O segredo descoberto no local do Templo pelos Templários pode não ter qualquer relação com a Arca da Aliança, embora continue ligado a Salomão. De qualquer modo, é forçoso reconhecer que há muitos pontos comuns entre os Templários e este rei. Em primeiro lugar, temos de lembrar que, logo no início, Hugues de Payns e os seus amigos tinham tomado o nome de «Pobres Cavaleiros de Cristo» e isso até terem ocupado o local do Templo de Salomão - pelo menos é o que geralmente se diz. Ora, a partir do momento em que obtiveram a sua regra (logo,após as suas possíveis descobertas), lê-se no prólogo da versão francesa: «Aqui começa a regra da pobre cavalaria do Templo.»Muito em breve encontramos nas doações que lhes foram feitas os títulos de cavaleiros do Templo de Salomão. A expressão não veio,pois, por hábito e foi decidida muito rapidamente. Notemos, por outro lado, que o minnesãnger alemão, Wolfrain von Eschenbach, que se afirmava Templário, escrevia no seu Parzival que o Graal fora transmitido por Flégétanis, «da linhagem de Salomão», e que os Templários eram os seus guardiões.
Voltaremos a este ponto. Pensemos também na construção do Templo que Salomão confiara a mestre Hiram. O arquiteto, segundo a lenda, foi morto por companheiros invejosos aos quais recusara a divulgação de determinados segredos. A seguir ao desaparecimento de Hiram, Salomão enviara nove mestres à sua procura, nove mestres como os nove primeiros Templários à procura do arquiteto dos segredos. E depois, Salomão, tal como os Templários, apostou muito no comércio,sobretudo dos cavalos. Quis ter uma frota comercial para facilitar o seu negócio e os Templários, por sua vez, possuíram uma frota poderosa.Que pensava disso São Bernardo que fez a propaganda dos Templários e escreveu sobre o Cântico dos Cânticos, atribuído ao rei Salomão?A própria personalidade de Salomão é interessante de estudar, neste quadro. É símbolo de justiça: o seu julgamento é célebre; símbolo de sabedoria, também. Rei dos poetas, é autor do Cântico dos Cânticos que alguns pensam ser um documento cifrado, uma espécie de testamento de adepto.
Não podemos falar de Salomão sem lembrarmos a rainha do Sabá. Esta chegou a Jerusalém acompanhada por uma magnífica caravana de camelos carregados de presentes fabulosos. Balkis a magnífica vinha pÔr à prova Salomão, cuja reputação chegara até ela e tinha a intenção de lhe apresentar enigmas muito difíceis de resolver.O Corão contém, a propósito da visita de Balkis, reflexões bastante
interessantes. Assim: Salomão herdou de David e disse: Homens! Ensinaram-nos a linguagem dos pássaros, e, de todas as coisas, fomos contemplados copiosamente. Na verdade, esse é por certo um favor evidente! A alusão à linguagem dos pássaros deixa entender que Salomão tinha conhecimento dos segredos ocultos da natureza. Esse tipo de denominação era bem conhecido dos trovadores e leva-nos de volta à escrita do Cântico dos Cânticos de Salomão, estudado de perto por São Bernardo. Mas, regressemos ao Corão: As tropas de Salomão, formadas por Djinns, Mortais e Pássaros foram reunidas à sua frente, divididas por grupos. Assim, Salomão tinha ao seu serviço homens mas também «génios» - isto é, conhecia os elementares *- e pássaros, isto é, seres voadores.
* O Espírito dos elementos, segundo o ocultismo. (N. do E.)
