Krak dos Cavaleiros

terça-feira, 7 de setembro de 2010

OS HERDEIROS DO TEMPLO





A feira de adelo Quem, nos nossos dias, pode reclamar legitimamente a herança espiritual do Templo? Existe um único organismo que possa afirmar que detém os arquivos reais da Ordem, que conhece todos os seus ritos secretos e possui as chaves dos seus mistérios? Talvez, mas não o diz. No entanto, existem outros que fazem tudo para que se acredite nisso.Em 1981, a Cúria Romana realizou um recenseamento dos grupos ou associações que se reclamavam, de uma forma ou de outra, fruto da Ordem do Templo. Encontrou mais de quatrocentos. A maior parte não passa de organizações charlatanescas destinadas a explorar a credulidade dos «patos», de preferência endinheirados, dispostos a pagar muito caro para respirarem mais de perto o odor do Templo. Estas pretensas ressurgências da Ordem vendem iniciações aos tansos,concedem-lhes títulos majestosos e cevam-nos com fitas, cordões e medalhas em troca de metal sonante. Os comerciantes tomaram de assalto
os pseudotemplos.Algumas dessas associações têm uma atitude mais honesta. Os seus dirigentes procuram apenas recuperar aquilo que julgam ser o espírito do Templo. Alguns por certo se julgam investidos realmente de uma missão. Outros esperam ou julgam comunicar com os anjos da Ordem,através dos tempos. Charlatães ou pessoas sinceras, de qualquer modo, proliferam, e os seus grupos assumem, geralmente, nomes sonantes e anunciam finalidades por vezes curiosas. Assim, os «Cavaleiros da Aliança Templária» lutam contra a violência, a droga e a decadência moral. A «Fraternidade Joanita para o Ressurgimento Templário» ou «Ordem dos Cavaleiros do Templo de Cristo e de Nossa Senhora» baseia o seu ensinamento no modelo alquímico. A «Ordem dos Cavaleiros do Santo Templo», sediada em Corrèze, tem também um objetivo moral e procura desenvolver as virtudes com um optimismo
que a sua divisa confirma: «Nada está perdido, tudo pode ser salvo.»Outras são mais discretas nos seus objectivos. Citaremos apenas as denominações, sem mais comentários sobre todos esses grupos, por vezes muito veneráveis, mas que por certo teriam grande dificuldade em demonstrar a sua filiação templária.
Refiramos, pois, dada a curiosidade do título a «Ordinis Supremi
Militaris Templi Hierosolymitani», a «Ordem Suprema do Templo Solar»,a «Ordo Militiae Crucis Templi», os «Tempelherren in Deutschland», a«Ordem dos Templários da República da Finlândia», o «Círculo do Templo e do Santo Graal», a «Ordem dos Guardiões do Templo», o «Jacob-Molay-Collegium Autonomer Tempelherren-Orden», a «Ordem Renovada do Templo»,etc.
Temos sonhadores, iluminados, pesquisadores sinceros, vigaristas e
tansos, povoam, em simultâneo, a maior parte desses organismos. No entanto, não é por a maior parte dos que se reclamam da Ordem do Templo não poder justificar qualquer filiação que não existe uma
herança do Templo. Procuremos, pois, ver quais são os vestígios mais fiáveis que terá podido deixar.Realidade de uma herança templária Para que haja herança é necessário que tenha havido possibilidade de transmissão. Ora, essa possibilidade é incontestável, devido a todo um conjunto de razões. Em primeiro lugar, lembremo-lo, a operação levada a cabo em França não provocou uma detenção maciça e imediata nos outros países. Já podemos afirmar que, devidamente prevenidos, os Templários residentes fora de França tiveram tempo para tomar as suas
disposições para transmitirem aquilo que deveria ser transmitido.
