcassonne), Alet era na Idade Média um centro alquímico de renome. A família de Nostradamus veio dessa cidade, e é possível que o famoso profeta tivesse vivido ali durante algum tempo. A cidade tinha conexões templárias, que remontavam aos primórdios da Ordem - muitas leis que lhes garantiram a doação de terras foram lá assinadas na década de 1330 -, e símbolos tem­plários podem ser vistos gravados na madeira de algumas das pitorescas ca­sas medievais da cidade; realmente, a cota de armas da cidade porta uma cruz templária. A imponente igreja, de Santo André, tem uma curiosa ligação com a Ordem. O escritor e pesquisador Franck Marie' demonstrou que (como a capela de Rosslyn) esta foi projetada com base na geometria da cruz dos templários, embora a igreja tenha sido construída no século XIV, após a supressão da Ordem. O prédio também é notável por suas janelas que portam o símbolo da estrela de seis pontas, a Estrela de Davi. Sem contar a óbvia associação com os judeus (o que é, para dizer o mínimo, bastante estranho em uma igreja cristã medieval), O símbolo também tem conotações com a magia tradicional, simbolizando a união dos princípios masculino e femini­no.

A rua principal de Alet-les-Bains é a avenida Nicolas Pavillon, em homenagem a seu bispo mais famoso (cujo bispado durou de 1637 até 1677). É uma figura significativa, que esteve envolvida nos eventos relacionados com o Monastério de Sion. Pavillon, junto com dois outros clérigos, o famoso São Vicente de Paulo e Jean-Jacques Olier (o construtor de St Sulpice), eram a força motriz por trás da Compagnie du Sant-Sacrament, que também era con­hecida entre seus membros como 'a Conspiração dos Devotos'. Publicamente uma instituição dedicada à caridade, hoje é reconhecida pelos historiadores como sendo a sociedade secreta político-religiosa que manipulou líderes pro­eminentes da época, chegando mesmo a influenciar o próprio monarca. A Compagnie ocultou tão bem suas reais intenções que os historiadores ainda não concordam totalmente sobre a sua verdadeira natureza; algumas vezes parece que segue a corrente principal da Igreja Católica,outras,porém,parece ser totalmente herética. Argumentou-se que ela era, na verdade, testa-de-ferro do Monastério de Sion.'. Como já vimos, sua sede ficava no Seminário de St Sulpice, em Paris.
Um desses conspiradores, o misterioso São Vicente de Paulo (1580­1660), que estranhamente afirmava ter estudado alquimia, é venerado em outro local que figura entre um dos mais enigmáticos do Languedoc.Trata-se da basílica de Notre-Dame de Marceille, que fica ao norte de Limoux, logo na saída da cidade. Em seu terreno há uma estátua de São Vicente, para marcar O fato de que ele fundou a Ordem dos Padres Lazaristas, que, desde 1876, esteve encarregada da basílica (significativamente, os padres lazaristas de Notre-Dame de Marceille eram proeminentes entre aqueles convidados para as ce­rimônias que Sauniere realizava ao inaugurar as diversas partes de seu do­maine).
Esse lugar tem muitas ligações provocantes com as 'heresias' que estávamos investigando." Para começar, apesar de ser escrito de forma diferente, 'Marceille' (cuja derivação é desconhecida) evoca a Madalena através da con­exão com 'Marseilles'. A basílica foi construída no local de um antigo san­tuário pagão, ao redor de uma fonte que tem a reputação de ter propriedades curativas, em particular para os olhos. A igreja tomou seu nome de uma Ma­dona Negra do século XI, que ainda está à mostra nessa igreja, e com a qual muitos milagres estão relacionados. Talvez, com esse passado, não devesse causar nenhuma surpresa descobrir que o lugar pertencera aos templários. Durante séculos esse local foi um centro de peregrinações.