Então, Arca da Aliança, segredos de arquitectura, linguagem dos
pássaros? Ou outra coisa encontrada na Palestina? Mas o quê? Segredos ligados a Jesus? À sua vida? A Maria Madalena? Ao Graal, talvez... Consideremos mais uma possibilidade, por mais louca que seja. Segundo o Apocalipse de São João, depois de ter sido vencido e expulso do céu com os anjos que foram afastados da graça divina, Satã é acorrentado no abismo. Ora, a tradição afirma que esse abismo tem saídas e que estas se encontram obturadas. Uma delas encontrava-se, precisamente, selada pelo Templo de Jerusalém. O quartel dos Templários ficaria,pois, situado num local de comunicação entre diferentes reinos,característica comum à da Arca da Aliança. Ponto de contato tanto com o Céu como com os Infernos, um dos locais sagrados sempre ambivalentes, dedicados tanto ao bem como ao mal. Um local de comunicação ideal de que os Templários se teriam tornado guardiões. Uma lenda referida pelo Senhor de Vogüé conta que, na época de Omar,um homem, ao debruçar-se, avistou uma porta no fundo do poço donde tirava água. Desceu ao poço e transpôs a porta. Apareceu-lhe um jardim
magnífico. Arrancou uma folha de uma árvore e trouxe-a como
prova da sua descoberta. Mal saiu, apressou-se a ir prevenir Omar.
Correram para lá, mas a porta desaparecera e ninguém voltou a
encontrá-la. Ao homem restou apenas a folha que nunca murchou. Isto passava-se no local do Templo de Salomão. Uma tradição mais para transformar o local numa passagem entre diversos níveis e reinos. Relata-se também que o Templo de Salomão fora precedido, no local, por um templo pagão dedicado a Poseidon. Ora, ignora-se demasiadas vezes que Poseidon só muito tardiamente se tornou deus do mar. Antes, tinha a posição de Deus supremo e foi apenas com a chegada à Grécia dos Indo-Europeus que Zeus assumiu a liderança das divindades. Poseidon fora, no tempo dos povos pelasgos, o Deus criador, demiurgo que tinha um lugar privilegiado nas águas-mães salgadas. Era o grande agitador das terras, senhor das forças telúricas e, em alguns aspectos, aproximava-se de Satã.
Eugène Delacroix, iniciado da Sociedade Angélica, sabia-o bem quando decorou o tecto da capela dos Santos Anjos, na igreja de Saint-Sulpice, de Paris. Pintou nela São Miguel a deitar ao chão o demónio. Ora, esse demónio das origens, representou-o sob a forma de Poseidon, perfeitamente reconhecível devido aos seus atributos.
Muito bem! Os Templários encarregados de guardarem os locais por onde Satã poderia evadir-se da prisão que lhe fora atribuída na noite dos tempos, é algo que parecerá, sem dúvida, grotesco a muitos leitores modernos mas que seria conveniente reinserir nas crenças da época. E,depois, nunca se sabe... Tanto mais que Salomão também mandou construir santuários para «divindades estrangeiras». Mandou dedicar,nomeadamente, templos a Astarté, «a abominação dos Sidonenses» e a Milkom, «o horror dos Amonitas». O «deus ciumento» de Israel deve ter ficado furioso. Nesse campo, Salomão não se limitaria a ceder às pressões das inúmeras concubinas estrangeiras? Se agiu desse modo, que
não teria feito em recordação da rainha do Sabá, cujo reino podemos localizar, sem a menor dúvida, no lémen? Na sua maioria, os deuses do país de Baffis cheiravam muito a enxofre.
Em resumo, podemos considerar como uma quase certeza o fato de Hugues de Payns e Hugues de Champagne terem descoberto documentos importantes, na Palestina, entre 1104 e 1108.Esses achados estiveram, sem dúvida, na base da constituição dos nove
primeiros Templários e devemos ligá-los à decisão de lhes atribuir,
como residência, o local do Templo de Salomão.Aí, levaram a cabo escavações. Nessa fase, estava fora de questão aumentarem os seus efectivos, por causa do segredo. As suas pesquisas devem tê-los levado a encontrar algo realmente importante, pelo menos a seus olhos. A partir desse momento, a política da Ordem mudou.Que tinham encontrado? A Arca da Aliança? Um modo de comunicarem com poderes exteriores: deuses, elementares, génios, extraterrestres ou outros? Um segredo relativo à utilização sagrada e, por assim dizer, mágica da arquitectura? A chave de um mistério ligado à vida de Cristo ou à sua mensagem? O Graal? A forma de reconhecer os locais onde a comunicação, tanto com o Céu como com os Infernos, é facilitada, com o risco de libertar Satã ou Lúcifer? Poderíamos pensar que nos encontramos numa novela de H. P. Lovecraft,é certo, mas estas perguntas, embora não sejam racionais, surgem
imperativamente no contexto da época.
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