No sentido popular, considera-se o ocultismo um sistema de métodos ocultos, de práticas estranhas, através dos quais o homem pode alcançar poderes inexplicáveis que lhe possibilitem fazer ou realizar quase tudo que almeja. Tal concepção afirma que o ocultista pode testemunhar fenômenos que o mortal comum talvez nunca veja ou sinta. Por conseguinte, considera-se que o ocultismo inclui assuntos como magia, maravilhas, milagres e experiências estáticas religiosas, tais como a teofania e a epifania.
Contudo, à parte o ocultismo geral, tal como concebido pelo homem comum, existem as chamadas ciências ocultas e, como veremos, essas realmente abrangem aquelas matérias, aqueles objetivos do conhecimento que pertencem ao campo da ciência mas que. não obstante, eram — e muitos ainda o são — condenados igualmente pela religião e pela ciência ortodoxa ou mundana.
A religião temia a ciência oculta. A opinião geral era que o cientista-ocultista poderia, através de seus estudos e indagações, adquirir poderes que o tornariam dependente apenas de si próprio e, assim, independente dos decretos e dos dogmas da Igreja. Também se dizia que o cientista-ocultista interferia na esfera de Deus, invadindo a jurisdição da Divindade, tentando investigar assuntos que não se destinavam à compreensão do homem e, portanto, o ocultista na verdade era um ofensor do Divino.
A ciência ortodoxa, durante muitas décadas — aliás, séculos — esteve presa à tradição, obrigada a cumprir o que fora estabelecido como um ditado, obrigada a não desviar-se dos seus costumes e práticas tradicionais. O cientista-ocultista não estava assim limitado e, portanto, a ciência mundana manifestava um preconceito para com ele, considerando-o não-ético. Em meio a esse preconceito havia inveja, porque o cientista-ocultista estava progredindo e seus ensinamentos se tornavam reconhecidos, competindo com a ciência mundana pelo agrado e aceitação populares. As chamadas ciências ocultas (isto pode parecer estranho a muitos leitores, mas é verdade) incluíam não só os assuntos em geral considerados pertencentes ao oculto, como também numerosos outros agora reconhecidos pela ciência em geral. Assim , as ciências ocultas incluíam não só a astrologia como também aspectos que eram claramente de astronomia. Incluíam não só a alquimia, como também, aquilo que era puramente medicina e que como tal é reconhecido hoje em dia.
Tomemos o exemplo de Galileu, agora reconhecido como notável cientista e que, na sua época, também era um cientista-ocultista. Grande astrônomo e matemático do século XVI, Galileu chamou atenção, pela primeira vez, quando refutou uma das teorias fundamentais de Aristóteles. A primitiva Igreja cristã, séculos atrás, descobriu que não podia rejeitar e recusar por completo o reconhecimento da ciência, porque uma onda de racionalismo estava arrastando a Humanidade. A ciência estava impressionando as massas. E, assim, a Igreja sentiu a necessidade de aceitar a ciência; voltou-se para as doutrinas de Aristóteles, reconhecido como o ponto culminante do conhecimento científico, do conhecimento de coisas mundanas que tratavam das leis da Natureza àquela época, e declarou que o homem não devia ultrapassar o ponto chegado pelas realizações de Aristóteles. Ele era a última palavra em ciência.
Galileu refutou a teoria de Aristóteles de que os corpos caem no espaço numa velocidade proporcional ao seu peso. Em suas experiências, Galileu lançou vários objetos da torre inclinada de Pisa e provou que Aristóteles estava errado. Além disso, construiu longos planos inclinados pelos quais fez rolar objetos de pesos diferentes e dessa experimentação desenvolveu a doutrina da inércia, agora incorporada às leis da Física. Isso foi um desafio às teorias científicas aprovadas pela Igreja.
Seu grande passo seguinte foi o melhoramento do telescópio. Galileu desenvolveu um instrumento capaz de aumentar trinta e cinco vezes mais que os toscos instrumentos então existentes. Mas sua descoberta extraordinária, e que o fez entrar em séria controvérsia com a Igreja, ocorre.u quando Galileu voltou seu telescópio para o céu e contemplou os fenômenos celestes, passando a fazer descobertas astronômicas, tais como as luas de Júpiter. Surgiu, então, com a corroboração categórica da cosmologia de Copérnico.
