Krak dos Cavaleiros

sábado, 4 de setembro de 2010

Abraão Abulafia e a Doutrina da Kabalah Profética

Abraão Abulafia e a Doutrina da Kabalah Profética










Que significa este símbolo na terminologia de Abuláfia?

O objetivo de Abuláfia, como ele próprio o exprime, é "libertar a alma, desatar ao laços que a prendem", (Ele fala no Auswahl kabbalistischer Mystik, p. 18, e, mais vezes, nos seus escritos inéditos, do "desatamento dos nós junto aos selos"). "Todas as forças interiores e as almas ocultas no homem estão distribuídas e diferenciadas nos corpos. Toda força, quando seus laços são desatados, retornam à sua origem, que é uma, sem qualquer dualidade, e que compreende a infinita multiplicidade". O "desatamento" é pois retorno da multiplicidade e separação em direção à unidade original. Como um símbolo da grande libertação mística da alma das cadeias da sensualidade, o "desatar laços" ocorre também na teosofia do budismo. Recentemente um sábio francês publicou uma obra didática tibetana, cujo título pode ser
traduzido como "Livro sobre o Desatamento dos Nós", ("Samdhi- Nirmocana Sutra ou Sutra détachant les noeuds", ed. Lamotte, Paris 1935) Significa que há certas barreiras que separam a existência pessoal da alma humana do fluxo da vida cósmica, personificada para ele no Intellectus Agens dos filósofos, que permeia a
totalidade da Criação. Há um dique que conserva a alma confinada nos limites da existência normal e natural e a protege contra o dilúvio da corrente divina, que flui debaixo ou ao redor dela; mas o mesmo dique também impede a alma de tomar conhecimento do divino. Os "selos" impressos na alma impedem uma tal inundação e garantem sua função normal. Por que a alma é como que selada? Simplesmente porque, responde Abuláfia, a vida diária dos seres humanos, suas percepções do mundo sensível, invadem e impregnam a mente com uma multidão de formas ou imagens sensíveis (chamadas, na linguagem dos filósofos medievais, "formas naturais"). A mente, ao perceber todos os tipos de objetos naturais e ao admitir suas imagens à consciência, cria para si mesma, por esta função natural, um certo modo de existência que traz o selo da finitude. A vida normal da alma, em outras palavras, é mantida dentro dos limites determinados por nossas percepções sensórias e por nossas emoções, e enquanto ela estiver cheia destas, ser-lhe-á extremamente difícil perceber a existência de formas puramente espirituais e coisas divinas. Se quisermos deixar que a vida divina irrompa na alma através das fronteiras da vida natural e no entanto não a destrua, é preciso procurar um caminho onde uma tal passagem possa efetuar-se com segurança. Este caminho situa-se na direção sugerida pelo velho adágio: "Quem está todo cheio de si mesmo, não tem lugar para Deus". Tudo aquilo que ocupa o eu natural dos homens, deve ou desaparecer ou ser transformado, de modo a permitir que transpareçam os delicados contornos da espiritualidade interior através do invólucro das coisas naturais. Abuláfia, lança os olhos em torno, buscando formas mais altas de percepção, que, ao invés de bloquear o caminho para as regiões mais profundas da alma, facilitem o acesso a elas e as libertem. Ele quer que a alma se concentre na contemplação de algo altamente espiritual, que no entanto não estorve no processo da purificação da alma. Se, por exemplo, se observar uma flor, um passarinho, ou qualquer outra coisa, e puser a pensar a seu respeito, o objeto da minha reflexão tem por si próprio um significado, em suma: um sentido. Estou pensando nesta flor, neste pássaro determinado. Mas, como pode a alma aprender a ver o divino com o auxílio de objetos cuja natureza é tal que captam a atenção do espectador e a desviam do seu objetivo? O místico judeu não sabe de um objeto de contemplação em que a alma imerge até o êxtase, como o da meditação sobre a Paixão no misticismo cristão. Abraão Abuláfia, portanto, procura antes um objeto absoluto para uma tal meditação; isto é, um objeto capaz de estimular o surgimento de uma vida profunda da alma e esvaziá-la das formas naturais, que possa pois assumir a máxima importância, sem possuir, todavia, por si mesmo, nenhuma importância. Ele pensa haver encontrado semelhante objeto no alfabeto hebraico, nas letras. Trata-se de um objeto não intuitivo, abstrato, com que a alma deve ocupar-se, pois tudo o que é perceptível tem um sentido e um significado próprio. Não basta, que a alma se ocupe com a meditação de verdades abstratas, pois mesmo aqui ela permanece atada a seus significados específicos. O objetivo de Abuláfia é antes apresentar-lhe algo não apenas abstrato, mas também indeterminado, pois todas as coisas assim