Ao longo dos anos, por alguma razão, sempre ocorreram disputas entre várias ordens religiosas para deter algum tipo de controle sobre esse local. Originalmente pertencia à abadia beneditina de St. Hilaire, que durante a Cru­zada de Albi foi fonte de comentários hostis devido à sua política de neutral­idade em relação aos cátaros (toda a população de Limoux foi excomungada em determinado momento por abrigar os cátaros). No século XIII a disputa se dava entre o arcebispo de Narbonne, a Ordem Beneditina e os dominica­nos. O rei mais tarde teve que intervir em uma disputa em torno da posse sobre o lugar, entre o arcebispo, o Lorde de Limoux e Guillaume de Voisins, Lorde de Rennes-le-Château. Em 14 de março de 1344 (o centésimo aniversário da misteriosa cerimônia cátara em Montségur, na noite anterior àquela em que alguns voluntariamente se atiraram na fogueira) o Papa Clemente VI deu a igreja para o Colégio de Narbonne em Paris, em cuja posse ficou até a metade do século XVII, quando passou para o bispo de Alet-les-Bains (a prin­cipal fonte de renda para o Colégio de Narbonne eram os rendimentos da igreja de Maria Madalena em Azille, no Aude"). Durante a revolução, a igreja e as terras foram vendidas, mas a Madona Negra foi escondida pelo Monas­tério da Ordem dos Penitentes Azuis, um curioso grupo que tinha ligações com os maçons do Ritual Escocês Purificado e com a família Chefdebien, que, como ainda veremos, tem um papel significativo nessa trama." A igreja foi restaurada como um local de culto em 1795.
Uma outra disputa aconteceu durante a época de Sauniere, envolven­do seu superior, Montseigneur Billard, bispo de Carcassonne. O lugar foi en­tão comprado e dividido entre vários proprietários, mas através de uma série de movimentos bastante inteligentes, e nem sempre éticos, ele contratou os serviços de um banqueiro como 'testa-de-ferro' a fim de comprar todas as partes. A venda foi realizada em 17 de janeiro de 1893 (embora Billard, de algum modo, tenha tomado posse da Madona Negra, que foi mantida em Limoux por algum tempo).Após um período de quatro meses, entretanto, o novo dono a vendeu de volta para o bispado e Billard então teve o total controle: que tanto queria.
Em 1912, o Papa Pio X decretou que a igreja deveria receber a con­dição de basílica, uma honra rara e totalmente inexplicável para um lugar até certo ponto bastante humilde. O status de basílica é tradicionalmente outor­gado a igrejas que tenham um significado especial, como é o caso de St. Maximin na Provença, que supostamente guarda os restos mortais de Maria Madalena.
A região ao redor de Notre-Dame de Marceille também é notável por ter sido, até bem recentemente, um lugar de interesse particular para os ciganos, que costumavam acampar entre a igreja e o Rio Aude, que está a algumas centenas de metros na direção oeste.
Notre-Dame de Marceille é especialmente mencionada no livro enigmá­tico do abade Boudet, Le vraie langue celtique...e foi isso que trouxe o pesquisador Jos Berthaulet para o local”. Ele fez uma interessante descoberta nas antigas terras da igreja, agora em mãos particulares: no aterro de Aude há uma galeria subterrânea. Essa galeria consiste de duas grandes câmaras que datam ou do último período de dominação de Roma ou do início do período de dom­inação dos visigodos (século III ou IV). Com cerca de seis metros de altura, a primeira dessas câmaras tem uma clarabóia no teto abobadado, mas a única entrada é bastante estreita, um túnel de um metro de altura, que aparente­mente foi construído posteriormente e que estava escondido dentro de uma pequena e hoje arruinada casa (que parece ter sido construída especialmente para esse propósito).A função da galeria é desconhecida. Alguns especulam afirmando que servia como uma câmara funerária para os visigodos, embora esteja vazia, ou como um local de iniciação para alguma escola de mistério. Qualquer que seja sua função, há alguma evidência de que ela esteve em uso até o início do século XX, embora sua existência fosse tão secreta que, como iríamos descobrir sob circunstâncias traumáticas, mesmo os padres da basílica a desconheciam. Talvez fosse essa curiosa câmara subterrânea que Billard es­tava tão ansioso para ter em mãos.
Durante uma viagem de pesquisa para a França, no verão de 1995, Clive Prince visitou a região com seu irmão Keith. Recebemos a informação relati­va à galeria, incluindo as indicações de como chegar até ela - cujo valor é inestimável, pois a entrada estava coberta por um formidável emaranhado de relva - do pesquisador belga Filip Coppens. Jos Bertaulet havia coberto par­cialmente a clarabóia, construída para permitir a entrada de luz na primeira câmara, com pedras, a fim de prevenir acidentes. Havia ainda, o que iríamos descobrir de um modo bastante doloroso, um buraco de cerca de seis metros de profundidade.