Copérnico, que vivera um século antes de Galileu, afirmara que o universo era esférico e que o Sol, não a Terra, era o centro do nosso universo imediato. A divulgação dessa doutrina por Galileu causou consternação nos círculos teológicos porque, se fosse verdade que a Terra não era o centro do universo, como a Igreja ensinara e acreditava, então o homem não seria o ser principal que consideravam ser. Ele talvez não fosse a maior realização do Divino e não seria o único agente dotado de alma, pois se houvesse outros corpos celestes maiores que a Terra, então, também, poderia haver neles inteligências muito superiores ao homem em capacidades e, possivelmente, dotadas, também, de poderes Divinos maiores.
Assim, Galileu foi obrigado a comparecer perante um conselho teológico formado dos maiores dignitários da Igreja que o obrigaram a não ensinar, não escrever a respeito e nem apoiar as doutrinas de Copérnico, apesar do fato de poder demonstrá-las através de seu telescópio. Ao que tudo faz crer, Galileu concordou, mas ao retornar a casa, escreveu um livro intitulado Sistemas do Mundo, o qual tratava de teorias cosmológicas e, na verdade, continha uma apresentação mal disfarçada da teoria de Copérnico. Quando o livro começou a circular, Galileu foi acusado de propagar doutrinas heréticas e chamado perante a Inquisição. A história eclesiástica diz que ele se "retratou". Não obstante, suas descobertas, suas opiniões, propagaram-se rapidamente e constituíram uma doutrina oculta em oposição aos conceitos científicos da religião.
Existe, ainda, o exemplo de outro cientista-ocultista. Foi Paracelso, nascido em 1493. Paracelso foi vítima, não dos preconceitos da religião, mas dos da ciência mundana. Seu nome verdadeiro era Aureolo Filipo Teofrasto Bombasto von Hohenheim. Era filho de um médico pobre, mas de nascimento nobre. Também Paracelso queria ser médico e foi estudar artes em Viena e concluir o estudo de Medicina numa renomada universidade na Itália. Contudo, após terminar seus estudos de Medicina, mostrava-se cada vez mais insatisfeito, porque os professores ou não podiam responder às suas perguntas ou recorriam continuamente aos compêndios, cujas respostas já não satisfaziam Paracelso.
Seu pai lhe ensinara a ver a Natureza através dos seus próprios olhos; não rebuscar o funcionamento dai suas leis, apenas nas páginas dos compêndios, mas encarar a Natureza como ela é. Assim, abandonou a universidade e iniciou uma viagem — uma viagem de grande descoberta.
Percorreu o mundo. Visitou os países do Levante, o Egito, Jerusalém, a Mesopotâmia, que chamamos agora de Iraque, as ilhas do mar Egeu e os principais países da Europa. Aonde quer que fosse estudava diretamente as doenças, tais como se manifestavam na carne, e não como relatadas em compêndios. Mas diz-se que, enquanto fazia essas observações médicas, meditava demorada-mente sobre a relação mística do homem com Deus. Contemplava a vida e os mistérios do nascimento e da morte e as razões da existência do homem e o provável curso da vida humana. O resultado das suas investigações e meditações foi o desenvolvimento de grandes e novas teorias sobre o tratamento de doenças e a aplicação de novos remédios, e Paracelso não hesitava em expressar-se vigorosamente em favor das suas convicções. Era igualmente corajoso em condenar a imprevidência da ciência médica da sua época.
Suas curas fenomenais atraíram a atenção do público e, por aclamação pública, foi nomeado médico-chefe da cidade de Basiléia, na Suíça. Esta cidade era, na época, um grande centro rosacruz de aprendizado, o qual incluía uma grande universidade rosacruz — a antepassada das universidades Rose-Croix francesas e americanas. Tive o privilégio de visitar essa universidade, de percorrer seus salões e antigas salas de aula. Ela não é mais uma universidade e, sim, um monumento aos rosacruzes. Paracelso falava às turmas de diplomandos e mesmo lecionou a algumas delas, inculcando na consciência dos jovens médicos a necessidade de uma opinião liberal, a necessidade de serem investigadores individuais e desbravadores, e fazer da própria Natureza seu principal laboratório.
Durante essa época, o próprio Paracelso publicou um livro que se tornou o primeiro compêndio sobre as doenças dos mineiros. Foi o primeiro livro até então publicado sobre doenças ocupacionais; isto é, doenças contraídas pelos homens em decorrência do seu trabalho. Todas essas inovações resultaram na sua condenação, pelos médicos do seu tempo, devido a inveja e medo e por diversas outras razões. A inimizade tomou a forma de intrigas para envolvê-lo e desacreditá-lo, o que acabou por acontecer. Foi desafiado com a pergunta: Quem lhe ensina suas teorias e práticas médicas? Paracelso respondeu: Quem ensina a grama e a folhagem a serem verdes? Queria dizer, com isto, que recebia seu conhecimento diretamente do estudo da Natureza, tal como a grama e a folhagem recebem seus poderes e qualidades funcionais da Natureza.