determinadas têm uma importância e uma individualidade próprias. Assim, baseando-se na natureza abstrata e incorpórea da escrita, ele desenvolveu uma teoria da contemplação mística de letras e suas combinações, enquanto constituídas do nome de Deus. Pois este é o
objeto real e, o sentido judaico, de uma tal contemplação mística. O nome de Deus, que é algo absoluto, reflete o sentido oculto e a totalidade da existência; o nome através do qual todo o resto adquire significado, e que no entanto não possui, para a mente humana, qualquer significado próprio. E assim argumenta Abuláfia, quem conseguir fazer este grande Nome de Deus, a coisa menos concreta e perceptível do mundo, objeto de meditação, está no verdadeiro caminho em que se abre a vida oculta da alma. A partir deste conceito, Abuláfia expõe uma disciplina, que ele denomina Hochmat Há-Tzeruf, "a ciência de combinar as letras". Esta é descrita como um guia metódico para a meditação, com o auxílio de letras e suas combinações. As letras individuais ou suas composições não precisam como tais ter um "significado" no sentido ordinário; é uma vantagem, que muitas vezes pareçam vazias de sentido, pois neste caso há menos probabilidades de que nos distraiam. É verdade que, elas não são realmente desprovidas de nexo, pois ele aceita a doutrina cabalística da linguagem divina como a substância da realidade. Segundo esta doutrina, todas as coisas existem somente em virtude do seu grau de participação no grande nome de Deus, que se manifesta através de toda a Criação. Há uma linguagem que exprime o puro pensamento de Deus, e as letras desta linguagem espiritual são ao mesmo tempo elementos da mais profunda realidade espiritual e do conhecimento mais profundo. O misticismo de Abuláfia representa um curso sobre a
linguagem divina. O objetivo desta disciplina, é gerar, com o auxílio da meditação, um estado especial de vida nova na alma humana, algo como um movimento harmónico do puro pensamento, que se
desprendeu de todo objeto sensível. O próprio Abuláfia comparou corretamente esta disciplina com a música. Realmente, a prática sistemática da meditação tal como ele a recomenda, produz uma sensação bastante parecida com a que experimentamos ao ouvir
harmonias musicais. A ciência da combinação é uma música do pensamento puro, em que o alfabeto toma o lugar da escala musical. Todo o sistema apresenta uma semelhança bastante estreita com os princípios musicais, aplicados não ao som, mas ao pensamento que medita. Encontram-se aqui composições e modificações de motivos, e sua combinação em todas as variações possíveis. Isto é o que o próprio Abuláfia diz em um de seus livros: "Sabe que o método do Tzeruf é comparável à música; pois o ouvido escuta sons e os sons combinam se, segundo a natureza da melodia e dos instrumentos.
Assim, dois instrumentos diferentes podem formar uma combinação e se os sons se casam, o ouvido do que escuta registra uma sensação agradável ao reconhecer sua diferença. As cordas tocadas vibram, e o som é doce ao ouvido. E do ouvido a sensação vai ao coração, e
do coração ao braço, centro da emoção, e a apreciação da diversidade de novas melodias produz sempre mais prazer. É impossível produzir este sem a combinação dos sons, e o mesmo se aplica à combinação das letras. Ela toca a primeira corda, que é comparável à primeira letra, e caminha para a segunda, terceira, quarta e quinta, enquanto os vários sons se combinam. E os segredos que se produzem nestas combinações deleitam o coração, que reconhece seu Deus e é tomado sempre por uma nova alegria", (Gan Naul, ms. Munique 58, f. 323b. O texto da passagem está impresso no Sefer Peliá 1784, pp. 52d-53ª) A atividade dirigida do adepto empenhado em combinar e separar as letras em sua
meditação, compondo motivos inteiros em grupos separados, combinando diversos grupos entre si, e apreciando suas combinações em todos os sentidos, não é para Abuláfia,
portanto, mais absurda ou incompreensível que a do compositor. Assim, o músico expressa "mais uma vez" o mundo em sons sem palavras, e sobe a alturas infinitas e desce a infinitos abismos, também o místico faz o mesmo: para ele, as portas fechadas da alma abrem-se na música do pensamento puro, que não está mais limitado ao "sentido", e no êxtase das profundas harmonias que se originam no movimento das letras do grande Nome, abrem o