Ademais, em determinados países, não foram incomodados sequer e
passaram, com armas e bagagens, para outras ordens criadas
especialmente para eles. Poderíamos dizer que esses tiveram de assumir a sua própria herança.Mesmo em França, nem todos os Templários foram presos, alguns escaparam. Também eles puderam, por vezes, ser os factores de transmissão.Eis já três boas razões para afirmarmos que o Templo não morreu com a supressão teórica da Ordem. Diga-se de passagem que isso é incómodo para aqueles que guardam um gigantesco tesouro templário, escondido algures. Com efeito, se a Ordem conseguiu sobreviver, de uma forma ou de outra, os seus dirigentes deviam pelo menos conhecer o segredo do
esconderijo. Então, podem vir-nos ao espírito duas possibilidades. Ou o tesouro foi recuperado e utilizado para este ou aquele fim; ou
então, que o que dele resta, aquilo que constitui o seu valor,
material ou espiritual, continua escondido mas, nesse caso, deve ter
sido vigiado ao longo dos séculos. De qualquer modo, a sua
acessibilidade é duvidosa.Por outro lado, há uma quarta razão para acreditarmos na transmissão de uma herança: com efeito, é verosímil que os dignitários da Ordem tenham sido prevenidos do golpe de mão de Filipe, o Belo. A nível local, alguns funcionários reais preveniram discretamente os membros da sua familia que pertenciam ao Templo. Seria espantoso que nenhum dos cavaleiros que foram advertidos não tivesse transmitido a informação. Aliás, nos dias que precederam a detenção, Jacques de Molay teria mandado que lhe trouxessem um grande número de livros da
Ordem e tê-los-ia queimado. Não esqueçamos também que a crise estava latente e que, pouco tempo antes, quase haviam conseguido obrigar os Templários e os Hospitalários a fundirem-se. Baigent refere’ que um «cavaleiro que se retirou do Templo, por esta época, soube pelo tesoureiro que era extremamente prudente, porque estava iminente uma crise».Isto poderia explicar que tenham sido confiscadas tão poucas coisas nas comendas templárias, depois da detenção. De qualquer modo, as razões para acreditarmos na possibilidade de uma transmissão são múltiplas. Convém, agora, seguirmos as suas pistas.O primeiro a dever ser referido é, evidentemente, a Ordem dos Hospitalários de São João de Jerusalém que, em seguida, viria a converter-se em Ordem de Malta. Foi ela que recebeu oficialmente os bens do Templo, em França, isto é, aqueles de que Filipe, o Belo, se não tinha apoderado. A maior parte das capelas ou comendas templárias
que ainda podemos ver passaram para as suas mãos e, aliás, muitas
vezes as renovaram extensamente. Dado isto, seria muito espantoso que tivessem recolhido também a herança espiritual e os diversos segredos do Templo.Outros herdeiros oficiais: as ordens da Península Ibérica. Em Portugal, os Templários foram absolvidos e o rei D. Dinis, o Lavrador,enviou ao papa João XXII, sucessor de Clemente V, dois emissários para negociarem o renascimento da Ordem do Templo. Obteve ganho de causa e a Ordem ressuscitou ou, pelo menos, os Templários puderam entrar para uma nova ordem criada para eles, a dos cavaleiros de Cristo.Recuperaram todos os seus bens e, daí em diante, obedeceram à mesma
regra monástica que os cavaleiros da Ordem de Calatrava. Continuaram a usar o manto branco com uma cruz vermelha. No entanto, uma pequena cruz branca vinha inscrever-se no coração da do Templo, sem dúvida para dar a entender que este renascia purificado. Os antigos dignitários do Templo conservaram a sua posição na Ordem assim reconstituída. O primeiro Grão-Mestre desta Ordem renovada, Gil Martins, foi investido a 15 de Março de 1319. Retomaram a luta contra os Mouros e, nessa atividade, conquistaram importantes territórios em África. Em breve dominaram as águas de Portugal e até mais além. Não
esqueçamos que foi sob o seu pavilhão que D. Henrique, o Navegador,iniciou os Descobrimentos.Em Espanha, o rei Jaime II de Aragão realizou uma operação semelhante com a criação da Ordem de Montesa. Alguns Templários não tinham esperado e já se haviam juntado às ordens de Calatrava, Alcântara e Santiago de Espada. Na Alemanha, os Templários fundiram-se geralmente na Ordem dos Cavaleiros Teutónicos. Em Itália, laicizaram-se nas fraternidades da Fede Santa à qual parece ter aderido, mais tarde, Dante Alighieri. No meio deste ramalhete, as mais interessantes são, sem a menor dúvida, as ordens dos cavaleiros de Cristo e de Montesa. Com efeito,constituíram entidades completas que acolhiam, ao mesmo tempo, os irmãos e os bens do Templo, incluindo um bom número de refugiados que haviam atravessado os Pirenéus. Entre todos esses homens, havia dignitários que deveriam conhecer uma boa parte dos segredos do Templo. Alguns destes foram, sem dúvida, escondidos na arquitectura misteriosa da fortaleza de Tomar, em Portugal. De qualquer modo, é notável que essas ordens tenham assumido o domínio dos mares e que as
suas armas tenham enfeitado os navios que partiram, nomeadamente, à conquista do Novo Mundo. Essa viagem às Américas faria parte da herança do Templo?
