Porém, há algo de esotérico nesse personagem bizarro? Qual sua origem, em que se baseiam suas traquinagens? Há algo de esotérico, de simbólico nele? A sabedoria gnóstica explica isso maravilhosamente.
O bobo da corte tem uma origem dentro da sabedoria súfi. Os mestres súfis, ao acompanhar os movimentos islâmicos na Ibéria e também nas épocas conturbadas das Cruzadas, trouxeram várias tradições esotéricas que se incorporaram ao folclore europeu.
Vemos por exemplo as danças rodopiantes na Escócia, as Valsas, a tradição dos Trovadores (palavra que significa Buscador, ou seja, aqueles que ensinavam a Sabedoria Superior por meio da música e dos contos-de-fada de feudo em feudo, de castelo em castelo), e também o bobo da corte.
O bobo da corte – representado no baralho como o Curinga, o que pode alterar o jogo radicalmente – tinha como função imitar as atitudes e os gestos (corporais, faciais etc.) de todos, contava histórias que não tinham “nem pé nem cabeça”, porém seu significado oculto era sempre o de fazer com que todos refletissem. Refletir sobre o quê? Sobre a incongruência, a subjetividade, do ser humano.
Suas atitudes dúbias, conflitivas, que numa hora o levam a uma direção, noutra o conduzem a uma direção totalmente diferente, muitas vezes até em sentido contrário. Essa é a finalidade essencial, primitiva, dos Ensinamentos do bobo da corte. Levar uma sabedoria psicológica por meio do riso, das alegorias subjetivas, das pantomimas, do hilário.
Que tal despertarmos nosso bobo da corte interior? Ou seja, despertar aquela faculdade da Consciência que vigia as manifestações do Ego? Que não permite que desenvolvamos o defeito da auto-importância, da auto-consideração, do amor-próprio??? Claro, sem perdermos o sentido cósmico do autorrespeito!
O bobo da corte era uma figura real comum na época de Shakespeare. A rainha Elizabeth, por exemplo, costumava mantê-los em sua corte. Usado tanto nas comédias quanto nas tragédias, os bobos mais relevantes de Shakespeare são o da corte do Rei Lear (que funciona como um alter-ego, um espelho, do próprio Lear), o bobo profissional de Timão de Atenas (em torno do qual se desenvolve uma espécie de subtrama).
Muitas pessoas, a maioria de nós infelizmente, ri dos bobos da corte, sem compreender que estão rindo de si mesmas. As situações ridículas e incongruentes são delas mesmas. E o bobo da corte queria, na verdade, que esse público compreendesse que nós é que somos os bobos, que nossa vida é cheia de esquisitices, de multiplicidades psicológicas, de diabruras mentais, de conflitos. Se essa situação não fosse lamentável, deveríamos rir de nós mesmos.
Vemos essa mesma situação de ensinamento esotérico, psicológico, nas obras do grande mestre William Shakespeare. Suas peças são de fundo didático. Ali vemos os conflitos, as desgraças, os desequilíbrios, as fatalidades a que somos levados em nossas pobres vidas de gente inconsciente e hipnotizada. Assim como os bobos da corte, Shakespeare nos faz ver a nós mesmos em cada personagem de sua vasta e maravilhosa obra.
Ah, um lembrete: a palavra Shakespeare é uma corruptela de duas palavras iniciáticas do Sufismo: “Sheik” e “Pyr”, Mestre e Guia. Shakespeare é a encarnação do grande Mestre da Luz conhecido por todos como Conde de Saint Germain.
Um exemplo clássico da linguagem simbólica do auto-desprezo e da ridicularização do próprio Ego são os ensinamentos do grande mestre súfi Nasruddin. Há controvérsias sobre se ele realmente existiu ou não. Muitos pesquisadores dizem que ele foi na verdade um personagem criado para centralizar os ensinamentos psicológicos de muitos mestres súfis.
Mas, isso não importa. O que vale é que recomendamos ao leitor buscar os livros do mestre Nasruddin e beber dessa fonte límpida. Claro que muitas histórias não deixam de ser engraçadas. Vale a pena rir um pouco, vale a pena rir de nós mesmos. Em seguida, damos um exemplo de duas história contadas pelo mestre Nasruddin. Ria e reflita.
Porém, o personagem mais pertubador não só do último filme de Batman, “O Cavaleiro das Trevas“, mas de toda a mitologia do herói é o vilão Coringa, estupendamente representado pelo falecido ator Heath Ledger. O Coringa representa tudo aquilo que não pode ser controlado, que não pode ser comprado, que não pode ser convencido. Ele é a personificação do mais puro caos, em sua pior forma: a destruição, seja ela de idéias, sonhos, ou apenas construções materiais. Ele não tem motivos racionais, não busca fama, não busca poder, não busca dinheiro ou controle. Ele apenas quer ver o mundo pegar fogo. Ele quer provar que nada é como parece, e que não existe algo como “pessoas inocentes” ou “ideais puros”. A moralidade é uma máscara muito fácil de ser destruída. O Coringa não é apenas perigoso pela destruição e caos que pode proporcionar, mas pelo simples fato que ele ameaça tudo aquilo que Batman representa: justiça, esperança, compaixão. Ele é o único personagem que pode mostrar ao Batman àquilo que ele não quer encarar: o seu próprio lado sombrio e perigoso. É por isso que os dois personagens são tão parecidos. São inteligentes, bons no que fazem, e não há nada de lógico por trás de todos os seus esforços. Observe que Batman também não procura fama, dinheiro, poder ou controle. Ele também não pode ser convencido. É por isso que ambos são tão perigosos, no caso do herói, a sua periculosidade é apenas potencial.
É por isso que Batman é um personagem tão fascinante, e ao mesmo tempo tão comum, a ponto de ser realmente possível a existência de um herói como ele. O que o diferencia de seus inimigos é apenas um apego a um ideal mais elevado.
E não é assim em nossas vidas?
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