Krak dos Cavaleiros

terça-feira, 7 de setembro de 2010

LUZ E ILUMINAÇÃO




De todos os contrários na Natureza, os opostos – luz e trevas – são os mais óbvios. Para a mente primitiva, tanto a luz como as trevas têm uma qualidade positiva. As trevas têm tanta realidade para a mente primitiva quanto a luz. Alguns mitos dos povos primitivos representam a luz como criada na natureza das trevas, mas estes são relativamente poucos.


São muitas as experiências que, comuns à luz, estamos acostumados a associar à palavra luz. Por meio da luz, todas aas coisas que constituem nosso mundo visual têm existência para nós. Até mesmo os perigos são coisas palpáveis e definidas, na luz, porque podem ser percebidos. Sua forma visual dependem da luz. Quando abrimos os olhos, a luz flui para dentro deles e, com ela, vem a visão de todas as cenas, acontecimentos e circunstâncias que associamos à luz. Inversamente quando fechamos os olhos ou quando o Sol é encoberto por nuvens, ou pela cortina da noite, surgem as trevas e, com as trevas, tudo que conhecemos ou associamos à luz desaparece.


Para a imaginação desenfreada, o terror espreita nas trevas. Coisas que podem ser concebidas mas não percebidas. Na morte também não há visão objetiva mas, somente, trevas. Assim, as trevas simbolizam morte e esquecimento. No Egito, trevas e luz não eram concebidas isoladas, como duas entidades diferentes, mas, sim, como duas forças diferentes como os pólos de um ímã. Sabemos que o deus Ra era simbolizado pelo Sol e representava a sua força criadora, positiva. As trevas eram simbolizadas pelo deus Sete. Ele representava inércia, em contraste com a atividade relacionada com o poder do Sol; por conseguinte, as trevas eram um estado negativo. Na verdade, em seus salmos, os egípcios referiam-se ao Sol abrindo caminho através das revoltas nuvens das trevas, da noite, para emergir na aurora, indicando, assim, que as trevas eram consideradas como uma oposição inerte às forças ativas da luz.


No Livro do Gênese, no Antigo Testamento, está dito: "Faça-se a luz". Então somos informados que Deus separou a luz das trevas. O que indica, claramente, serem as trevas e a luz consideradas criações separadas, pelos antigos hebreus. Também indica que a luz do dia era considerada uma condição física e que se referiam a ela neste sentido. A Luz Maior, com sua importância mística e alegórica, não era incluída nessa referência, porque mais tarde lemos que Deus disse: "Façam-se luzeiros no firmamento dos céus", referindo-se às estrelas e à Lua, a luz menor. Referia-se à luz física, não a uma metáfora ou alegoria.


Na Bíblia, o simbolismo da luz e trevas, no sentido moral, não aparece, de forma clara senão no Novo Testamento, vários séculos depois dos livros do Antigo Testamento. Naquele, faz-se as trevas representarem o escondido. Sob o véu das trevas, é cometida a maioria dos crimes. Por conseguinte, as trevas assumem o equivalente moral do mal. Inversamente, a luz representa ação franca — coisas feitas franca e honestamente —, de modo que a luz é simbolicamente associada ao bem e à virtude. Então nos dizem que nossos olhos podem estar abertos e nossa visão pode ser boa e, entretanto, podemos ver. Isto significa que a mente está fechada, que a mente está em trevas. Portanto, a ignorância também torna-se associada às trevas. A sabedoria é relacionada com a luz e com a mente aberta e investigadora.


Muitas vezes se diz que, os que buscam o conhecimento e o saber, são habitantes da luz. Segue-se, naturalmente, que a luz é comumente considerada sinônimo de saber e conhecimento. Hoje em dia, são muitas as organizações ou irmandades religiosas ou místicas que obrigam, na verdade, os candidatos ou aspirantes, a declarar, em suas propostas de admissão, que estão em busca da luz, antes que sejam aceitos. Tal significa que eles estão em busca de conhecimento e de maior saber.


Contudo, os místicos de outrora tinham, acerca da luz, concepção muito diferente. Para eles, a luz não significava meramente conhecimento e saber. Os místicos e os rosacruzes de hoje também distinguem entre luz e iluminação. A distinção é sutil, mas merece nossa compreensão. Nossos olhos podem estar abertos e nossa visão pode ser boa, e podemos ver coisas que nunca vimos antes; por conseguinte, temos conhecimento da sua existência. Mas tendo visto essas coisas e sabendo que existem, elas podem nos parecer sem propósito. Ainda estamos intrigados, ainda estamos em dúvida a seu respeito e, portanto, nossa experiência visual tem pouco valor para nós. Por exemplo, podem mostrar-nos uma máquina ou um aparelho de laboratório complicado. Nossa visão é bem clara. Podemos descrever o que vemos, tão bem como quem nos mostrou a máquina; entretanto o objeto é ainda enigmático e desconcertante. Podemos, portanto, ter luz perceptual — um acúmulo de fatos — e, entretanto, permanecer, mentalmente, muito às escuras. Por conseguinte, para os místicos, iluminação significa compreensão.


Podemos andar na luz. Assim, a pessoa pode ser alguém em busca de conhecimento, de fatos novos e estranhos, um descobridor de informações, um esquadrinhador de livros, mas isto não é o suficiente. Ela, com toda a sua luz, tem de, eventualmente, alcançar a iluminação ou compreensão. Nos livros Confessio Fraternitatis, há uma afirmação no sentido de que o mundo tem de despertar da sua letargia e ir ao encontro do sol da manhã. Ora, naqueles tempos havia um interesse no conhecimento e no saber. Os homens tinham visão; podiam ver; e muitos deles buscavam a luz. Mas as Confessio significavam mais que isto; significavam que ao ir ao encontro do Sol e ao despertar da sua letargia, o mundo algum dia teria uma compreensão de si mesmo e de seu propósito. Certamente, hoje em dia, a Humanidade ainda tem grande necessidade de compreensão, mesmo com toda a luz e conhecimento que possuímos.
Diz-se que a iluminação segue-se a um período de meditação. Esta meditação é uma ponderação sobre o conhecimento que o estudante adquiriu nos diferentes graus dos seus estudos. Por conseguinte, isto prova que iluminação é compreensão, algo que se segue ao conhecimento. Um dos graus se chama Illuminati, o que quer dizer que naquele momento a consciência do estudante, os vários aspectos da sua consciência devem estar impregnados de uma compreensão daquilo que ele estudou. Portanto, devemos fazer da compreensão profunda a nossa meta na vida, e não apenas uma fonte maior de conhecimento ou um acúmulo maior de coisas e fatos externos. A luz, para o místico, sempre significa iluminação.

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