Por outro lado, é surpreendente verificarmos que os herdeiros
«oficiais» do Templo não parecem ter veiculado, por sua iniciativa,
ritos que poderiam ser alvo de suspeitas de heresia. Elementar
prudência, talvez, ou então ausência de domínio desses ritos. Isso reforça em nós a convicção de que os rituais seguidos pelos Templários já não eram compreendidos por estes, no último período da Ordem.


Os Templários de Napoleão - O imperador, para além dos vínculos particulares que possa ter tido com sociedades secretas, compreendera perfeitamente quão perigoso seria não ter em conta o jogo a que elas poderiam entregar-se, Tomara
a precaução de mandar colocar o seu próprio irmão à frente da francomaçonaria francesa e a maior parte dos seus generais aderir a ela. Nota: Ele próprio fora iniciado como mação, em Nápoles, quando da expedição ao Egipto. Mas facilitou também a acção de uma ordem que se dizia única herdeira legítima dos Templários. Assim, autorizou pessoalmente o doutorpedicuro Bernard Fabré-Palaprat a organizar uma cerimónia solene, em 1808, na igreja de Saint-Paul-Saint-Antoine, em memória de Jacques de Molay.
Fabré-Palaprat afirmava que a sua ordem era a única que podia dizer que descendia legitimamente e em linha directa dos Templários. Baseava-se num documento de transmissão datado de 1324. O abade Gregório afirmava tê-lo tido em mão e outros privilegiados haviam-no visto. Seria obra de um tal Jean-Marie Larménius que teria sucedido, na clandestinidade, a Jacques de Molay. Daí em diante, cada um dos Grão-Mestres que se tinham sucedido, na sombra, na chefia da Ordem, até à sua nova revelação no século XIX, ter-lhe-ia aposto a sua assinatura. A lista integrava nomes ilustres: Bertrand du Guesclin,Jean d'Armagnac, Robert de Lenoncourt, Henry de Montmorency, Filipe, duque de Orleães, Louis-Henri de Bourbon, príncipe de Condé, Louis-Henri Timoléon de Cossé-Brissac, entre outros. Uma tese bastante bem fundada afirmava que esse documento era falso e fora elaborado no
século XVIII, pelo jesuíta Bormani, a pedido de Filipe de Orleães.
Nesse caso, Fabré-Palaprat poderia muito bem ser sincero ao julgar-se depositário do Templo. Aliás, monsenhor Ivan Drouet de La Thibauderie d'Erlon escrevia, em 1762:De qualquer modo, é conhecido que o duque de Orleães foi eleito Grão-Mestre dos Templários que se reuniram a 11 de Abril de 1705, em
Versalhes, e que, a partir dessa data, podemos acompanhar a existência de uma fraternidade cavalheiresca, muito próxima dos movimentos iniciáticos e iluministas com os quais teve relações certas, embora descontínuas’.Na verdade, é difícil pronunciarmo-nos sobre este documento, cujo carácter apócrifo, como aliás a sua autenticidade, nunca foi claramente demonstrado.