caminho que conduz a Deus. Esta ciência da multivariedade da composição de letras e a prática da meditação controlada é para Abuláfia nada menos que a "lógica mística", que corresponde à harmonia interna do pensamento em seu caminho para Deus, (No trecho impresso em Pholosophie und Kabbala, p. 15, Abuláfia fala de sua arte combinatória como Hochmat há -higaion há-
penimi há- elion.). O mundo das letras, que se revela nesta disciplina, é o verdadeiro mundo da felicidade, (Em seu Imrei Schefer, ms. Munique 285, p. 75b). Cada letra representa um
universo inteiro para o místico que se abandona à sua contemplação, (No seu Sefer Melitz, no mesmo manuscrito, diz ele "Cada consoante representa na Kabalah um mundo"). Todas
as línguas faladas, não só o hebraico, são passíveis de transformarem-se por meio desta combinatória mística em língua sagrada e em nomes sagrados. E como todas as línguas provêm de uma corrupção da língua original, o hebraico, todas permanecem aparentadas a ela. Em todos os seus livros, Abuláfia gosta de jogar com palavras gregas, latinas e italianas para apoiar suas idéias. Pois, em última análise, toda palavra pronunciada consiste de letras
sagradas, e sua combinação, separação e reunião revelam profundos mistérios ao cabalista, e desentranham para ele o segredo da relação de todas as línguas com a língua sagrada, (Cf. Sefer Há-O, p 71, Philosophie und Kabbala, p. 20, onde ele diz: "E preciso fundir todas as línguas na língua sagrada, até que pareça como se toda palavra pronunciada fosse composta pelas sagradas letras, que são as vinte e duas letras hebraicas". Em seus escritos, menciona
que o termo hebraico para as "setenta línguas" (que significa em hebraico a totalidade das línguas) tem o mesmo valor numérico que o termo hebraico "combinação das letras"). O Sefer Há-Tzeruf encontra-se em Paris, Bibl. Nat., 774). são guias sistemáticos para a
prática deste contraponto místico. Através de exercícios metódicos, a alma se acostuma à percepção das formas superiores, em que ela vai aos poucos se embebendo. Abuláfia expõe um processo que vai da pronuncia à sua anotação e contemplação dos sinais escritos, e
finalmente da escrita ao pensamento e meditação puros de todos estes objetos da "lógica mística". Pronunciação, mivtá; anotação, michtav, e pensamento, machschav, formam assim três camadas superpostas de meditação. As letras são o elemento comum a todas, elementos que se manifestam em formas sempre mais espirituais. Dos movimentos das letras resultam as verdades da razão. Mas o místico não pára aqui. Ele distingue ainda entre matéria e forma das letras, para aproximar-se mais do seu núcleo espiritual; ele mergulha na combinação das formas puras das letras, que agora, sendo formas puramente espirituais, se imprimem na alma. Ele procura compreender as relações entre as letras e os nomes formados pelos métodos cabalísticos de exegese, (Cf. Philosophie und Kabbala, pp. 18-20). O valor numérico das palavras, a Guematria, é aqui de importância especial. A isto cumpre acrescentar um outro ponto: o leitor moderno destes textos ficará bastante surpreendido ao deparar com a descrição detalhada de um método que Abuláfia e seus discípulos denominam Dilug e Kefitzá, "salto" ou "pulo" de uma concepção a outra. Na verdade, isto não é mais que um método bastante notável de usar associações como um
método de meditação. Não se trata do "jogo livre das associações" utilizando pela Psicanálise, mas antes de um método de passar de uma associação a outra, conforme regras determinadas que são todavia bastante flexíveis. Cada "salto" abre nova esfera, definida por certas características formais, não materiais. Dentro desta esfera o espírito pode associar livremente. O "saltar", portanto, une elementos de associação livre mas dirigida, e diz-se que assegura resultados extraordinários no tocante à "ampliação da consciência" do iniciado O "salto" traz à luz processos ocultos do pensamento, "liberta-nos da prisão da esfera natural e nos conduz às fronteiras de esfera divina". Todos os outros métodos, mais simples, de meditação, servem apenas de preparo para este grau supremo, que contém e supera todos os outros, (Uma elaboração completa da técnica de associação foi publicada por mim com base no Sulam Há-Aliá de Iehudá Albottini ou antes Al-Buttaini, em Kiriat Sefer, vol. XXII 1945, pp. 161-171.). Abuláfia descreve em vários lugares os preparativos para a meditação e para o êxtase, bem como o que acontece ao adepto no ápice do arrebatamento. O relato de um discípulo seu, confirma suas afirmações. O próprio Abuláfia afirma, numa passagem: (Jellinek, em Philosophie und Kabbala, a partir do Haie Olam Há-Bá: "Prepara-te para teu Deus, ó Israelita! Prepara-te para dirigir teu coração a Deus somente. Limpa teu corpo e escolhe uma vivenda isolada onde ser algum escute a tua voz. Ssenta em teu cubículo e não reveles a homem nenhum o teu segredo. Se puderes, fá-lo de dia na casa, mas é preferível que o