Keith, tendo descido até a primeira câmara com uma corda (pois as escadas de madeira já há muito haviam apodrecido), escorregou em um cas­calho coberto de húmus e caiu pesadamente no chão. Deitado no escuro entre escombros e ruínas, à primeira vista Kelth havia quebrado a perna, e embora mais tarde ficássemos sabendo que ele tivera apenas um ligamento rompido, não estava em condições de manter-se de pé, e assim escalar de volta para fora da câmara. Clive não tinha outra opção a não ser buscar por socorro (que chegou em um número tão grande que parecia que o apuro de Kelth era a coisa mais excitante que acontecia em muito tempo em Limoux). Após quatro horas uma equipe de resgate finalmente o retirou através da abertura no teto. E o levaram ao hospital de Carcassonne (uma coisa surgida desse episódio foi que, quando Clive foi pedir socorro na basílica, os funcionários demonstraram que não tinham o menor conhecimento da existên­cia da galeria).
Infelizmente, em virtude desse acidente, as investigações posteriores no subterrâneo da câmara tornaram-se impossíveis. Talvez uma conseqüên­cia mais séria fosse a ameaça das autoridades em selar a entrada para impedir que outros sofressem qualquer acidente. Foi um alívio quando soubemos que tal não acontecera, embora as entradas estivessem cobertas na época em que lá voltamos em companhia de Charles Bywaters, na primavera de 1996. Nes­sa ocasião, embora não fizéssemos nenhuma tentativa de explorar a câmara principal, investigamos o túnel que levava até ela e fizemos uma descoberta muito significativa.
O túnel parece se direcionar para uma parede, mas, seguindo a sugestão de Filip Coppens, examinamos essa parede e descobrimos que ela antes era uma porta.Foi deliberadamente selada - recentemente, ao que parece -, e as barras de ferro que foram colocadas na pedra poderiam ter sido maçanetas.A julgar pelo desconhecimento das autoridades locais sobre a existência da galeria, não poderiam ter sido eles a selar a porta. Então quem o fez, e, em qualquer caso, por que selar justo uma das câmara dessa forma?
Pelas condições das barras de ferro estimamos que a porta deveria ter cerca de cem anos, época em que Billard havia obtido o controle da proprie­dade. Teria ele escondido alguma coisa atrás dessa porta emparedada? Talvez o tenha feito, embora suas ações revelassem um desespero total em possuir essa propriedade, o que sugere que ele não estava escondendo, mas sim procurando por algo. E seja lá o que for, no mínimo deve existir pelo menos alguma pista naquele lugar úmido e secreto sobre o de que se tratava, senão não teria sido selado com tanto esmero.
Pouco antes de ser vitima de câncer,em 1995, Jos Bertaulet afirmou ter decodificado a estranha obra de Boudet, Le vraie langue Celtique... e concluiu que falava de um relicário que continha a cabeça de 'um Rei sagrado' e fora escondida naquela galeria subterrânea. Depois declarou que Boudet vin­culou a câmara com as lendas do Santo Graal. Como já vimos, o tema de reis sagrados decapitados faz parte dessas histórias (e Saunière foi agraciado pela devoção que demonstrou ao 'nosso amável Rei' pelas Irmãs do Sagrado Coração em Paris). E, significativamente, Notre-Dame de Marceille foi uma propriedade dos templários.
Pesquisas mais aprofundadas estão na dependência de se atravessar a porta selada, e parecia improvável, ao menos na época em que escrevemos, que a permissão para tanto pudesse ser obtida. No entanto, muitos temas que são centrais a essa investigação parecem estar reunidos nesse local: as Madonas Negras, os templários, Madalena e as lendas do Graal. E a história da ca­beça decapitada, na região tão repleta de igrejas dedicadas a ele, certamente evoca a figura de João Batista. Claramente, a região de um modo geral, e o local de Notre-Dame de Marceille em particular, ainda guardam um grande segredo.
É difícil ver como exatamente Sauniere se encaixa nesse quadro geral, mas ao mesmo tempo realmente parece que ele tomou parte nisso tudo. É bastante provável que tenha encontrado algo de suma importância, mas é impossível dizer o que foi, com alguma certeza. Entretanto, nossa investi­gação angariou muitas pistas surpreendentes do tipo de companhia que ele mantinha e os contatos que deliberadamente buscava. De fato, as provas que com cuidado juntamos, relacionadas às verdadeiras associações de Sauniere mudaram radicalmente e para sempre o padrão da imagem de humilde pároco do interior que sem querer encontrou um tesouro- Qualquer que seja a verdade sobre ele, sua importância se estende bem além dos limites desse curioso vilarejo de Rennes-le-Château.

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