Não obstante, foi ridicularizado a tal ponto que um dos seus nomes (Bombasto) tornou-se um opróbrio, um sinônimo de declarações exageradas, ou seja, bombásticas. Entretanto, há apenas alguns anos, numa grande convenção, as Associações Médicas prestaram tributo a Paracelso, não só reconhecendo-o como grande médico, mas também como pioneiro do progresso da ciência médica. Hoje existem livros contendo o que se conhece como as Sete Defesas de Paracelso, sua grande, lógica e justa defesa do que estava fazendo. Se essas coisas tivessem sido publicadas ou divulgadas décadas, séculos antes, ele não teria sido desprezado durante todos esses anos; mas foram escamoteadas, de modo a aumentar ainda mais o preconceito da opinião pública e, também, porque era, então, considerado um cientista-ocultista.
A ciência física ou, se preferir, a ciência material, começa sua observação e aceitação da realidade das coisas do nosso mundo pelo uso dos sentidos normais — nossas faculdades objetivas, como a visão, audição etc. A ciência física satisfaz-se em aumentar os sentidos normais do homem apenas com instrumentos como o telescópio, o microscópio e outros. Ela rejeita todos os objetos supostos ou reais de conhecimento que não sejam percebidos através daqueles meios.
Por outro lado, o verdadeiro ocultismo abrange as funções psíquicas do homem, os poderes e capacidades psíquicos que o homem possui. O ocultismo afirma que a função das emoções, dos sentimentos e da melancolia humanos, não pode ser explicada pela sua relação orgânica, como um processo puramente mecânico ou material. O ocultismo afirma que o homem tem poderes que são subliminares, que estão além do nível da sua consciência normal, dos quais não está comumente consciente e que são parte do seu ser, tal como a visão, a audição ou seu poder de falar. E o ocultismo afirma, ainda, que quaisquer que possam ser as realizações mundanas do homem, o resultado do exercício dos seus poderes objetivos materiais, elas podem ser grandemente ampliadas se recorrer ao uso daquelas faculdades interiores desconhecidas e que existem para seu uso.
Há séculos o ocultismo ensina que o homem é hiper-sensível; isto é, ele pode reagir e responder a forças e energias do universo às quais os órgãos mais toscos dos seus sentidos físicos não respondem. O ocultismo também ensinava que a comunicação telepática não só era uma possibilidade como também um fato, que os homens podiam comunicar idéias uns aos outros sem meios materiais e sem fazer uso da fala. Isto, naturalmente, era visto com hilaridade pela ciência mundana e usado como um exemplo das concepções fantásticas do ocultista. Mas o que temos hoje em dia? A telepatia, revestida de nova terminologia, é objeto de investigação científica. Ela é chamada de percepção extra-sensorial e para-psicologia. E significa que a ciência está investigando o fato de que o homem tem um sentido extra, além dos cinco sentidos comuns pelos quais pode perceber o mundo.
A aura humana, como uma radiação magnética de alta freqüência do corpo humano, era chamada de pseudo-ciência, de sonho ocultista. Atualmente, o fato de que o corpo humano realmente irradia energia é aceito cientificamente. Essa energia foi medida; sabe-se que ela tem uma potencialidade e é agora objeto de novas investigações científicas.
A terapia da cor, assunto há muito investigado pelo ocultismo — ou seja, que a cor afeta as emoções humanas e desempenha uma função definida com relação a nessa saúde, com nossos estados de espírito e nossas emoções — era anunciada pelo cientista mundano como outro absurdo do ocultista. Hoje, a terapia da cor está em processo de experiência de laboratório, é um ramo da investigação psicológica feita pela ciência médica. Reconhece-se que as cores das nossas roupas, as cores do nosso ambiente, das paredes e móveis da nossa casa e da iluminação, realmente, nos afetam física e mentalmente. O cientista-ocultista está novamente justificado!
Contrário ao falso conceito popular, o verdadeiro ocultismo não procura ocultar o conhecimento, torná-lo secreto, ou estranho ou misterioso. Em vez disso, o ocultismo interessa-se em procurar revelar o desconhecido e desvendar o misterioso, e se está associado a coisas secretas, é somente para trazê-las à luz. O ocultismo também não é, necessariamente, uma parte da religião, nem tampouco um elemento do pensamento místico. O ocultismo pode tornar-se parte da religião, mas não é religião. Muitas religiões orientais incluem o ocultismo, tem-no, ademais, introduzido em seus sistemas; porém, isso não transforma o ocultismo numa doutrina religiosa, pois religião alguma inclui o ocultismo, a menos que, em seu credo ou sistema, ela- se dedique a uma investigação dos fenômenos psicológicos da natureza do homem e à aquisição de autoconhecimento.