completes durante a noite. No momento em que te preparares para falar com teu Criador, desejando que Ele te revele o Seu poder, tem cuidado para abstrair teu pensamento das vaidades deste mundo. Cobre-te com teu xale de orações e põe telifim em tua cabeça e tuas mãos, para que possas imbuir-te de temor pela Schehiná que está próxima a ti, limpa tuas roupas, e, se possível, que todos os teus trajes sejam brancos, pois estas coisas são úteis para dirigir o coração ao amor e ao temor de Deus. Se for noite, acende muitas velas, para que tudo esteja claro. Põe então pena, tinta e uma mesa junto a ti e lembra-te de que vais servir a Deus com alegria no coração. Começa a combinar muitas ou algumas letras, a permutá-las e combiná-las até que se aqueça teu coração. Presta atenção aos seus movimentos e ao que podes produzir ao movê-las. E quando sentires que teu coração já se aqueceu, e vires que, pela combinação das letras, podes perceber coisas novas, que não
poderias conhecer pela tradição humana nem por ti mesmo, e quando estiveres assim preparado para receber o influxo de força divina, volta então todas as tuas representações verdadeiras para representar o Nome de Deus e seus gloriosos anjos em teu coração, como se fossem seres humanos sentados ou em pé ao teu redor. E senta-te como um embaixador a quem o rei e seus ministros vão enviar em missão, e que espera para ouvir de seus lábios algo sobre a missão, seja do próprio rei, seja de seus servos". "Tendo imaginado isto, volta todo o teu espírito para compreender com teus pensamentos as inúmeras coisas que hão de penetrar em teu coração através das letras imaginadas. Pesa-as como um todo e a cada qual individualmente, como alguém que escuta uma parábola ou um sonho, ou que medita num problema de um livro científico, e tenta assim interpretar aquilo que ouvires da maneira que mais razoável te parecer. E isto tudo irá suceder depois que afastares pena e pergaminho, ou depois que eles se tiverem afastado de ti pela força do teu pensamento. E sabe que quanto mais forte for o influxo intelectual dentro de ti, tanto mais fracas se tornarão tuas partes internas e externas. Todo o teu corpo será possuído de
um tremor muito intenso, de tal maneira que pensarás estares à morte, pois tua alma, demasiado contente pelo seu conhecimento, deixará o corpo. E prepara-te para escolher conscientemente a morte neste momento, e então saberás que avançaste o suficiente para receber o influxo. E então, desejando honrar o Nome glorioso, servindo-o com a vida de teu corpo e tua alma, cobre tua face e tem medo de olhar para Deus. Regressa então às coisas corporais, levanta-te e come e bebe um pouco, ou refresca-te com um perfume agradável, e devolve teu espírito ao seu invólucro até a próxima vez, e alegra-te por teu quinhão, e sabe que Deus te ama".
Se a alma viver inteiramente neste mundo, no qual se afasta de todas as imagens externas e estiver empenhada apenas na contemplação do nome de Deus, ela adquire com isto o devido preparo para a derradeira ruptura. Os selos que a encarceram em seu estado normal e lhe vedam a luz divina são afrouxados, e podem ser ao fim totalmente dissolvidos. A fonte oculta da vida divina irrompe na obra ou desaba sobre ela. Mas agora que ela foi
assim preparada metodicamente para isto, esta irrupção não mais sufoca toda consciência pessoal nem a esmaga, ou a tira a um estado de confusão e auto-abandono. Pelo contrário,
tendo galgado o sétimo e último degrau da escala mística, (Estes sete estágios são descritos pormenorizadamente por Abuláfia em sua missiva, que Jellinek publicou em Philosophie und Kabbala, pp. 1-4). e alcançado o seu topo, o homem vê-se plenamente cônscio no mundo da luz divina, cujo esplendor ilumina seus pensamentos e cura seu coração. Este é o estágio da visão profética, em que os mistérios inefáveis do Nome divino e toda a glória do seu reino se revelam ao iluminado. O profeta fala deles em palavras que exaltam a grandeza de Deus e trazem em si o seu reflexo. O êxtase, que Abuláfia considera o prêmio mais alto de contemplação mística, não deve ser confundido, com delírio inconsciente ou