Fabré-Palaprat, nascido a 29 de Maio de 1775, em Cordes, no Tarn, fora seminarista em Cahors e, em seguida, ordenado padre. Mas em breve abandonara a sotaina para se casar e se estabelecer como médico em Paris, em 1798. Não parece ter-se comportado como vigarista e, pelo contrário, teria acreditado na sua missão. Infelizmente, essa sinceridade não bastou para provar a filiação que é reivindicada pela sua Ordem Soberana e Militar do Templo de Jerusalém, que ainda existe. A ordem desenvolveu-se e internacionalizou-se. Abriu lojas, não só em Paris, mas também em Londres, Roma, Nápoles, Hamburgo, Lisboa, etc. O almirante Sidney Smith, vencedor de Bonaparte em São João de Acre,
quando se fixou em Paris, em 1814, pertenceu a ela. Mandou inclusive que o enterrassem no Père-Lachaise envolto no manto branco com a cruz vermelha da Ordem.Embora esta filiação nos pareça suspeita, não nos pronunciaremos sobre o assunto. Notamos apenas que se houve herança por esta via, não compreendia certamente os segredos da Ordem, ou então foram muitíssimo
bem guardados e não utilizados. Teria sido mesmo por vontade do próprio Jacques de Molay que a Ordem se teria estabelecido assim na clandestinidade. Esta vontade é também invocada por outra tradição.


Os Beaujeu e o ouro do Templo - Segundo um documento que pode datar-se aproximadamente de 1745:Os Templários que escaparam ao suplício abandonaram os seus bens e dispersaram-se, uns refugiaram-se na Escócia, outros retiraram-se para locais afastados e escondidos onde levaram uma vida de ermitas.O mesmo texto afirma que Jacques de Molay, inquieto com a direcção que
os acontecimentos estavam a tomar, na sequência das detenções, pensou em confiar uma missão a um homem de confiança. Alguns dias antes do seu suplício, teria, pois, mandado chamar o conde François de Beaujeu e ter-lhe-ia pedido que fosse aos túmulos dos Grão-Mestres. Aí, debaixo de um dos caixões, encontrava-se um cofre de cristal de forma triangular montado em prata. O jovem tinha a missão de se apoderar dele e de o trazer com urgência a Jacques de Molay, o que fez. O Grão-Mestre,agora certo de que poderia confiar nele, tê-lo-ia iniciado nos mistérios da Ordem, ordenando-lhe que a fizesse reviver e continuasse a sua obra. Teria revelado também que o cofre continha o indicador da mão direita de... São João Baptista. Depois, ter-lhe-ia entregue três chaves e revelado que o caixão sob o qual se encontrava escondido o cofre guardava uma caixa de prata bem como os anais e os segredos
codificados da Ordem, sem esquecer a coroa dos reis de Jerusalém, o candelabro dos sete braços e os quatro evangelistas de ouro que
ornamentavam o Santo Sepulcro. Esse sepulcro era precisamente o do Grão-Mestre precedente: Guillaume de Beaujeu.
Jacques de Molay confiou também ao seu jovem protegido que as duas colunas que ornavam o coro do Templo (algo que nos lembra Salomão), à entrada do túmulo dos Grão-Mestres, eram ocas. Os seus capitéis desmontavam-se e podiam assim retirar-se as colossais riquezas que aí haviam acumulado. Jacques de Molay fez jurar ao conde de Beaujeu que recolheria tudo e o conservaria para a Ordem, até ao fim do mundo. O conde certificou-se da fidelidade de nove cavaleiros que tinham conseguido escapar aos esbirros de Filipe, o Belo. Todos misturaram o seu sangue e fizeram o voto de «propagar a Ordem no globo até se encontrarem nove arquitectos perfeitos». Depois, o conde foi pedir ao rei autorização para retirar do túmulo dos Grão-Mestres o caixão do seu tio paterno, Guillaume de Beaujeu. Foi-lhe concedida e, então, retirou o caixão e o seu muito precioso conteúdo. Aproveitou para recuperar o conteúdo das colunas e, por certo, mandou transportar tudo para Chipre.
Em seguida, o conde de Beaujeu restabeleceu a Ordem mas instituiu novos ritos utilizando o emblema do Templo de Salomão e os«hieróglifos que com ele se relacionam». Após a morte do conde de Beaujeu, o testemunho fora recebido por d'Aumont, um dos Templários que se haviam refugiado na Escócia. De então para cá a Ordem nunca mais teria deixado de existir.

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