O sikhismo é um exemplo de uma das religiões orientais que incorporou o ocultismo. Ele procura harmonizai duas grandes religiões orientais hostis uma à outra, a saber, o maometismo e o hinduísmo. O maometismo é monoteísta; reconhece um só Deus — esse Deus é conhecido pelo nome arábico de Alá. O hinduísmo, por outro lado, é um misticismo panteísta; isto é, afirma que existe um Deus como uma força e um espírito que não existe em um só ser, mas que penetra todas as coisas e é parte de tudo, agindo em e através de tudo. Vemos que essas duas religiões estão em extremos opostos.
Nanak, o fundador do sikhismo, nasceu em 1469 d.C. Quando menino, discutia com seus professores maometanos, contestando alguns dos princípios que ensinavam. Quando jovem, em lugar de entrar na vida comercial do seu tempo, diz-se que preferia a meditação e passava muito tempo passeando pela floresta. Conta-se que certa ocasião teve uma grande visão na qual Deus lhe apareceu; foi aconselhado pela Divindade a repetir o nome de Deus com freqüência, e ele partiu, declarando dedicar sua vida a um elevado propósito, mas, apesar de tudo, ficou perplexo com a experiência. Algum tempo depois, quando meditava sobre a visão que tivera, veio-lhe, como experiência estática, uma mensagem de Deus que é agora um dos preceitos fundamentais do sikhismo. Era o de que não existe nenhum deus maometano, nenhum hindu, mas apenas um único Deus verdadeiro.
No Granath, a Bíblia Sikh, escrita na maior parte em sânscrito, afirma-se que Deus é um poder, uma força que penetra todas as coisas. Nesse sentido, o sikhismo se inclina para o hinduísmo. Mas também está dito que a Divindade será chamada de Sat Nam, o Deus verdadeiro, e Ele será sem nome. Ele não será chamado Brama ou Alá, mas apenas o Deus verdadeiro. O homem não deve presumir que O conhece pelo nome. Também está dito que o mundo, tal como o percebemos objetivamente, é uma ilusão, que não podemos conhecer verdadeiramente a natureza do mundo e, portanto, que o conhecimento terreno é fugidio e inseguro. O único verdadeiro conhecimento consiste em conhecer a Deus, em ser absorvido na Consciência Divina que, podemos dizer, equivale a alcançar um estado de Consciência Cósmica. Certamente foi aqui que o sikhismo tomou emprestado o ocultismo, pois afirma que existem certas práticas psíquicas às quais o indivíduo, o devoto, tem de recorrer antes que possa alcançar aquela absorção na Consciência de Deus. Essas práticas psíquicas são leis ocultas, em geral não conhecidas ou percebidas pela maioria, e o devoto tem de aprender essas coisas. Os mestres sikh, conhecidos como gurus, é que as ensinam.
Como dissemos, o ocultismo é freqüentemente confundido com magia, e para melhor compreender nosso caminho é aconselhável que o diferenciemos da magia. A magia confirma e requer uma crença em agentes independentes, entidades que existem no universo. Segundo a magia, essas entidades são inteligências invisíveis, capazes de exercer determinadas influências. Afirma-se que algumas delas são influências benéficas; outras, maléficas. Dizem que elas residem em coisas animadas e inanimadas — isto é, coisas vivas — e pedra e grãos de areia têm essas propriedades ou qualidades mágicas.
Essas inteligências mágicas não têm nenhuma unidade de propósito. Cada uma exerce seus poderes teúrgicos arbitrariamente, conforme os caprichos e fantasias atribuídas a esse ou àquele elemento mágico. Por conseguinte, afirma-se que os seres humanos estão à mercê, desses poderes, e que o infeliz que acredita neles é constantemente obrigado a invocar um processo mágico contra outro, para contrabalançar essas forças que ele acredita existirem, a fim de que possa gozar paz de espírito. Mas o que dizer do ocultismo? O ocultismo afirma que só existe um sistema de leis em todo o universo, uma grande inteligência governante, e que todas elas funcionam construtiva e criativamente. O homem não está à mercê dessas leis a menos que lhe dê as costas — que se recuse a reconhecê-las.
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