aniquilação completa do eu. Ele trata com certo desdém estas formas incontroladas do êxtase, que o homem procura sem preparo suficiente e chega a considerá-las muito perigosas. Sem dúvida, o êxtase racionalmente preparado sobrevém subitamente, (Cf. o livro citado p. 25, na nota 54) e não pode ser forçado; mas quando os ferrolhos são removidos e os selos retirados, a alma já está preparada para a "luz do intelecto" que a penetra. Abuláfia adverte, mais de uma vez, contra os perigos mentais e mesmo físicos da meditação não-sistemática e práticas similares. Ao combinar as letras, cada uma das quais, segundo o Livro Ietzirá, está coordenada com um membro especial do corpo, "deve-se tomar muito cuidado para não modificar a posição de uma vogal ou consoante, pois se ele (o adepto) errar ao ler a letra que comanda um certo membro, este membro pode ser arrancado, ou trocar de lugar, ou alterar sua natureza, sendo transformado imediatamente em outra forma, de modo que a pessoa pode ficar aleijada", (Em seu Imrei Schefer, diz Abuláfia: "Uma torrente de fogo sai de Deus e quem se exercita na arte da combinação deve precaver-se e atender à honra de seu Nome, para que não lhe fuja todo o sangue e ele próprio não destrua a sua própria vida. Deve antes, quando seu coração se
exaltar, regressar imediatamente a seu lugar, pois a chave para o Nome divino está em suas mãos".) O discípulo de Abuláfia menciona também contrações espasmódicas da face. Abuláfia coloca grande ênfase na novidade e singularidade de sua profecia. "Sabei que muito da visão que Raziel viu é baseado no Nome de Deus e em sua Gnose, e também na sua nova revelação, que teve lugar na Terra em seus dias, e que nada houve de semelhante a ela desde os dias de Adão", (No seu Sefer Edut ms. Munique 285, f. 37b.) Os profetas que bebem da fonte do conhecimento do verdadeiro Nome são ao mesmo tempo, segundo ele, os verdadeiros amantes. A identidade da profecia com o amor a Deus encontra sua prova também na mística dos números, e aquele que serve a Deus por puro amor está no caminho certo que leva à profecia, (Numa passagem oriunda do Haie Há-Nefesch, que Jellinek imprimiu no fim de sua edição do Sefer HaOt, p,85.) É por isto que os cabalistas, com quem o puro temor a Deus se converte em amor, são para ele os verdadeiros discípulos dos profetas, (Haie Há-Nefesch, ms. Munique 408. fa .). Na opinião de Abuláfia, a doutrina do êxtase profético não é em última análise mais do que a doutrina da profecia proposta pelos filósofos judeus, especialmente por Maimônides, que também vê na profecia, uma união temporária do intelecto divino com o humano, provocada através da preparação sistemática. A faculdade profética, segundo sua doutrina, representa a união do intelecto humano, na fase mais elevada do seu desenvolvimento com uma influência cósmica, normalmente situada no mundo inteligível, o assim chamado intellectus agens. O influxo deste intelecto ativo sobre a alma manifesta-se como visão profética. Abuláfia procura provar a identidade substancial de sua teoria da via da meditação com a doutrina da profecia amplamente reconhecida na Idade Média e outorgar-lhe, um estrito caráter racionalista, (Especialmente em seus comentários ao Moré Nevuhim, de Maimônides.). Seu comentário ao "Guia dos Perplexos" de Maimônides, vai longe neste sentido.
Estas racionalizações, não podem esconder o fato de que seus ensinamentos representam uma versão judaizada de uma antiga técnica espiritual, que encontrou sua expressão clássica nas práticas dos místicos hindus que seguem o sistema conhecido como Ioga. Para citar apenas um exemplo entre muitos, uma parte importante do sistema de Abuláfia consiste na técnica respiratória; (Exemplos disto encontram-se no Catálogo dos Manuscritos de Jerusalém, pp. 27-29; em Jellinek, Philosophie und Kabbala, pp. 40-41, bem como no Pardess Rimonim, de Moisés Cordovero, cap. XXI, sec. 1, que cita a partir de um escrito de Abuláfia), esta técnica encontrou seu desenvolvimento máximo na Ioga Hindu, onde é considerada o instrumento mais importante da disciplina mental. Além disso, Abuláfia prescreve com precisão certas regras de postura, certas combinações correspondentes de vogais e consoantes, certas formas de recitação, e em particular algumas passagens de seu livro "A Luz do Intelecto" dão a impressão de um tratado judaico sobre Ioga. A semelhança chega a alguns aspectos da doutrina da visão extática, enquanto precedida e provocada por estas práticas.





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